Francine 07/05/2016Mas o céu? Ah, o céu é logo ali... Está ao alcance das nossas escolhas.Tive o prazer de ler O Céu é Logo Ali depois de ter o blog acolhido como parceiro da Lilian Farias. Já acompanhava o belo trabalho que a autora desenvolvia na defesa das minorias e, especialmente, das mulheres. Depois da leitura só posso dizer que, mesmo com minhas altas expectativas, a narrativa dela conseguiu me encantar desde as primeiras páginas!
Poético, irreverente, provocativo, dialógico e inédito... É assim que defino O Céu é Logo Ali. O primeiro diferencial a ser destacado é o estilo narrativo. Conhecido como fluxo de consciência, a técnica adotada pela autora envolve desnudar a subjetividade dos seus personagens incluindo nas entrelinhas suas próprias impressões pessoais. Eu gostei muito de ampliar meu ponto de vista sobre os fatos a partir do agradável diálogo da autora com seus leitores.
Mas qual é a história que encontramos n'O Céu é Logo Ali? Várias. A minha, a sua, a de todas as mulheres que já sonharam encontrar a felicidade. Conhecemos duas principais protagonistas: Dolores e Clarice. Ambas são tão diferentes uma da outra e, ao mesmo tempo, tão parecidas.
Dolores muito sofreu e pouco viveu. Não pôde aproveitar sua juventude, tampouco experimentar o doce sabor das paixões passageiras. Sozinha no mundo, precisou trabalhar desde cedo e recusar ao coração a alegria de sonhar. Dolores se sente presa, sufocada, talvez perdida... Ela nunca se permitiu fugir das responsabilidades ou do recato. Mas segue em frente, como todos fazemos quando não se pode sequer voltar. Podemos dizer que Dolores não se descobriu mulher.
Por outro lado, temos Clarice. Ah, doce Clarice. Bela, vivaz, sedutora e feliz Clarice. Uma jovem que, diferente de Dolores, se descobriu mulher muito antes de sê-lo. Descobriu os prazeres da vida e deles não se privava. Um olhar, um sorriso, e todos se cativavam. Sendo tão perfeita, não se permitia pertencer a ninguém. O problema? Numa vida sem grandes quedas, faltam também grandes profundidades. Clarice, tão querida e amada, era rasa. E quem poderia condená-la?
O livro não apresenta apenas Dolores e Clarice, mas outras mulheres e seus relacionamentos. Cada uma delas está numa fase peculiar, descobrindo-se em sua identidade. Lilian Farias não se contém em lhes impor dificuldades, mas a vida naturalmente também não o faz. Sentimos que tudo é possível durante a leitura.
A mensagem de O Céu é Logo Ali me tocou profundamente. Senti-me na pele de seus personagens. Vi-me presa em mim mesma, depois libertei-me de minhas próprias amarras. Não soube o que fazer com tamanha liberdade. Então, recuei. Abusei da beleza, achei que a vida estava ganha. Amei sob as estrelas e fui amada. Depois chorei. O coração partido pareceu-me insolúvel. Descobri, enfim, que nunca fui uma borboleta. Mas o céu? Ah, o céu é logo ali... Está ao alcance das nossas escolhas.
Como fragilidade aponto o que também se faz uma potencialidade: o excesso de poesia. A mesma linguagem poética que me fez encantar pela narrativa, também deixou aos leitores algumas lacunas. Entendo que a autora, experiente literata, não fez nada impensado. Considero que cada lacuna foi previamente planejada e, com liberdade poética, a autora não se prendeu à tradicional verossimilhança que esperamos da literatura. Infelizmente, a revisão apresentou falhas, o que não influencia a boa leitura e tampouco minha avaliação.
É uma excelente obra que recomendo para leitores sensíveis, capazes de se entregar às entrelinhas e ver seu próprio reflexo na humanidade de cada personagem.
Resenha postada no blog My Queen Side:
site:
http://www.myqueenside.com.br/2016/05/resenha-145-o-ceu-e-logo-ali.html