jota 21/04/2012No engasgoNo Sufoco me pareceu, antes de mais nada, uma comédia de humor negro. Amplamente recheada de sexo e escatologia: aqui todos os buracos do corpo humano e suas secreções desempenham papel importante e não apenas o protagonista, Victor Mancini.
Victor é verdadeiramente um sexólatra, ou seja, alguém viciado em sexo em suas várias formas. Não há nada que o impeça de transar; qualquer lugar se tranforma numa alcova digna de um Marquês de Sade: de um confessionário de igreja até a apertada cabine de um avião, passando por um estábulo e várias outras dependências curiosas.
Além de desempenhar um personagem num parque de história viva americana do século XVIII, Victor também ganha a vida - melhor seria dizer o dinheiro dos outros - fingindo engasgar-se com a comida em bons restaurantes. Com esses golpes ele arranja dinheiro para sustentar a mãe Ida Mancini, uma doida varrida que está internada num sanatório e lhe custa US$ 3.000 por mês.
Quando faz as visitas à mãe Victor encontra os demais doidos de pedra internados ali e temos situações que beiram mesmo a loucura de tão engraçadas que são. Numa dessas visitas ele conta:
“Duas velhas sorridentes passam por nós. Uma delas aponta e diz à outra:
- Este é o rapaz simpático de quem eu falei. Foi ele que estrangulou meu gato de estimação.
- Não diga. Ele quase matou minha irmã de pancada certa vez.”
É claro que Mancini não aprecia violência desse tipo, embora uma de suas conquistadas um dia queira encenar com ele um estupro, uma das passagens mais engraçadas do livro, pois é pura ficção, claro. Ele topa tudo, pois sendo viciado em sexo, está sempre aberto a novas experiências. Victor frequenta as reuniões dos Sexólatras Anônimos não exatamente para se curar, mas para encontrar ali novas parceiras sexuais...
Também são curiosos os ensinamentos que Ida, sua mãe, vai lhe passando ao longo da história (nos flashbacks) enquanto ele é apenas um garotinho inocente. Numa dessas vezes ela o leva ao zoológico para que ele observe os animais se acasalarem. Bem, com uma mãe dessas, o que se podia esperar de Victor quando ele crescesse; boa coisa?
Se você leu Sobrevivente (outro livro de Chuck Palahniuk que trata de personagens e situações inusuais), e gostou, talvez vá gostar ainda mais deste No Sufoco, bem mais exagerado do que aquele. Não li Clube da Luta, seu livro mais conhecido. Está em minha fila de leituras para este ano ainda.
Lido entre 18 e 21.04.2012.