spoiler visualizarVictor222 25/01/2023
Resenha Evangelho Maltrapilho
O autor inicia destacando que só aceitamos a graça na teoria, enquanto na prática, buscamos constantemente invalidar quem vive e quem prega sobre ela, tendo um comportamento digno de pelagianos, os quais acreditavam na salvação conquistada pelas obras de nossas próprias mãos. Em um segundo momento, é abordado sobre dois tipos de fé, sendo a primeira que nos leva a crer na mera existência de Deus, enquanto a segunda nos faz confiar na figura de Deus. Muitos creem na existência, mas poucos confiam naquele que existe. Quem só crer na existência segue o mesmo, mas quem confia enxerga a necessidade de mudança de vida. Acreditar na existência é ato da mente, enquanto que confiança provém do coração.
É abordado também a resistência em aceitar que o Senhor dos Exércitos também é o Deus de amor extensivo que é concedido sem qualquer mérito daquele que recebe mas sendo completa virtude daquele que entrega. É destacado ainda o equívoco em pensar que conversão é sinônimo de vida ilibada sem pecado. Gostaria que fosse assim mas infelizmente não é. Ocorrerão tropeços mas a questão é se resisto ou me entrego sem qualquer esforço aos desejos da minha carne. Essa falsa sensação de vida sem pecados nos leva a nos vermos aptos para fazer a função de porteiro celestial definindo a salvação alheia, afastando aqueles que ainda não tiveram encontro real com Deus ou que tiveram mas por algum motivo, desviaram do caminho.
Não devemos nos atrever a falar sobre o Evangelho se ele não for uma realidade das nossas vidas. Quando fazemos isso, estamos agindo semelhante aquelas celebridades que fazem propaganda de serviço ou produto que nunca usaram e nem pretendem usar. Como oferecer para alguém, algo que nem você mesmo experimentou?
O autor reforça a necessidade de ser íntimo de Deus e de tê-lo como motivo de suficiência e realização das nossas vidas. Isso me lembrou de forma quase que imediata do texto de Mateus 6:33 que diz: "Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas serão acrescentadas a vocês."
Não sei vocês mas para mim soa como burrice buscar primeiro as "outras coisas", sendo que se buscarmos Deus e a sua justiça, elas já serão acrescentadas.
Também é destacado como somos tendenciosos a pensar que demonstração de amor é fraqueza e transmitimos isso na forma que vemos Deus. Grande parte dos cristãos é reticente em enxergar Deus como uma figura amorosa pois pensam que se Ele for amor, consequentemente será frágil e vulnerável como uma adoleboba que sofre de "amor" por cantor pop. Essa compreensão equivocada faz com que muitos cristãos escolham visualizar Deus como sendo somente fogo consumidor/rei das batalhas e outras alcunhas que remetam ao poder de Deus guerreiro em detrimento ao Deus que "tem planos de paz, e não de mal, para nos dar um futuro e uma esperança" como cita Jeremias em seu livro homônimo no capítulo 29, versículo 11.
O autor explica o motivo de Jesus ter se atraído pelos menos favorecidos enquanto esteve aqui na terra. Segundo ele, o motivo é bem simples: Jesus reproduziu aqui na terra, o amor que via Deus tendo no céu, já que Ele nunca fez qualquer separação entre elite e plebe. Pelo contrário, os mais humildes financeira e socialmente encontraram o favor de Deus em muitos momentos, vide o que aconteceu com Jacó, José, Ester e Davi. Enquanto que o ato de estar compartilhando refeições com os que estavam à margem da sociedade, tinham por objetivo demonstrar o quanto Jesus tinha interesse em mantê-los próximos independente da forma que a sociedade os enxergava. Se o povo os empurrava para longe, Jesus os puxava para perto. Para mesa de comunhão com Ele. Mesa onde encontravam paz, fraternidade, perdão, amor e confiança.
Retomando e aprofundando a questão que falei no 1° story, o autor discorre sobre a dificuldade em aceitar que não existe mérito na graça sendo total perda de tempo confiar que conduta ilibada acompanhada de boas obras gerará a conquista da salvação. A outra versão dessa mesma pessoa é aquela que fica deprimida acreditando que nunca será amada por Deus, por não conseguir alcançar uma perfeição impossível. Fazendo essa ratificação, Brennan procura evidenciar que Deus fez por nós mesmos aquilo que nunca poderíamos fazer e que não há forma alguma de compensar o preço pago por Jesus na cruz.
É ressaltado ainda que nossa oração deve ter por objetivo a comunhão com Deus e não uma procura por experiências sobrenaturais inéditas. Deus até pode nos proporcionar mas esse não pode ser o tema principal das nossas orações. É mencionado ainda a necessidade do constante autoconfronto que consiste em olhar a si mesmo da forma mais honesta e transparente possível, de modo paralelo ao combate daquilo que gera dependência e ocupa o lugar de prioridade em detrimento de Deus. A honestidade com nós mesmos gera aceitação da nossa incompletude e consequente reconhecimento da necessidade da graça de Deus preencher os espaços da nossa vida.
A importância de assimilar a presença da graça de Deus nas coisas simples da vida, como a movimentação das nuvens, o convívio familiar, oportunidades de estudo, amar e ser amado... Mesmo que o autor não tenha citado diretamente o livro ou a autora, entendo que é um tópico totalmente condizente com a temática do livro Liturgia do Ordinário de Tish H Warren, onde a autora nos leva a enxergar novamente o valor das coisas ordinárias da vida. Fazer parte da nossa rotina não deveria tornar algo ou alguém menos gracioso do que aquilo que temos contatos esporádicos. Outro ponto de difícil compreensão da nossa parte é o amor e fidelidade de Deus. Independente da nossa reciprocidade e contrariando a lógica humana, Deus segue nos amando e sendo fiel por Ele ser amor e fidelidade. Não tem como dissociar amor e fidelidade da natureza de Deus.
De modo seguinte, é abordado sobre o estado de espírito do cristão no reino. Deus não quer passividade de marionetes mas decisões e ações de filhos que usam dos recursos dados por Ele, para encontrar soluções aos problemas do cotidiano. O autor expõe também como nossa pretensão para Deus reafirmar constantemente o amor por nós evidencia a desconfiança que temos não só no que Ele fala mas no que deixou escrito. Tratando da fé, é apresentado como a partida de Jesus foi fundamental para que os seus discípulos tivessem fé amadurecida que não fosse dependente da presença corpórea de Jesus.
O autor ainda fala sobre as pessoas desejarem serem direcionadas e dominadas para se eximirem da responsabilidade de tomar as próprias decisões. Ainda que tomar a direção dada por Deus envolva aparentes riscos, a permanência em Jesus é a garantia de paz em profundo caos. Muito do medo em encarar o novo passa pelo receio da reação dos outros se falharmos. Isso passa muito pela nossa intencionalidade em agradar e de manter uma aparência para os outros. Temos que recordar que Deus nos concedeu o Espírito da liberdade que é responsável por fazer a transição onde deixamos de nos mover buscando a aprovação alheia.