O jogador

O jogador Fiódor Dostoiévski




Resenhas - O Jogador


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Fran Kotipelto 31/03/2011

Oh yes, we'll keep on trying...

Viver, é sem dúvida nenhuma o maior desafio que enfrentamos, e nessa vida tão atribulada, alguns têm maior facilidade em certos aspectos,outros extrema dificuldade. Mas como não existe atemporalidade,o senhor tempo vai continuar seguindo seu curso, e levando com ele vida, sonho, desejo, promessa, amor, dor, decepção, e centenas de milhares de coisas,certo?.Não,não,não,permita-me decepcioná-lo um pouquinho,acabando com sua alegria de pensar que estava entendendo o que eu disse (a não ser que você realmente pense assim, é claro).Mas o engano é evidente,livremos o tempo de tanta carga de responsabilidade, afinal, ele não existe, fomos nós que o inventamos, com nossa mania de estipular e determinar conceitos para tudo. Até para algo que NÃO existe. Sabe o que precisamos fazer em nossas vidas ao invés de ficar alegando frases como "o tempo cura tudo","o tempo vai dizer",e coisas do tipo? Precisamos APOSTAR mais.

Eu sei que o pensamento de vocês no momento deve ser algo como "mas que diabos isso tem a ver com o livro do Dostoiévski"? ou "O Jogador é do Dostoiévski ou do Augusto Cury"? Mas na verdade,é quase impossível falar desse sujeito barbudo sem satirizar um pouco a maneira de se encarar o cotidiano.E antes de passar uns dados sobre o livro, devo avisar que será necessário ou ficaria melhor acompanhá-lo ouvindo "Innuendo" do Queen.

"O Jogador" narra a história de Aléxis Ivanovitch, um preceptor que trabalha em um hotel para um general,Aléxis é visto como palpiteiro e inconveniente apenas por permanecer fiel às suas próprias convicções e não concordar com as opiniões mesquinhas da alta sociedade com a qual precisa conviver. Assíduo freqüentador dos cassinos locais, ele cria seus métodos e cálculos no intuito de fazer fortuna na roleta. Não "apenas" para isso, mas também para ter o prazer de quebrar a banca, de fazer com que todos os que o desdenharam passem a cortejá-lo, nem que seja só enquanto durar seu dinheiro. Costuma jogar com certa parcimônia e algum senso de responsabilidade, evitando riscos desnecessários sempre que possível, principalmente quando joga a pedido de Polina Aleksandróvna, sua musa inspiradora,que dessa vez pede que ele jogue na Roleta pois necessitava urgentemente de dinheiro, porém escapa-se de contar qualquer tipo de pormenores. Aleksei, analisando a presença no Hotel de dois franceses matreiros, Des Grieux e Mlle. Blanche, desconfia que o general e a sua enteada Polina têm uma enorme dívida para com os franceses.Claro que isso não dura muito tempo, pois logo ele perde o bom senso, mais especificamente numa insólita noite em que Polina dá a entender que precisa desesperadamente de dinheiro. Aléxis, então, não perde tempo: vai até o cassino e, em menos de uma hora, quebra a banca tal como sempre desejara,porém...

"O Jogador" é um livro estupendo onde Dostoiévski destila rapidamente e magistralmente toda sua genialidade, ironizando o homem e suas limitações, suas paixões, seus medos, seus desejos, e sem dúvida nenhuma suas apostas, não só em relação ao jogo, mas à vida e as tentativas, porque "Oh sim nós continuaremos tentando","Através de toda mágoa, através do nosso esplendor!"
Jow 31/03/2011minha estante
Dostoiévski é um gênio na arte de críticar as esferas sociais, os costumes humanos, e as mentalidades políticas.
Vc Fran, é gênial nas resenhas que escreve!


Alan Ventura 01/04/2011minha estante
"Sabe o que precisamos fazer em nossas vidas ao invés de ficar alegando frases como "o tempo cura tudo",'o tempo vai dizer',e coisas do tipo? Precisamos APOSTAR mais." Magnífico.


