Ana Paula Miola 16/07/2010
Oh Bartleby! Oh Humanidade!
Falar de Bartleby, é falar da mente humana, de solidão.
Trabalhando num escritório no centro comercial de uma grande cidade, como copista, Bartleby mostra-se um ótimo empregado, copiando sem parar durante três dias. Mas passa a não cumprir com suas obrigações, utilizando-se da famosa frase: "Prefiro não fazer", tornando-se um grande problema e um estorvo para os colegas e chefe.
Como se não bastasse isso, Bartleby fica as tardes inteiras contemplando a vista que tem de sua janela: o muro do prédio a frente. Como se aquela parede fosse tão fria e sem vida quanto ele, como se cada um daquele tijolos fosse um fardo de dor e angústia sobre suas costas. Olhando incansavelmente para uma parede, Bartleby via a si mesmo, alguém para quem a vida não tinha mais sentido.
O chefe muda o escritório de local, pois, além de morar lá, Bartleby fica pregado olhando o muro a frente, atrapalhando o trabalho dos outros e causando má impressão aos clientes. E permanece lá, após a mudança, negando qualquer tipo de ajuda, negando-se a viver. E vai preso.
Na prisão, por não ser considerado perigoso, pode andar livremente pelo pátio. Suas tardes se resumem a recusar comida e caminhar olhando o muro que cerca a prisão. E Bartleby se entrega. É encontrado pelo chefe, deitado, de olhos abertos para o muro.
Antes de trabalhar como copista, Bartleby teria trabalhado na sessão de cartas devolvidas de um correio, as chamadas "cartas mortas", que, segundo o narrador, "não seriam como homens mortos?".
A desilusão desse personagem pela vida é tamanha que chega um ponto em que viver não mais lhe interessa.
Essa história, apesar de ter sido escrita a muitos anos atrás, sempre vai ser atual. Pois trata de solidão, de dor, de frustrações humanas, opressão, uma sociedade nada igualitária e totalmente desumana.
Bartleby nos leva a refletir sobre nossa própria vida. Quantas vezes agimos por vontade própria? Quantas atitudes tomamos sem pensar no julgamento alheio? Ele age de acordo com sua vontade, não viver era o que Bartleby queria, não lutar por algo oco, vazio, não ser mais obrigado a andar em frente, marchar rumo à um futuro promissor que nunca chega.
Esse é o tipo de personagem que sai do livro para nos presentear com um soco no estômago. Acordemos!
"Viver Bartleby" numa sociedade rotineira, hierárquica e desigual não seria possível. Mas poderia ser uma solução. É preciso apenas que as pessoas vejam o que está além de seus olhos, e queriam ver!