nicolasramos 01/09/2022
Essa obra custou tempo e muito esforço para ser lida, sendo, de longe, o livro mais arrastado que já me deparei na minha vida. "Assombro" começa com uma proposta confusa, porém bastante autêntica. Quem lê a sinopse consegue ao menos vislumbrar uma ideia do que lhe espera ali. Livros que surpreendem em relação às suas sinopses são bem-vindos, mas não nesse caso. O que Chuck Palahniuk cria aqui é um bicho de sete cabeça, o qual aposto que nem mesmo ele conseguiu decifrar.
O primeiro contato é espirituoso, irônico e lhe prende ao ponto de se ver debruçado sobre as páginas tentando entender a grande variedade de personagens que lhe são ofertadas, cada qual com um codinome único e uma promessa de desenvolvimento. Passa-se para o primeiro conto, suas expectativas atingem níveis catastróficos, com certeza o autor lhe resguarda um universo de horrores grotescos, conspirações mirabolantes e uma hipertrofia que solidifique a obra. Nada disso acontece, pelo contrário, tudo o que se constrói ao longo das páginas é rapidamente substituído a curto-prazo por uma nova camada desconexa. Repetitivas vezes.
Os furos são inaceitáveis e a ganância de Chuck em detalhar meticulosamente tudo o que acontece resulta em um assassinato instantâneo do entusiasmo do leitor. Pouca importância se dá a história principal. Nos intervalos entre contos, o foco narrativa é míope e parecer enxergar apenas os cenários temáticos e as falas exageradas e pouco, ou nada, alinhadas com a realidade.
Para justificar a minha nota, que também não está alinhada com essa resenha, alguns contos isolados são responsáveis por reerguer esse desastre e garantir a ele alguns pontinhos: O agonizante "Tripas", como citado no início da resenha, conto que inicia os trabalhos do livro, o sarcástico "Favelando", o bem-escrito "Dissertação" e o criativo "Obsoletos" são alguns bons exemplos contidos no livro. De forma geral, a maioria dos contos conseguem sustentar todo o processo, o problema claramente está na história que os interliga.
Por fim, tem-se um desfecho preguiçoso, como quem pressente o insucesso que aquilo havia sido e resolve simplesmente jogar tudo ao ar, apostando em plot twists que não colam e um viés filosófico vazio. Apesar de tudo, não sei como seria possível criar "Assombro" sem o contexto inicial o qual interliga os contos como um tendão rompido interliga os músculos ao ossos; Débil, mas ainda um ligamento. E, por mais que alguns bons momentos marquem presença, a solução que lhes dou é a de simplesmente não ler mesmo, passem longe desse livro!