Luh Costa 01/04/2011minha estante
Tenho esse livro mas ainda não o li pois são tantos livros inéditos que O Jogador acabou ficando meio que "de lado". Depois de sua magnifica resenha me deu vontade de pegar meu livro e começar a me deliciar com sua história.


Matheus 17/09/2011minha estante
Ótima resenha! (: Acabei de ler, e como a Luh Costa também tirei ele da estante haha


Sirley 29/11/2012minha estante
gostei tb da resenha. fiquei a fim de ler!


Matheus 04/01/2013minha estante
Adorei a resenha, comecei a ler o livro hoje e estou gostando bastante. A dica de acompanhá-lo ouvindo "Innuendo" do Queen não poderia ser mais precisa, o álbum é maravilhoso e tem a cara do livro.


Renata CCS 12/03/2013minha estante
Instigante a sua resenha. Gostei muito da proposta deste livro.


Will 28/07/2013minha estante
Exige muita coragem colocar Cury e Dostoiévski no mesmo parágrafo. Boa resenha.




Michela Wakami 12/03/2022

Muito bom
Amei, foi uma leitura gostosa, bem fluida e muito realista.
Repleta de personagens interesseiros.

Sorte no jogo, azar no amor?
Ou azar em ambos?
João 13/03/2022minha estante
Esse está em décimo terceiro em minha lista em ordem cronológica do Dostoiévski, ansioso para lê-lo. Fico feliz que tenha gostado. ?


Michela Wakami 13/03/2022minha estante
Torcendo para você gostar também, amigo.


Douglas Finger 13/03/2022minha estante
Adorei esta leitura também Michela, mas o Duplo e ate mesmo Noites Brancas são bem mais cativantes!


Michela Wakami 14/03/2022minha estante
Douglas, eu não gostei muito de Noites brancas, quando li, mas pretendo relê-lo um dia.
Achei o romance muito fantasioso kkkk.
O Duplo, ainda não li, vou tentar lê-lo esse ano.


Michela Wakami 06/02/2024minha estante
Douglas, reli Noites brancas e amei demais.
Por isso sempre releio os livros, a releitura sempre nos surpreende.




Arsenio Meira 19/12/2013

Um Gênio

Dostoievski, com fortes tintas autobiográficas, narra a vida de Alexei Ivanovich, o protagonista deste romance que merece dez, quinze ou cento e cinquenta estrelas.

Agregado à uma família tipicamente nobre e... falida, onde faz as vezes de professor dos filhos de um general viúvo e patético, Alexei, ele próprio um viúvo de si mesmo, passa os seus dias à toa, à cata de um mísero lance de sorte que lhe proporcione os braços da mulher amada. O general, no entanto, é o ponto de partida para o desenrolar dos conflitos.

Já Antônia Vassilievna, a Babuschka, é a salvação financeira do general e do seu séquito. Uma anciã que todos julgavam caquética. Os nobres, Alexei e quem mais estivesse por perto, enfim, todos esperavam sua morte para que o general, de posse da herança, saldasse suas dívidas e desposasse de sua amada, uma mulher dúbia, de passado duvidoso, ex-prostituta francesa.

E a trama segue, e Alexei Ivanovich vai nutrindo paixão avassaladora por Paulina Alexandrovna, enteada do general. Esse amor não é correspondido. Paulina o despreza, mas começa a dar-lhe atenção quando vislumbra em Alexei uma peça parcialmente útil para a salvação financeira de todos. A mulher o empurra ao cassino e ele vai ligeiro; estão todos à míngua, sem dinheiro, hospedados em requintado hotel à espera da morte da velha senhora, que insiste em não morrer, para desgosto e suspiros infelizes.

