Pandora 29/10/2017Amei, amei, ameiQuanto mais leio Altair Martins, mais embasbacada fico. Sua intimidade com as palavras, o estudo da literatura, as variadas técnicas de escrita, a comunhão entre a realidade e a fantasia, a crueza de alguns textos e principalmente o seu talento para mesclar tudo isto me impressionam e me deleitam.
São 18 contos divididos em quatro partes: chuva na cara, depois da chuva, garoa e água com gás.
"Chuva na cara" é uma tempestade de granizo, uma enxurrada, um tsunami nas ideias. Altair consegue nos deixar de cara no chão no último parágrafo, na última frase, no ponto final. Ele diz as piores coisas do jeito mais plácido do mundo. É minha parte preferida do livro.
"Depois da garoa" tem um conto único repleto de referências à literatura, matemática, psicanálise, artes plásticas, filosofia, física, química... tudo junto e misturado numa loucura que eu transformei em uma viagem visual e dos sentidos, o que resultou numa experiência fantástica para mim.
"Garoa" tem os contos mais curtos e menos diretos, uma mescla de história, ecologia e pesquisa e foi a parte que menos me interessou.
"Água com gás" reúne contos em que a narrativa flui para um realismo fantástico, que ora só se faz perto do fim, ora no decorrer da trama, abordando temas como: relações familiares, medos, alucinações, ditadura, renovação. Apesar de ter adorado todos desta parte, ressalto "patologia de construção", que me fez rir muito.
Altair Martins não nos economiza; ele nos coloca pra pensar. E eu a-do-ro isso!
Enfim, amei... amei... amei.