Filino 28/06/2020
Uma das mais importantes obras de Agostinho - e do Ocidente
Percorrer as mais de quinhentas páginas que compõem essa edição é uma tarefa gratificante para aquele que deseja conhecer melhor as críticas que um dos mais importantes pensadores do Ocidente dirige aos detratores da fé cristã. Nesse escrito, Agostinho ataca diretamente os romanos que tentavam atribuir a culpa dos males que padeciam (o Império Romano do Ocidente estava ruindo, no início do século V), mas "esqueciam" que antes mesmo desses males houve tantos outros que - curiosamente - não foram atribuídos aos deuses que veneravam. Ressalta ainda o bispo de Hipona o costume (respeitado até por bárbaros) de serem acolhidos, nos templos cristãos, aqueles que fugiam dos conflitos. E, ainda assim, esses mesmos que tinham a vida poupada não tardavam a detratar o Cristianismo.
Mas a observação acima é apenas uma das tantas que constituem o manancial de ataques dirigidos por Agostinho em defesa da fé cristã e contra os deuses romanos. Nos primeiros cinco livros que compõem essa edição, o bispo de Hipona procura demonstrar o absurdo de se dirigir culto àqueles deuses ao se buscar alguma vantagem terrena. Nos cinco últimos livros, demonstra-se o igual absurdo de louvá-los tendo em vista uma vida após a morte.
Nesse itinerário, Agostinho não apenas desenvolve, dentro da perspectiva cristã, os argumentos que fazem parte do seu credo, contra os romanos. Também traz à discussão autores como Cícero, Varrão e Apuleio, bem como Platão (tido como o que mais se aproximou da verdade cristã; verdadeiro príncipe da filosofia entre os gentios), Plotino e Porfírio. Agostinho demonstra aproximações e dissonâncias entre esses pensamentos e a doutrina cristã - e com isso fornece uma interessantíssima leitura do platonismo.
Uma obra riquíssima, enfim. Extensa em páginas e profunda em conteúdo - mas com a redação clara e apaixonante que é típica de Agostinho.