Dosto vai tecendo o mosaico complexo e sempre surpreendente: o conflito começa quando a velha, que se dá ao direito de falar como a saudosa Dercy Gonçalves, soltando impropérios como quem bebe água, aparece na cidade com seus criados, altiva, ainda que numa cadeira de rodas. Ela ridiculariza e achincalha a todos. A velha não era besta. Os hipócritas sonhavam com sua morte para se apropriar de sua fortuna. Ferina e loquaz, resolve, juntamente com Alexei, a quem dedica uma deferência especial, conhecer o cassino que fica a uns quinhentos metros do hotel.

A velha Babuschka se rende à sedução das roletas e diante dos olhares aterrorizados dos pretendentes à sua riqueza, começa a jogar furiosamente. Aqui, Dostoiévski descreve com riqueza de detalhes a sordidez da avareza humana e essa personagem anciã, de força moral incrivelmente superior à de todos os outros personagens, é bem ilustrativa da força criativa e narrativa do genial escritor russo.

Em meio a esta convulsão moral, Alexei Ivanovich ainda tem que se debater em angústias por um amor que não é correspondido, até que À essa altura, Dostoiévski provoca, surpreendentemente, uma reviravolta na vida de todos.

Alucinante cenário do que era ou (é) a trajetória de pessoas que dependem dos destinos do outro. No romance eis a indagação: a morte de uma altiva senhora resolveria as agoniadas vidas atribuladas, marcadas por dívidas e toda a sorte miséria dos demais personagens?

Tenho para mim que não.
Jayme 20/12/2013minha estante
Ao nos fazer viajar, por menos de 200 páginas, um gênio como Dostoiévski atingiu o que só a verdadeira literatura consegue: "Mais vida, em um tempo ilimitado".


Magus 09/03/2014minha estante
achei mais ou menos, comparado a Crime e Castigo ou Irmãos Karmazov.
Na realidade todo autor se torna um tanto previsível quando estudado a fundo.
Um dos poucos livros que me fizeram rir alto sozinho... a Babushka esbravejando ,chamando a todos de Imbecil ahahha


Ana Márcia 01/05/2014minha estante
"Excelente análise que encontrei:
As consciências ocupam o mesmo espaço sem que uma se sobressaia às demais. São consciências as mais variadas possíveis: o viciado em jogo, a prostituta, a moça que procura um marido rico, que deseja realizar um casamento de aparências ? personagens que são encontrados no romance O Jogador ?, o religioso, o ateu, o novo rico, o aristocrata que vive de aparências, mas que perdeu a fortuna, o agiota, o funcionário público corrupto, o político medíocre, o comerciante desonesto, e outras. A segunda categoria é a interação. As consciências estão num processo amplo e complexo de interação. Por exemplo: o viciado em jogo se junta com a moça que procura um marido rico para enganar outro jogador. O religioso faz um acordo com o funcionário público corrupto para enganar o comerciante desonesto. Dessa forma, todas as consciências interagem umas com as outras."


Thiago Ernesto 20/10/2014minha estante
Arsenio, muito apropriada sua comparação da velha com Dercy Gonçalves! Sua resenha me deu ainda mais vontade de devorar essa obra do Dostô!


Arsenio Meira 20/10/2014minha estante
Opa Amigo, rsrsrs, a velha Dercy, que o bom Deus a tenha... Vá em frente, é um romance de primeira grandeza!




Juli 03/05/2021

VICIADO
Gostei! História marcada por romance e jogos de azar, entre outras situações como a expectativa por uma herança de um senhora que nunca morre rsrsr....E para quem conhece um pouco da história do autor perceberá algo autobiográfico na obra.
graazifarias 24/01/2022minha estante
Quanto à edição, pode me dizer algo? Estou na dúvida em qual adquirir


Juli 25/01/2022minha estante
Olá! Obrigado por perguntar. Eu não conheço as outras versões, quero dizer não as li. O que me chamou a atenção a princípio foi a coleção que a Martin Claret fez, padronizou quase todas as obras do Dostoiévski neste estilo, o que me despertou para lê-los e colecioná-los. Um fator principal foi a tradução que é direto do russo para o português, foi feito um trabalho muito primoroso do tradutor Oleg Almeida, caso você não o conheça tem video dele no youtube falando sobre os desafios e detalhes da tradução de uma destas obras.

