arthurzito 09/01/2024Este foi o livro que escolhi para representar o Afeganistão. A escolha foi óbvia, uma vez que Khaled Hosseini é um autor consagrado e o livro recebeu excelentes recomendações. Ele cumpriu de maneira excepcional o propósito de retratar parte da história contemporânea do Afeganistão. A trama segue a vida de Amir e seu melhor amigo, Hassan, e divide o livro em três partes distintas: a infância, a traição/fuga e a redenção.
Amir, filho de um próspero homem de negócios afegão, é órfão de mãe, mas de certa forma, também se sente órfão de pai. A relação entre os dois é distante e carente de afeto. Parece que o pai culpa Amir pela morte da mãe durante o parto. Hassan, por outro lado, é filho do melhor amigo do pai de Amir e também seu empregado. Ambos são Hazaras, uma minoria com ascendência mongol, frequentemente vista com desdém. Embora tecnicamente Amir e Hassan sejam amigos, a dinâmica é complexa. Hassan e seu pai são empregados, o que cria uma relação empregatícia real e intensa.
A infância dos dois é profundamente marcada por essa relação ambígua. Enquanto Hassan é tratado como um filho pelo pai de Amir, Amir é negligenciado. Apesar de gostar de Hassan, Amir não consegue evitar sentir inveja e tratá-lo de maneira diferente. Isso culmina na traição, pois, por ser hazara, Hassan é perseguido e motivado a agradar o pai de Amir, em um determinado momento, ele encara uma escolha difícil. Agora, ele já tem uns 10, 11 anos; acredito que ele tem senso de certo e errado, de moral e de ética. Não há nada que me faça acreditar que a escolha que ele fez pode ser suprimida dele só porque ele tem uma relação estranha com o pai. Concordo que Amir cresceu num ambiente tóxico e que ele quer ter o pai presente, mas isso não justifica suas ações. Ele segue no erro, fazendo com que Hassan e seu pai vão embora sob acusação de roubo. Essa ação tem consequências diretas na vida deles, já que, após a guerra civil, Amir e seu pai vão para os EUA a salvo, enquanto Hassan e seu pai ficam no Afeganistão para morrer.
Ao entrarmos na terceira parte, o autor tenta com mais afinco criar uma atmosfera de redenção para Amir, mas é visível que Amir não quer isso. Ele toma todas as decisões erradas, se recusa a salvar o filho de Hassan e a levá-lo para os EUA. Esse atraso na mentalidade dele é importante para a tentativa de suicídio que o filho de Hassan passa.
Não gosto de Amir e não gosto da tentativa de redenção que o autor deu para a história, mas a leitura é ótima, muito fluida e envolvente. Fico com raiva disso, porque não queria gostar, mas o livro é bom.