Ronnie K. 07/04/2009
Os papéis de Henry James
Certa noite, profundamente entediado da vida e sem companhia que pudesse me entreter, lembrei-me de que, havia pouco tempo, adquirira uma novelinha do Henry James intitulada "Os papéis de Aspern". James, um dos meus ídolos literários. Pensei que não seria nada mal a leitura, ainda que meu desânimo pela situação em que me encontrava fosse bastante forte.
Poucos livros na vida li de uma tacada só. Esse foi um deles. Já li uma boa dúzia de novelas, romances e contos de H. James e, sobretudo tirando por essa, posso dizer sem rodeios: ninguém escreve como Henry James. Talvez Proust, pelo que ouvi dizer, mas Proust, que eu nunca li, não foi capaz de escrever contos e novelas. Mas a questão aqui não é essa. estamos falando de Henry James. O mago da narrativa. Em suas narrativas curtas, como essa, ele costuma nos arrebatar já nas primeiras 5 linhas escritas. A imersão é retumbante! Somos arremessados direto no olho do furacão, como costumo dizer, no centro de algum acontecimento que aos poucos vai sendo esclarecido. Ele penetra de tal modo na mente dos personagens, com uma exposição tão rica de detalhes reveladores, que é impossível não se deixar levar. E os diálogos? Nessa sua fase de contos e novelas, após passar por um período frustrante como autor de teatro, os diálogos são brilhantes e precisos, para dizer o mínimo.
Exemplo perfeito dessa maestria se encontra nesse "Os papéis de Aspern". Nessa história de combate moral e psicológico que se desenrola num velho casarão veneziano envolvendo três personagens centrais: um editor americano, que viaja à Veneza em busca dos manuscritos inéditos de um gande escritor, a velha senhora que ele acredita possuir os manuscritos (por ter sido uma das amantes do escritor em tempos remotos) e a sobrinha desta. O editor abrirá mão de meios não muito honestos para seduzir a sobrinha e consquistar a simpatia da desconfiada velhota para chegar aos manuscritos. A trama se desenrola em Vezena. Há belas descrições de passeios pela cidade. Porém a maior parte da ação se dá dentro do velho e isolado casarão onde residem as duas solitárias senhoras, que tem o editor como inquilino. O suspense e o drama estão garantidos. Assim como certa dose de ironia e humor negro. Até o desfecho sensacional e perfeito!