Apesar de não ter lido as outras versões, recomendo está devido as pesquisas que fiz antes e de ter lido esta também. A proposito li todos os outros que a Martin Claret lançou e estou finalizando agora o último "Os Demônios" também traduzido peli Oleg.

Um grande abraço e dúvidas a disposição!


graazifarias 26/01/2022minha estante
Muito bom!!! Muito obrigada por responder. =)


graazifarias 26/01/2022minha estante
Ah, por fim, só gostaria de saber de mais uma coisinha, rsrs... As letras amareladas atrapalharam a experiência da leitura?




@gezaine_ 09/04/2020

Dramas humanos
Ótimo pequeno romance e um bom ponto de partida para quem quer começar na literatura russa.
Curto, mas cheio de dramas, intrigas, traições e cenas hilárias.
gabi 25/05/2020minha estante
já vi esse livro em uma livraria e notei que as letras eram amarelas. na época eu nem tinha interesse, mas agora eu quero muito ler esse livro e não me lembro se era confortável ou não de ler. o que você achou?


@gezaine_ 25/05/2020minha estante
Achei o grande problema dessa edição. Não tem contraste com a página, que também é amarelada. Só consegui ler durante o dia.


gabi 25/05/2020minha estante
entendi. obrigada!


@gezaine_ 25/05/2020minha estante
Por nada!




Costa 15/10/2021

Maravilhoso, e muito engraçado
Estava (e ainda estou) passando por momentos difíceis, e nunca imaginei que meu primeiro Dostoiévski serviria para me acalmar, distrair e me tirar risadas em um momento tão difícil, serei sempre agradecido por esse livro e pelo momento ideial que resolvi lê-lo.
Rafaela1643 15/10/2021minha estante
Boa noite, Gustavo. Espero que tudo fique bem logo!!!
Incrível como os livros nos proporcionam alívios assim. Sensação de nunca estarmos sozinhos ou desamparados.


Costa 16/10/2021minha estante
Obrigadooo, Exatamente!!!


graazifarias 24/01/2022minha estante
Quanto à edição, pode me dizer algo? Estou na dúvida em qual adquirir




minguel 20/04/2021

Identificação
Lembro-me vagamente, mesmo não fazendo tanto tempo assim desde minha leitura, mas o que carrego mesmo é como me identifiquei com o vício descrito pelo escritor. Foi meu primeiro contato com Dostoievski. Senti que eu era o Ivanovitch quando narrou-se os momentos em que ele jogava com a sorte e como essa sensação se apodera do homem.
DoriaBoy 22/04/2021minha estante
Cadê a nota?


minguel 22/04/2021minha estante
Ta no subsolo


Messias 08/02/2023minha estante
Bet 365 sempre é complicado




Raissa 15/11/2023

O homem nasce bom, mas a roleta o corrompe...
Tive um certo receio de começar essa leitura por ter visto uma crítica negativa (nem lembro em que ano foi isso kkkkkkkkk), mas posso afirmar que foi um livro divertidíssimo de ler! Só não dou 5 estrelas por conta de alguns detalhes, mas a maior parte da leitura eu passei rindo da desgraça dos personagens (principalmente quando um certo personagem aparece e muda o rumo que a história tava tomando kkkkkkk). Enfim, adorei, ele é super fluido, tem bastante diálogo e a gente consegue entender com facilidade todas as críticas e lições que o autor quis passar através da obra!
AndrAa58 24/11/2023minha estante
Também me diverti bastante lendo ?


jacarepaguá_blues 29/12/2023minha estante
Esse "certo personagem" também me tirou umas boas risadas kkkkk




