Anna Karénina

Anna Karénina Leon Tolstói




Resenhas - Anna Karénina


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Paulo 01/08/2022

Coadjuvante da Própria Vida
O livro leva o nome dela, mas não é somente sobre ela. Começa com outros personagens e ela só aparece páginas depois. Já se torna secundária em seu próprio livro e já é apresentada à nós com o destino traçado.
Se tornando coadjuvante da própria vida, domada pelos desejos que a controlam e tendo consciência disso, a vergonha de si e de seus atos a atormentam. Mas essa vergonha não basta, pois não é mais dona de si, e sim serva desses seus desejos. Ela sabe que é a pior, reconhece em si isso e orgulha-se da sua situação, nada à pode humilhar pois se sente elevada e firme, tudo se transformou quando começou a amar Vronski.
O amor é como a escarlatina, todos tem que passar, e mesmo a situação em que se encontra ser a de felicidade, é também a de desgraça. Por esse amor desraigado, passou por situações vexatórias na ópera, perante a sociedade que não mais a aceita, e até na sua antiga casa, onde os empregados a ajudam ás escondidas à ver o filho. E todas essas situações são enfatizadas por esse castigo recair somente do seu lado, enquanto Vronski continua vivendo sua vida do jeito que bem entende. E toda essa dor, nem a faz se questionar perante a situação em que se encontra, é algo impensável. Citando o seu marido "pode salvar-se uma pessoa que não quer perecer, mas quando a natureza está tão deformada e pervertida que só a própria perdição se lhe afigura a salvação, que havemos de fazer?".
As transições dos dois personagens mais fortes do livro, contribuem para uma comparação de estilos. Liêvin, enquanto é do campo, introvertido e interiorizado em sentimentos, a tudo quer exteriorizar. Quer fazer acontecer, trabalhar a terra, modificar o meio em que vive e conquistar seus sonhos. Fixo ao chão e em grande parte do livro, descrente em Deus. Ana, por outro lado, é da cidade grande, extrovertida e desnudada com seus sentimentos perante a sociedade que a cerca e a maldiz. Quer interiorizar tudo, fugir de tudo, até da própria situação (mesmo esta sendo impossível). Sempre ciente de seu pecado, está constantemente a se lamentar e teme o castigo que Deus tem reservado à ela.
Nos deparamos também com diversos personagens e todos eles, tem a sua voz, mesmo que por algumas linhas. Até a égua de Vronski que morre com os olhos suplicantes. O livro também traz à tona, problemas como a maternidade e obrigações das mães nas divagações de Dolly e dos privilégios e consciência dos mesmos, nas conversas de Liêvin. E o marido e o amante terem o mesmo nome é como se fossem as duas faces de uma mesma moeda!
Os sentimentos não tem nomes, mas são narrados com tanta maestria que nos encontramos em muitos deles. Como na parte em que o irmão de Liêvin decide se declarar para a moça, mas algo o prende e o momento se passa e tudo acaba. Qual o nome para esse sentimento? Não tem, mas é algo pelo qual já passamos e entendemos. Liêvin não conseguir ficar bravo com Kitty por ela ser uma extensão de si mesmo. A morte do irmão Nicolau com todo aquele sofrimento sujo e lento. Tolstói imortalizou a psique humana para sempre. Naquela época esse tipo de sentimento e pensamento já existia e hoje nos deparamos com os mesmos. Penso que daqui a 100 anos continuarão a existir também, pois mesmo evoluindo, vamos sempre pertencer a determinados nichos e enraizados e até presos (mesmo sem a compreensão desse último) em ideais, como crença, grupos sociais e estilo de vida e que se você pensa diferente, não se encaixa.
A sombra da morte está tão intrínseca na situação miserável da vida de Ana, que mesmo antes de Vronski, no começo do livro, ela já vislumbra e se sente afetada por quem morreu nos trilhos do trem. E isso a persegue subconscientemente (enfatizado pelos pesadelos) durante o livro todo, pois só havia um final para ela. Nas duas versões de sua vida só havia essa saída. Continuar nessa água rasa, casada e na sociedade, ou viver esse amor feroz e arrebatador e ser destituída de tudo o mais. O trechinho da bíblia que dá início ao livro, não é somente sobre a vingança dela para com Vronski, mas também dela para consigo mesma, para com sua própria vida, é o descanso para todo esse tormento.
Todo mundo é Ana e todo mundo é Liêvin, se identificar com eles, é conhecer a si mesmo.
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Ricardo Rocha 03/10/2016

tenho lido algumas coisas que me fazem querer reler anna porque penso por exemplo como pode ser que tanta gente reclame das passagens sobre agricultura e política da época ou que se atenham ao adultério como principal motivo do livro e imagino que a perfeita primeira frase ou para ser mais justo toda a primeira cena na casa dos Oblonski encerre um resumo de tudo incluindo digamos num sentido das geórgicas e talvez de Rousseau até porque politica nunca é de época mas sempre estamos atualizando esse conceito. quando diz que a pobreza russa provinha não só de uma má distribuição das terras e de uma orientação equívoca, mas também de uma civilização estrangeira enxertada no país durante os últimos tempos e muito principalmente dos meios de comunicação pois os caminhos de ferro haviam determinado a centralização nas cidades e concorrido para o desenvolvimento do luxo toltoi está falando tb dos dias de hj e sem dúvida isso de a espiritualização da paixão levar à serenidade e a paixão em si à tragédia pede o bom senso de uma atualização para o meio-termo, nem uma coisa nem outra mas ah o meio-termo que pede sensatez parece ser em qualquer época e sobretudo hj condenado. mas Levin e Kitt poderiam sim ter uma paixão avassaladora a partir de certas descobertas feitas sem necessariamente sair de casa embora pareça que ninguém está muito disposto a tentar
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