Fronteira

Fronteira Cornélio Penna




Resenhas - Fronteira


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Livs 05/12/2023

O livro faz parte dos romances intimistas da década de 30 do modernismo brasileiro. Usando de técnicas de romance psicológico, é uma leitura que demanda muita atenção e muita análise parágrafo a parágrafo. Com isso, não é um livro fácil de ser lido, apesar de super pequeno em tamanho, mas é uma boa narrativa pra analisar jogos de poder e o psicológico das personagens
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MatheusPetris 30/07/2023

Há, neste romance-inaugural da prosa de Penna, uma certa atmosfera que se encadeia de forma paulatina. Tal encadeamento se estrutura em torno de mistérios: Quem é o narrador-personagem, aquele que escreveu o diário? Quais mistérios guardam a família de Maria Santa e de Tia Emília? Quais mistérios essa casa guarda? Que papéis são esses que um Juiz levou para a casa? E há mais, mas quase todas sem respostas. Um passado sangrento se esconde.

A atmosfera de mistério faz com que enxerguemos apenas penumbras. É o que a narrativa revela no plano do conteúdo. Ao invés do protagonista jogar luz sobre as cenas que se desenrolam em sua frente, ele joga sombras. Cenas acontecem, causos ocorrem, personagens conversam, enquanto nós, leitores, acessamos apenas as impressões subjetivas dele, suas angústias, suas dores. Um certo torpor embala seu caminho, anuviado do onírico. O insólito reside menos no mistério que envolve toda a atmosfera da trama, do que em conversas banais com pessoas que sabem mais sobre o protagonista do que ele próprio.

Logo no início do livro, é o diarista-protagonista quem diz: “Parece-me que entrei nesta cidade furtivamente como alguém que volta da prisão”. Similar ao que acontece no conto O Regresso, de Miguel Torga, enquanto o protagonista de Torga retorna ao seu país depois de voltar da guerra e notar uma enorme muralha entre seu passado e seu presente, decidindo não retornar após ser questionado por uma criança, que pergunta quem ele é, o protagonista de Penna retorna, mas continua sem saber quem é. Citando novamente Torga: "Nem o nome que recebera na pia baptismal o designava já, porque no homem passado não cabia o homem presente".

Uma lassidão envolve essa personagem, o tempo da narrativa se retarda, se condensa. Há tanto sofrimento e dor, que a relação entre o que é sonho, devaneio e realidade, deixa de ser uma questão para o livro. O sagrado e o profano se entrecruzam. Na espera pelo milagre de que Maria Santa é protagonista, uma tensão sexual existe entre ela e o diarista.

Ele se envolve pelo erótico, mas acima de tudo, pelos mistérios que se anuviam em sua frente. Suas caminhadas por outras casas, por escadas, por uma Igreja, intensifica sua imaginação “inquieta e doente”, nas palavras dele… É nesse sentido que o título se estabelece, a fronteira entre loucura e razão, o que nos é revelado pelo curto epílogo… que também pouco explica.

“Que segredo guardaria aqueles móveis velhos e cansados?” A pergunta que Ele se faz e nós, mesmo ao fim da leitura, também.
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Ariana87 09/04/2022

Meu Deus, o que foi tudo isso que eu li?
Esse é sem dúvida alguma o livro mais estranho que eu já li e não acho que vou achar um parecido tão cedo(exceto os do próprio escritor, talvez).
Eu nunca tinha lido um livro que parece flutuar como esse, a interioridade das coisas sempre me causam confusão, e por ser um livro que adentra demais a psiquê do protagonista é um livro extremamente difícil. Separar realidade da ilusão, sanidade da loucura é tarefa complicada do leitor. E é ai que está o pêndulo do poço, o título do livro, fronteira. O protagonista está sempre no limiar, me causando desconforto no começo e meio do livro.

Esse livro tem muitas camadas, e buscar entender todas as estrelinhas é essencial para não ficar louco. Há muitas facetas, de muitas coisas, até mesmo o próprio gênero do protagonista só é revelado quase no final e por apenas uma palavra, é preciso estar atento.

Eu fiquei muito surpresa desse livro ser quase completamente desconhecido, porque eu o considerei de uma certa genialidade, são poucos escritores que conseguem escrever dessa forma mais interior. E o livro se passa no sertão brasileiro!

Maria Santa, Emiliana e a Viajante são personalidades extremamente difíceis de entender, são de uma complexidade que me deixaram atormentada, o próprio protagonista só é mais facilmente compreendido porque estamos constantemente na sua mente, mas ainda assim é impossível compreender totalmente.

Eu fiquei um pouco confusa sobre o papel de Deus nessa história.
Talvez tudo fosse só loucura mesmo.


Ps. Você não terá todas as respostas.
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Glauber 23/01/2021

Estilo fascinante
Este é o primeiro livro do autor. E já nele pode-se ver marcas do estilo que iria culminar em sua obra-prima: "A menina morta".

Em "Fronteira", a história se passa em um cidadezinha do inteior de Minas Gerais, na maior parte do tempo, no interior de uma casa, e, mais ainda, no interior dos personagens.

É uma narrativa na fronteira entre o sonho e a realidade. E nessa tensão, o narrador sonda os mistérios da alma e do destino humano, em um clima psicologicamente sombrio.

A obra é densa na sua tentativa de trazer à luz, ou melhor, à penumbra, questões subjetivas, universais.

A linguagem é predominantemente poética e reflexiva, beirando o gótico, em jogos de luz e sombra que marcam o estilo do autor, que pode dizer muito enquanto fascina.
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