LetAcia.Vincenzi 09/02/2021

Minha primeira leitura de Dostoiévski
É uma obra pequena, com a leitura bem fluída. O livro me deixou incomodada com o estilo de vida e péssimas escolhas do protagonista, bem como me tirou boas risadas em outros momentos. Dá pra sacar diversas críticas contra a aristocracia russa da época (talvez até um certo bairrismo do autor quando se referia aos personagens ingleses/franceses), bem como o paradoxo do complexo de jogos (responsável pelo vício e por danificar a saúde mental) ficar no mesmo local em que as pessoas frequentam as casas de banho de águas termais em busca de saúde.
Augusto 10/02/2021minha estante
Pior é que esse estilo de vida é um reflexo do que o próprio Dostoiévski experimentou por causa do seu vício em jogos.


LetAcia.Vincenzi 10/02/2021minha estante
Sim, li ciente que ele estava se baseando na sua própria vida




Reginaldo Pereira 07/06/2024

Um ?resumo? do gênio
Obra em que mestre consegue escrever uma história breve mas intensa, em que - como sempre - desvenda a alma humana, mas desta vez através do vício no jogo.

Não posso deixar de destacar a personagem ?avó? nesta obra! Um daqueles personagens que só Dostoiévski é capaz de criar!
Carolina 08/06/2024minha estante
Essa avó é uma figura, muito engraçada rs


Reginaldo Pereira 08/06/2024minha estante
Ela é muuuuito engraçada!! Dei muita risada!!! kkkk




LisboaPB 01/05/2021

Esperava mais mas achei ótimo poder conhecer o autor e a literatura russa. Ele escreve muito bem e não é nada denso.
graazifarias 24/01/2022minha estante
Quanto à edição, pode me dizer algo? Estou na dúvida em qual adquirir


LisboaPB 25/01/2022minha estante
Essa edicao é mto bonita e a traduçao e excelente porem o que pode ser ruim para alguns e otimo para outros é que a cor da diagramaçao é igual a cor da capa. Ou seja essa capa é amarela, a cor das letras sao amarelaa tambem




@aprendilendo_ 11/08/2020

Resenha de O Jogador
“Roulette”, termo francês que significa “pequena-roda”. Dele advém a palavra usada para designar um dos jogos mais presentes nos cassinos de todo o mundo, a roleta, desafio no qual apostadores tentam, conforme as rodadas, acertar os números e cores sorteados. Nesse contexto, ambientado em uma cidade fictícia da Alemanha, no ano de 1814, O Jogador, escrito por Fiódor Dostoiévski, narra a história de Alexei Ivânovitch, um jovem russo de 25 anos que trabalha como instrutor dos filhos de um general e tem sérios problemas com jogos de azar.

Lançado em 1866, a obra, como todas as outras do autor, tem um fundo de inspiração em sua própria vida. Isso pois assim como o protagonista, Fiódor, à época, era viciado em jogos de azar, além de ver uma constante falta de sentido na vida e ter problemas amorosos, temas esses os quais rodeiam e dão o tom da novela. A obra desenvolve-se em uma narrativa em primeira pessoa por parte do personagem principal e toma energia a partir das semanas e meses relatados por ele. Nesse período, o jovem professor se vê em meio aos dilemas de uma paixão perturbadora e a complexa situação financeira de seu patrão.

Dostoiévski talvez seja o melhor criador de diálogos de todos os tempos. Afinal, todas as nuances do sentimento distorcido de Alexei são expostas de forma paulatina por cada frase dita, construindo de forma incrível o arquétipo de uma pessoa sem esperanças e submissa. De certa forma, esse foco nas conversas supre as limitações de uma narrativa que não expõem ao leitor os pensamentos e acontecimentos diversos de cada personagem. Em congruência com esse fato, tornamo-nos enclausurados à mente do narrador, conhecendo todas as suas inseguranças e deformações da realidade, entendendo muito mais suas fúrias e julgamentos do que as verdades exteriores. Por outro lado, haja vista a obra ser caracterizada por momentos cheios de diálogos, bem como o protagonista não fazer questão de nos ambientar devidamente nos contextos da trama, o leitor pode vir a se sentir desnorteado diante de um começo “sem pé nem cabeça”. Esse problema não persiste por todo o livro e no decorrer das páginas é sanado. Apesar disso, essa total compreensão dos ocorridos demora um pouco e talvez deixe alguns frustrados.

