spoiler visualizarJéssica 23/04/2013
Princesa - O livro que mais me provocou arrepios esse ano.
Me deparei com esse livro por acaso, enquanto caminhava por entre as prateleiras da Livraria Nobel de Torres (RS) durante o feriado de Carnaval. Eu estava procurando, pra falar bem a verdade, um pouco de literatura clássica brasileira, porém, quando uma amiga minha mostrou esse livro, me interessei de cara pelo título e pela capa - me julguem!
Princesa - A história real da vida das mulheres árabes por trás de seus negros véus.
Um título forte e longo que já dizia muito por si só. E, totalmente envolvida, não houve a menor possibilidade de eu devolver esse livro para as prateleiras, de modo que entrei na fila - enorme, diga-se de passagem - do caixa e o comprei.
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O livro narra a história real de Sultana - nome fictício, como a autora faz questão de salientar logo no começo - que é uma princesa na Arábia Saudita.
Todas as vezes que eu ouço a palavra princesa eu a associo à mulheres privilegiadas, lindas, que nasceram em berço de ouro e podem ser tudo aquilo que elas quiserem. Ledo engano o meu. Nem todas as princesas são paparicadas e a minha visão Disney quanto a essa palavra logo começou a se dissipar.
Apesar de ser nobre, Sultana tinha o mesmo fardo que toda mulher muçulmana precisava carregar: o de se conformar em ser apenas um objeto em poder dos homens. Na Arábia, as mulheres são praticamente nada, não sendo sequer registradas quando nascem.
O livro nos faz embarcar na história de Sultana, que nos apresenta um lado perverso da humanidade, que ninguém quer acreditar que seja real, através de sua própria história entrelaçadas com a de outras pessoas, outras mulheres oprimidas como ela.
Sultana quando jovem era bastante espirituosa, tendo tentado resistir bravamente as algemas que a sociedade tentava lhe impor. Mas para alguém como ela, era difícil se livrar das amarras de uma sociedade tão fechada quanto a muçulmana.
Assim que suas regras chegaram, como qualquer outra menina, ela foi considerada mulher e, como tal, obrigada a cobrir o rosto e o corpo que deveriam ser guardados.
Casou-se cedo, com um marido que parecia compartilhar de suas ideias revolucionárias no começo, mas que com o tempo se mostrou igual a todos os outros homens que ela conhecera.
Sultana ainda conta histórias como as de sua irmã Sara, que me trouxeram lágrimas aos olhos. Ou de suas amigas e conhecidas, todas com finais, senão trágicos, muito diferente do que elas queriam.
A escrita do livro não é nada extraordinária, mas os fatos chocam. Chocam demais. Em diversos momentos do livro eu precisei parar para respirar e organizar os pensamentos porque é praticamente impossível não se sentir como uma daquelas mulheres: oprimidas pelo pai quando crianças e mau tratadas pelos maridos quando se casam - sempre muito cedo, por volta dos 13 anos.
São mulheres sem valor, tratadas pior do que o mais sujo animal e que não têm uma lei justa para ampará-las.
As leis do Corão são interpretadas pelos homens da forma como eles bem entendem. E para as mulheres, tudo o que resta é a esperança de morrerem de forma natural, sem serem estupradas, violentadas ou assassinadas como forma de punição por algum crime que, muitas vezes, elas não cometeram.
Com toda a certeza, Princesa foi um livro que me marcou. Tanto que ainda estou emocionalmente incapaz fazer um relato decente dessa história tão tocante. A única coisa que posso fazer é dizer que leiam esse livro, porque apesar de a história ser forte, vale muito a pena.
Pelo menos eu não me arrependi.
Essa e mais resenhas no meu blog:
http://estoriasdacarter.blogspot.com.br/2013/02/sugestao-de-leitura-princesa-jean-p.html