Ednelson 04/12/2012
Análise:
“[...] ela não podia resistir às carícias dele e ao próprio desejo. Por isso, não ofereceu qualquer resistência quando ele segurou o seu rosto entre as mãos, fitou seus lábios por longos segundos e a beijou intensamente.”
—Pág. 143.
Saudações, caros leitores! O livro de hoje é muito especial, não que os anteriores não foram importantes, mas por esse tenho um carinho maior porque vejo a autora como uma grande e especial amiga por três fatores: O seu talento em escrever tramas que envolvem questões sociais, a simpatia ao dialogar com os seus leitores e fãs (estou incluso aqui) e também porque foi a primeira escritora a apoiar o extinto Policial da Biblioteca, após ler uma resenha feita por mim e dar-me elogios tão generosos, isso me incentivou ainda mais a me dedicar na hora de escrever uma resenha. Contudo, não pensem que as palavras a seguir foram frutos de uma mera amizade, pois ao ler “Doce Perseguição” deixei de lado um pouco o aspecto fã e conduzi meus passos como um leitor o mais critico possível, pois antes de qualquer coisa, meu objetivo é auxiliar os autores a conseguirem o melhor de si mesmos.
O primeiro componente da obra que desejo comentar é a capa. É muito interessante como algumas cores, dependendo do tom, conseguem nos remeter à emoções específicas e é justamente à paixão que o fundo negro com uma “película” vermelha por cima, deixando as peles dos personagens da foto nesta cor, me remeteu. Os lábios prestes a se tocar passam uma sensação forte, pois deixa no ar uma expectativa sobre como será quando o beijo acontecer, assim como os olhos fechados retrata uma entrega completa ao sentimento, afinal não enxergar abre as portas para uma variedade enorme de riscos. Achei a capa excelente, visto que se alia perfeitamente à história.
É notável a maneira como a Janethe evoluiu a cada novo livro, sua narração está mais lapidada e consegui ver em “Doce Perseguição” ainda mais traços que o distinguem de seus dois livros anteriores, algo que mostra amadurecimento e capacidade de sempre se reinventar como escritora. Nesse livro o foco da história e como ela acontece é totalmente diferente dos seus primeiros trabalhos e digo com convicção que é o seu melhor até o momento, mas percebo que ela ainda pode nos presentear com textos mais fascinantes.
O cerne dessa obra é Graziela, uma jovem cujo ódio pelo assassino de sua irmã é tão poderoso que ela acaba sabotando a sua própria vida, pois sem resolver esta questão de seu passado, avança muito precariamente para o futuro, isso quando não permanece “paralisada” emocionalmente, não conseguindo perdurar em outros sentimentos se não a raiva. Ela é um ser humano e como qualquer outro está passível de cometer erros, dos mais grosseiros até os mais sutis, mas os leitores com olhar mais aguçado vão perceber o quanto a Ira dela é perniciosa, turvando seus julgamentos e sendo espinhos em suas ações, causando aflições de fácil solução, mas que ganham proporções ampliadas graças à sua fragilidade emotiva. Esse ponto, com certeza, nos faz pensar em quantas ocasiões sucumbimos a um impulsivo destrutivo, tornando as coisas ainda mais complicadas e no final das contas não resolvemos nada e provavelmente só fizemos aquilo que alguns podem condenar na personagem, enfim, esse é um aspecto empolgante, visto que convida o leitor a refletir sobre si mesmo.
Como notaram, a causa de toda a angústia da personagem é ela mesma, pois ela opta em alimentar um sentimento que aumenta a ferida e não elucida nada, diferente dos livros anteriores em que as protagonistas eram vítimas de um agente externo e opressor e buscavam romper com isto. Antes, os inimigos eram menos perigosos, uma vez que eram agentes dos quais era possível se afastar fisicamente, mesmo que não psicologicamente, mas agora o adversário oferece um desafio maior, o adversário de Graziela é sua própria mente, seus medos. Como fugir de si mesmo? Não há como e qualquer coisa que der essa impressão é somente uma trilha para a autodestruição.
Para conceder ao enredo um tempero ainda mais saboroso, a Janethe colocou um romance na obra, mas acreditem, na mesma proporção em que ele é ardente, com cenas que não vão decepcionar os fãs de romances adultos, constantemente solta algumas faíscas que ameaçam destruir tudo, mais uma vez a negatividade sentimental de Graziela a impede de viver várias vezes a intensidade de algo belo.
No começo o romance que Graziela iniciou na adolescência é evidentemente baseado em uma atração puramente física, ebulição dos hormônios, natural para essa fase da vida, mas isso acaba se estendendo ainda um pouco para a fase adulta. As primeiras cenas do enlace amoroso são bem elaboradas, mas deixa a desejar no quesito profundidade de sentimentos, alguma coisa para me cativar mais, ainda bem que isso não foi algo que tomou muitas páginas e o sentimento aumenta de complexidade e não se prende unicamente ao contorno mais erótico da relação. Não que erotismo seja defeito em um texto, mas quando usado em demasia, sem uma base de ideias que instiguem a reflexão, acaba empobrecendo a escrita.
A obra também contém elementos de suspense, um mistério que ora fica sob os holofotes, ora cede espaço para questões diversas, mas sempre está por perto nos fazendo olhar pelos cantos dos olhos a cada nova informação obtida. O que era óbvio vai crescendo e se insinua como uma conspiração para preservar alguns indivíduos, mas no desfecho surpreende bem mais do que eu esperava. A autora conseguiu fazer uma virada na história quando nada mais parecia possível de ser mudado, mas sem deixar lacunas.
A Janethe me surpreendeu mais uma vez com a sua renovação literária, mudando os ares de sua escrita, mas sem perder a característica de denúncia social que tanto está presente em cada uma de suas letras e que me cativou desde que a conheci. Nesse caso, o tema foram os crimes passionais. Com certeza posso afirmar que seus próximos livros tem tudo para serem leituras obrigatórias para muitas pessoas, mais do que os já lançados são, visto que a sua ascensão está sendo muito bem construída e cada degrau está mais firme que o anterior. Parabenizo a autora, desejo muito sucesso e dou quatro selos cabulosos e meio para o livro! Leitura recomendada para refletir sobre as nuanças do amor e da paixão.
Escrevo no: http://leitorcabuloso.com.br/