Em algum momento da vida todos nós seremos espécies de jogadores, apostando um dos bens mais importantes que o homem possui, o tempo. Nós o perderemos, o ganharemos, investiremos e teremos de decidir, em cada escolha, o que realmente importa e vale a pena. Seguindo essa linha de raciocínio, O Jogador mostra um grupo de pessoas as quais apostaram tudo em nada e passaram a viver por motivos fúteis. Outro livro sensacional de um escritor único.

Nota: 8,8

@aprendilendo_
Debora.Muck 11/08/2020minha estante
???


@aprendilendo_ 12/08/2020minha estante
???




Victor Dantas 28/02/2021

Uma expressão da ocidentalização na Rússia. #42
Escrito em 1866, "O Jogador" é um romance da segunda fase (pós-Sibéria) de Fiódor Dostoiévski.

Na época da sua publicação, Dostoiévski estava vivenciando o estrelato, o sucesso como escritor, pois havia acabado de publicar Crime e Castigo (1865), no entanto, todo esse sucesso trouxe consequências para o autor.

Devido ao sucesso de sua obra tanto na Rússia quanto na Europa, Dostoiévski passou a viajar para o estrangeiro constantemente para entrar em contato com outros intelectuais, mas também para aproveitar os benefícios da sua fama de escritor, e uma das formas que ele encontrou para aproveitar foram as apostas em jogos de azar. Passou a visitar vários cassinos europeus, principalmente, na Alemanha (onde o romance se passa).

O vício pelos jogos levou o Dostoiévski a quase total falência, ficou endividado, e para poder pagar tais dívidas, assinou um contrato para escrever um romance em menos de seis meses, eis que surge "O Jogador". Para mais informações recomendo ler apresentação feita pelo Rubens Figueredo na edição da Penguin-Companhia.

Bom, sendo assim, "O Jogador" assim como outros romances do autor, possuí inspirações autobiográficas, nesse caso, o vício do autor por jogos de azar.

O enredo se apresenta da seguinte forma:

Aleksei Ivánovitch, é um jovem de 20 anos, professor recém formado, de origem humilde, e está de volta à cidade de Roletemburgo (cidade fictícia alemã), onde ele presta seus serviços a um general como preceptor de seus filhos, Micha e Nádia.

Tanto a família do general, como o próprio Aleksei, estão hospedados num hotel de Roletemburgo, e ao lado deste hotel, fica um cassino, onde aristocratas de toda Europa se dirigem para fazerem suas apostas.

Aleksei costuma visitar constantemente o salão de jogos, mas sempre fica no lugar de observador, e não de jogador.
Mas, isto está prestes a mudar quando Aleksei vê no jogo a oportunidade melhorar sua vida financeiramente, e assim conquistar a atenção da filha mais velha do general, Polina Aleksándrovna, por quem ele nutre uma paixão até então não declarada.

Mas, será que o Aleksei conseguirá manter seu foco nesse objetivo por muito tempo?
Será que ele vai manter-se no controle do seu jogo, ou o jogo que vai controlá-lo?
O dinheiro que ele ganhar no jogo será suficiente para que a Polina o considere?
Seria Polina seu único motivo para jogar?

Bom, após essa breve sinopse, eu sempre gosto de elencar os elementos que aparecem na obra, tanto aqueles que são expostos no texto e os que ficam nas entrelinhas, a disposição da interpretação do leitor. E "Jogador" possui muito dos dois.

