Davi 29/06/2020
Retrato de um povo múltiplo
O que Darcy Ribeiro faz aqui é um trabalho hercúleo: explicar como nosso povo e nossa identidade foram forjados, desde o princípio. Para ele, tivemos, além do ponto de partida inicial, a construção de vários Brasis, mas todos formadores de uma futura singularidade.
Do movimento econômico e seu extrativismo, o surgimento do protobrasileiro e suas futuras gerações. O preto, o indene, o ibérico, todos povos múltiplos, aqui amalgamados. A visão qualitativa de Darcy é única e o domínio sobre o tema, inegável. Ele retrata o sofrimento do preto deafricanizado, do índio tornado genérico. A escravidão dos dois. O movimento absurdo da escravidão e seus castigos desumanos, o mulato, o caboclo a formação minifundiária e latifundiária, as disputas, as fronteiras, os hábitos.
Embora haja referências muito bem contextualizadas, a obra possui longos trechos sem referência, o que não minimiza seu valor, mas pode criar desconfiança ideológica em alguns, o que pode ser sanada com ainda mais leituras. A narrativa vertebral é linear, mas logo nos acostumamos com os muitos momentos não-lineares do estilo de Darcy.
Leitura obrigatória para entender como chegamos aonde estamos, embora não encerre o assunto: o próprio Darcy o reconhece. Embora não fosse o viés, a obra, claro, possui um caráter historiográfico e a apresentação mais detalhada das datas ao máximo possível poderia enriquecer o texto ainda mais. Vale ler e ter na estante. A história da gente. Única e ainda em formação.