Natálie 06/01/2015Um livro notável!A trama é iniciada quando o Delegado Joaquim Dornelas encontra num dos Cartões Potais da cidade de Palmyra, o Mangue, um corpo, sem sinais de violência, e sem a mínima identificação. Um crime difícil de solucionar, um homicídio - suicídio talvez - que intriga cada vez mais a todos, principalmente ao delegado. A medida em que as testemunhas e pistas vão aparecendo, um crime que no início era difícil começou a ser pensado como um emaranhado muito mais complexo, um crime que é apenas a casca de algo muito maior e mais perigoso.
"Ouvir reclamações, procurar soluções."
Porém, nem só deste crime se faz essa história, ao decorrer do livro nos deparamos com problemas familiares, amorosos, pessoas muito inteligentes - e outras nem tanto - e principalmente com o processo de 'superação' do nosso protagonista. Dornelas acaba de se separar da esposa, foi obrigado a escolher entre família e trabalho - consequência de um tiro que o acertou - Ele escolheu a polícia, e assim foi afastado da mulher e filhos, e luta para não entrar em depressão. Um delegado, sim, mas uma pessoa comum, cheia de problemas - como nós, motivo que o faz ser mais notável -, e que no momento passa por uma fase delicada da vida. Uma fase que requer cuidados emocionais. De frente a este novo caso que tanto intriga a todos, ele não desiste. Sua raiva, dor, força, amor e ódio são focalizados no crime. Um modo de conseguir viver e tentar superar tudo que lhe acontece. Este é nosso protagonista, bem idealizado e construído pelo autor, um homem forte e também comum. É muito interessante sabermos de toda a 'transformação' pessoal do personagem ao longo da trama, saber de suas dores e dúvidas, etc.. Um homem entupido de defeitos, mas que tenta lidar com todos eles, e com todas as pessoas acima da 'média do razoável', porém, quando se trata de sua relação familiar ele desmorona. Um homem tão forte, que fica acabado por este motivo - Família, uma das coisas que aprendi a valorizar mais com a ajuda de Dornelas. Sobre sua vida no emprego, ele é um bom delegado, inteligente, sempre tecendo mais linhas que vão a lugares diferentes, assim, sempre com um bom número de teorias sobre os crimes. Além de ser sarcasticamente engraçado. Com toda certeza, Delegado Joaquim Dornelas é um personagem que eu não vou esquecer facilmente.
"- É o que o senhor diz.
- E digo a verdade.
- Pois preciso de mais do que a verdade. Preciso de provas."
O livro e sua trama são muito interessantes, o crime é uma coisa que de cara é "simples" -não sei se posso usar essa palavra -, mas rapidamente várias coisas são ligadas e descobrimos (juntamente com Dornelas e sua equipe) que se trata de algo mais profundo e complexo. Daí vou a uma coisa importante, o autor soube criar uma história, ligar bem as perguntas as suas resposta, não criando dúvidas - dúvidas reais, não aquelas de suspense, dignas de final de livro bom - para 'encher linguiça' e deixar em aberto, como já vi alguns autores fazendo. E, para mim, acima de tudo, o realismo da história -por tudo que sei sobre este gênero, tanto por filmes e documentários-, é notável. Levy é bem verídico ao descrever o comportamento humano ao longo da trama, através de seus ótimos personagens, que realmente retratam as diversas personalidades existentes na sociedade.
Nota: Tenho que citar Dulce Neves nesta resenha... Mulher hilária e inteligente, já adoro a personagem
A previsibilidade sobre quem era o autor do crime principal me deixou um pouco incomodada. Foram citados vários suspeitos, sim, mas acho que meu modo de ler foi mais detalhado, então eu já tinha uma quase completa certeza da identidade do assassino.
Apesar de se tratar de uma história policial, o autor consegue balancear sua escrita. Ao mesmo tempo em que ela é rápida e simples, ela é bem descritiva, e nunca perdendo o humor, Levy em algumas horas usa de uma linguagem mais descontraída. É bem agradável ler algo assim. E vou dizer, o título do livro tem uma conexão intrínseca e curiosa com sua história, realmente interessante.
Recomendo a todos que apreciam uma boa história policial. Nesta trama somos convidados a solucionar um crime que provavelmente é o início de algo grandioso, e indiretamente a embarcar numa jornada de transformação e amadurecimento.
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