1) A Narrativa:
Por ser um romance publicado na sua segunda fase literária (pós-Sibéria), a narrativa de "O Jogador", assim como os romances que lhe antecedem une o drama com a ironia ácida, no entanto, cada romance possui sua peculiaridade, e em "O Jogador" não é diferente.

As cenas são descritas progressivamente, como um "frenesi textual", o que forma uma atmosfera textual que remete a tensão de um jogo de azar (estamos sempre calculando a próxima jogada).

Outrossim, o livro é narrado em primeira pessoa, sendo assim, é a mente do protagonista que orienta o leitor para cada situação, e muita das vezes o nosso protagonista ele muda de raciocínio muito rápido, logo, a cena já se modifica, a entrada de outro personagem.

2) Personagens:
É muito difícil a gente ler um romance do Dostoiévski e nenhum personagem marcar a nossa experiência de leitura. Independente se for protagonista ou personagem secundário.

O que acontece é que o Dostoiévski atribuiu a todas as personagens uma utilidade.
O seu núcleo de personagens é como um quebra-cabeça, cada peça é importante.
Ou seja, existe uma equidade entre suas personagens.

Em "O Jogador" além do nosso protagonista, Aleksei Ivánovitch temos os personagens secundários: Polina Aleksándrovna, o General, Mr. Astley, Des Grieux, Mademoiselle Blanche, Antonida Vassílievna (a vovó).

Em cada um deles, existe um certo estereótipo proposital que sustenta a trama do romance (a Polina virtuosa, o General autocentrado, o inglês reservado e culto, o francês inconveniente, a vovó ranzinza). Bom, é só isso que eu tenho a dizer rsrs.

Particularmente, a personagem que mais me cativou foi a Vovó, as cenas em que ela aparece me foram mais interessantes, até mesmo engraçadas.

3) Contexto Histórico e Sociocultural
Apresentação do Rubens Figueredo é muito precisa nesse sentido, pois ele faz um breve panorama do que vamos encontrar no texto do Dostoiévski em relação à Rússia daquele tempo específico.

Apesar da trama não ter a Rússia como espaço, e sim a Alemanha, as referências históricas que aparecem no enredo, nos diálogos das personagens, nos orienta diretamente para o que estava ocorrendo na Rússia naquele momento.
E pelo título da minha resenha você já deve ter identificado qual é esse contexto.

Bom, enquanto o Dostoiévski estava transitando na Europa, devido a sua fama como escritor, na Rússia, já estava ocorrendo um processo de ocidentalização que viria a se intensificar anos posteriores.

Um dos principais campos que esse processo era mais evidente, era a arte e a cultura.

A Rússia já utilizava, por exemplo, o francês como segunda língua oficial, reservada apenas a aristocracia como um distintivo de classe e poder. Somado a isso, a literatura estrangeira mais consumida era francesa e alemã, superando até mesmo a literatura local.

Portanto, esse processo visto pelos olhos do Dostoiévski e outros intelectuais russos, era nocivo para o povo russo, pois significava a perda de identidade, o enfraquecimento da "Alma Russa", da "Mãe Rússia".
Essa Mãe Rússia que aparece em toda obra do Dostoiévski a partir da segunda fase, como a Mãe salvadora da humanidade, a Mãe superior a essa nação europeia pagã, violenta, hipócrita.

Dito isso, personalidade do nosso protagonista é formada de um nacionalismo intenso, em diversos ele se refere ao povo russo, ao sangue russo com um orgulho e um sentimento de superioridade, junto a ele, está a vovó Antonida, que é nacionalista e conservadora declarada. Em muitos diálogos, tanto o Aleksei quanto a Antonida, ridicularizam a personagem Des Grieux, que é um homem francês.

"A gentalha, de fato, joga de maneira muito sórdida. (...) Olhe a[i, mais gentalha chegando! Na maioria, franceses" (p.33).

Aliás, por conta dessa personagem, Des Grieux, e da Mademoiselle Blanche, temos muitos diálogos e expressões em francês no texto (se você for um leitor de francês pode até treinar as expressões rsrs).

