Andrelize 29/12/2011
Resenha e Microanálise da obra: Amor de Salvação.
Obra de Camilo Castelo Branco, publicada em 1863, Amor de Salvação é uma novela passional, um romance sobre a paixão, o sentimento avassalador o “amor de perdição” apesar do título Amor de Salvação. O narrador-personagem é em primeira pessoa, participa da trama na medida em que ouve a história que verdadeiramente é vivida por outros personagens.
Logo no início do livro o narrador narra sobre a exuberância do cenário natural onde se encontra, porém está totalmente perdido e solitário. Não sabendo qual caminho seguir para chegar a seu destino, pede informações, e por coincidência o informante é um antigo conhecido (se conheciam a mais de quinze anos) e o convida para pernoitar em sua casa. Este anfitrião é Afonso de Teive e quase que o narrador, que faz o papel de um escritor de novela, não o reconhece pela mudança na forma de se vestir, agora, mais rural e simples. Bem como sua mulher e seus filhos, a obra de Castelo branco é rica ao descrever a vestimenta dos personagens, destacando seu caráter rural.
O enredo é dramático, boa parte do livro é reservada à mulher que representa a tentação, o demônio, reservada a Teodora. Teodora e Afonso foram prometidos um ao outro por suas mães, que eram amigas desde os tempos que estudavam juntas em um convento. Porém, a mãe de Teodora morre e Teodora é mandada para um convento e seu tutor passa a ser seu tio, o padre Hilário, pai de Eleutério. Teodora e Afonso eram apaixonados e ansiosos para se casarem, só estavam aguardando o momento certo.
Por infelicidade do casal, Afonso resolveu estudar fora por dois anos e Teodora em sua ânsia para sair do convento não teve paciência para esperar Afonso retornar e acabou se casando com Eleutério, filho de seu tio-tutor. A mãe de Afonso, Dona Eulália, sabendo da louca paixão de seu filho por Teodora, pede-lhe para aguardar o retorno de Afonso, mas é tudo em vão.
Eleutério é um homem simples e um marido sincero. Teodora viveu luxuosamente, mas nunca se esquecia de Afonso e ele, por sua vez, nunca esqueceu sua paixão por Teodora e sofria exarcebadamente por saudades de sua amada. Para amenizar sua dor resolve se ausentar de Portugal.
Longe de casa, Afonso contava sempre com o apoio de sua mãe e de sua prima Mafalda através de cartas, Mafalda por sua vez, o amava pacientemente. Durante anos Afonso recebia cartas de Teodora, porém não as respondia por conta de sua consciência religiosa que o opunha ao adultério. Após anos de sofrimento e angústia e influenciado pelos amigos, Afonso resolve responder uma das cartas de sua amada, e por azar, a carta foi parar nas mãos de Eleutério, que não compreendeu nada do conteúdo da carta por conta de sua falta de instrução e do vocabulário complexo de Afonso. Para interpretar a carta, Eleutério pediu ajuda a Fernão de Teive e sua filha Mafalda que logo reconhecem a escrita de Afonso e a rasgaram. Inconformado, Afonso parte para Portugal para encontrar sua amada Teodora.
Chegando a Portugal, encontra-se com Teodora e beijam-se ardentemente o ápice da narrativa. Eleutério os encontra juntos e exige uma explicação, Teodora o abandona e vai viver com Afonso, vivem algum tempo felizes, Afonso a amava tão ardentemente Teodora que abandonou sua amada e religiosa mãe para viver com ela (que passa a se chamar Palmira) fora de Portugal.
Algum tempo depois, Afonso recebe notícias que sua mãe morreu através de uma carta escrita por sua prima Mafalda. Ele se desespera, e Teodora na ânsia de consolar o marido acaba usando de ironia e Afonso sente nojo de Teodora. Eu interpretei este “nojo” como aversão por saber que a sua mãe, Eulália, era contra ele fugir com uma mulher casada. A consciência dele pesou por desrespeitar a mãe e não necessariamente pelas atitudes de Teodora.
Após esse acontecimento, um criado de Afonso, Tranqueira, homem simples e sincero tido como um amigo da família, alerta Afonso sobre o comportamento de sua mulher. Afonso presta atenção e percebe que está sendo traído, a traição não é explicitamente confirmada, subentende-se assim como em Dom Casmurro. Porém, ele encontra cartas de Noronha a Teodora que confirmam a traição. Afonso desespera-se, Teodora dissimulada tenta negar, mas é em vão. O relacionamento desmorona.
Apesar de sentir saudades de Teodora ele vai para Paris em busca de um amor que o salve da amargura que é sua vida. Em busca de um Amor de salvação. Gasta todo o seu dinheiro e acaba tendo que pedir ajuda a seu tio Fernão de Teive. Mafalda preocupada implora ao pai que o ajude, o pai assim o faz.
Afonso afunda-se no álcool e planeja suicidar-se, atitude típica de um romântico, seu fiel criado percebendo a situação tem uma franca conversa com Afonso que desiste da loucura e passa a viver uma vida regrada, trabalhando e voltando a estudar.
Fernão de Teive muito doente e próximo a morte, pede ao Padre Joaquim que vá a Paris entregar os documentos da casa que comprou apenas para ajudar Afonso. Após a morte de seu pai Fernão, Mafalda fica depressiva e solitária e resolve isolar-se em um convento em Paris, e por isso, viaja junto com Padre Joaquim a Paris.
Chegando lá, reencontra seu primo Afonso e o abraça calorosamente. Mafalda conta da morte de seu pai e de sua decisão de ir para um convento. O Padre Joaquim explica que há varias maneiras de servir a Deus e pede-lhes para se casarem. Só assim Afonso percebe que seu amor de salvação, que o salvara, é Mafalda. Casaram-se, tiveram oito filhos e viveram uma vida feliz no campo.
A narrativa é um flashback, pois o protagonista Afonso, relembra toda a sua história de vida e conta para seu amigo em uma noite. E, segundo Afonso, a única noite desde o dia que casou com Mafalda que passou longe de sua família.