Lê Golz 29/11/2015Muito bom!Maly é o livro de estreia de Léa Michaan, publicado pela Primavera Editorial. A capa me chamou atenção pelos detalhes, e ao ler a sinopse imaginei que o livro tinha tudo para me agradar.
Ao contrário do que imaginei, Maly é um livro que não foca apenas na personagem principal, mas também abre um enorme espaço para Pietro. Para entendermos os anseios de cada personagem no presente, é preciso contar seu passado, e entender como cada um deles chegou a sua atual situação. Enquanto Maly perdeu toda sua família e tende a enfrentar as pequenas batalhas que a vida de orfã trará, Pietro é adotado por uma família de italianos após o sumiço de seus pais biológicos. A forma com que a autora relata essas duas vidas, que aparentemente têm pouco em comum, nos remete até a pensarmos em nós mesmos e qual foi a história de nossos antepassados até o nosso nascimento. Para isso, em grande parte do livro, a autora nos apresenta toda a história desde seus bisavós até seus pais. As histórias dos personagens irão se juntar de uma maneira surpreendente.
"Assim, uma olha para outra se esquecendo de si mesma, a única lembrança vem dos olhos, onde uma reflete a imagem da outra. Essa observação mútua transforma o encontro em um lugar único, aconchegante, tão quentinho e tão gostoso que não dá vontade de sair dele." (p. 24)
A escrita da autora é leve e fluída, e facilmente avançamos as páginas. Com uma narrativa em terceira pessoa, o livro é dividido em duas partes - uma com o foco na história de Maly, outra de Pietro. O enredo tem tudo para agradar quando acompanhamos a perda de Maly e tudo que irá acontecer desde então, além claro, de seu amadurecimento. Entendi que o foco do livro era reviver o passado dos personagens, mas o que talvez tenha atrapalhado a leitura em alguns momentos foi descrições mais longas sobre a vida de personagens secundários. A sensação era que muitas coisas não precisavam ter sido narradas, que a história poderia continuar boa sem elas. Contrário a isso, muitas coisas que poderiam ter sido melhor trabalhadas, não foram.
Porém, o livro é uma doçura e muito inspirador. Difícil não se comover principalmente com a história de Maly, que tão pequena se viu obrigada a enfrentar o mundo. Por vezes, quis pegar Maly no colo e poder ajudá-la. Como os personagens são de descendência judia, a autora ainda entrelaça as histórias com o período da Segunda Guerra Mundial e faz menção aos campos de concentração, enriquecendo ainda mais a obra.
"As pessoas são muito engraçadas, se não recebem reconhecimento, sentem-se injustiçadas, se recebem, não se sentem merecedoras. Vai entender esta cabeça de gente!" (p. 266)
O trabalho gráfico como sempre está muito bem trabalhado. A capa como já mencionei, é muito linda e combina com o enredo. A revisão também está ótima.
Com essa leitura podemos refletir como apenas um instante pode mudar toda nossa vida, assim como de toda uma geração. Essa obra, na verdade, foi baseada na experiência da autora como profissional na área da psicologia, que trabalhou seus personagens de acordo com tudo que já observou no ser humano. Recomendo para quem curte ler sobre relações familiares, dores, perdas, e superação. A autora mesclou cada detalhe do passado e presente muito bem, e irá agradar os leitores que gostam desses temas. Muito bom!
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