Outrossim, temos ainda a crítica ao processo de industrialização e urbanização que a Europa ocidental estava vivenciando, enquanto a Rússia permanecia nos bastidores do conservadorismo, uma sociedade atrasada, rural, agrícola.

A crítica mais evidente é a acumulação de riqueza material dos europeus, o amor e desejo pelo dinheiro, e o consumo por coisas supérfluas. O dinheiro é mencionado em todos os diálogos, distintas moedas europeias são citadas pelas personagens.

O Aleksei e a Antonida, em vários momentos crítica e despreza o costume do europeu de acumular sempre, e não gozar da vida: comer e beber o que gosta, fazer caridade com os menos abastados, partilhar a riqueza com amigos e familiares que passam dificuldades.

4) O Jogo: quem controla quem?
Além das reflexões que sobre sociedade russa, "O Jogador" fez eu questionar muito sobre a real importância do jogo na vida do Aleksei, se para ele o jogo era uma forma de afirmação da sua existência e importância diante os outros a sua volta.

Afinal, ele passa a ser conhecido não por sua personalidade, ou sua profissão de professor, mas sim a de jogador, ou seja, o jogo poderia determinar tanto sua ascensão quanto sua ruína.

Por ser um jovem de 20 anos, uma geração nova, existe também aquela expectativa e pressão da sociedade para que ele se torne um homem extraordinário, um exemplo a ser seguido, e o jogo de certa forma, distancia/ameniza essa pressão e expectativa, uma fuga.

"Quer dizer, quem sabe eu também seja um homem digno, só que não sei me comportar com dignidade. A senhora entende que pode ser assim? Mas todos os russos são assim mesmo, e quer saber por quê? É porque os russos são dotados de maneira rica e diversificada demais para aqueles que eles encontrem, logo de cara, uma forma adequada para si" (p.55).

Por fim, são esses os aspectos que socioculturais que se destacam no enredo e que implica debates e reflexões.

Vejo muita gente com dúvidas por onde começar a obra de Dostoiévski, e eu acho que o "O Jogador" é um bom começo, mas tendo em vista que estamos lendo uma obra da segunda fase do autor.

É uma trama envolvente, com diálogos até engraçados e um enredo de certa forma, cosmopolita.
Boa leitura!
Thales 28/02/2021minha estante
A história da publicação desse livro deve ser tão legal quanto a história hahaha é outro do Dostô que eu morro de vontade de ler. Baita resenha como sempre, Victor!


Victor Dantas 28/02/2021minha estante
Oi Thales, sim com certeza haha
Obrigado! :)




booksgioh 09/04/2023

Um jogador
Para mim esse livro em muitas passagens serve como crítica ao sistema capitalista e sua ligação com outros problemas sociais que são frutos do mesmo.

começa com o jogo de roleta, que é visto pela sociedade como a resolução de todos os seus problemas.
logo depois, é mostrado a alienação que se cria através disso, pelo simples fato de sempre quererem enriquecer mais e mais.

(um fato é que os burgueses jogam por prazer e os outros que são trabalhadores, jogam por necessidade)

através disso tudo, pessoas se tornam viciadas pelo jogo(o caso do personagem principal da história) onde o mesmo, nunca foi rico. ele começou a jogar porque via como meta a vida que os ricos tinham. acabou se tornando um ciclo vicioso, onde ele mesmo perdendo, não conseguia mais parar.

no final, ele acaba solitário e sem dinheiro.
gabriela 15/04/2023minha estante
amg nessa edição do livro,o final deu a entender pra vc tbm que ele ganhou no jogo??fiquei confusa pq numa outra ediçao do livro falava claramente que ele perdeu e ja nessa nn ficou nada explicito.


booksgioh 16/04/2023minha estante
amg eu sinceramente achei bem confuso esse final também. mas na minha visão, ele perdeu o jogo e acabou sem nada.




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