gabriel 05/06/2023
Ideia boa, formato mediano
Vou colocar uma nota relativamente alta a esta leitura, porque a ideia em si é boa: oferecer autores clássicos da filosofia política, com um texto de apresentação dos especialistas (pessoas da academia com histórico de pesquisas/publicações no autor), e depois, trechos do próprio autor selecionados.
É uma ideia boa, pois um dá o gancho para o outro: o texto de introdução "convida" a leitura (meio que como uma "provocação" a ela) e atiça a curiosidade (ou, pelo menos, deveria atiçar); e, ao mesmo tempo, serve como uma chave de leitura, ou seja, um facilitador de uma leitura com fama de complicada.
O problema está em como isso foi feito e na diversidade de estilos dos autores. Destaco aqui Renato Janine Ribeiro, que nos ofereceu um texto interessante sobre Hobbes, mas cheio de vícios acadêmicos, e com a opção desastrosa de inserir trechos do autor no seu próprio texto. Sei que essa é uma prática comum em revistas acadêmicas, mas aí é que está: esta é uma revista acadêmica?
Isso é ainda pior para mim, pois leio a versão em e-book. Imagino que na versão impressa, dê pra identificar o que é Hobbes e o que é Janine. Aqui, sumiu tudo, então as duas coisas se misturaram completamente. Uma tragédia!
Achei que faltou uma linha editorial mais clara, afinal, é uma obra para introduzir autores do gênero, então poderia ter facilitado um pouco com textos mais acessíveis. Não precisa fazer piadinha, nem colocar desenhos nem nada, mas um texto um pouco mais arejado. Um revisor ou um editor mais com esse olhar, seria algo desejável.
Temos aqui um cardápio enxuto, porém certeiro, com Maquiavel, Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau; e um texto interessante sobre a publicação "O Federalista", no coração da independência norte-americana.
São textos interessantes e que dialogam um com o outro, principalmente "O Federalista" com o resto. Ficou legal saber como as teorias políticas desembocaram, na prática, na formação política daquele país. Faz você acordar pra realidade e ver algumas implicações reais das teorias políticas.
O contraste entre os estilos de redação é esperado e não pode ser completamente eliminado, faz parte da natureza de textos com seleção de autores. Mas o ranço acadêmico poderia ser melhor administrado.
Isso fica claro quando vamos ler um Rousseau, por exemplo, um autor com um toque literário muito presente, contrastando com os próprios comentaristas. É um caso de inversão de valores, pois geralmente acontece o oposto (comentaristas aliviam e autor "original" pega pesado).
Apesar das críticas, é uma leitura muito interessante, e muito feliz em incorporar trechos dos autores originais (sempre muito mais ricos que qualquer comentário). A leitura é, no mais, relativamente acessível.
Destaco aqui Maquiavel, um dos pensadores mais interessantes (e mais incompreendidos) da história do pensamento político, mas todos eles têm algo a acrescentar.
Não consegui, de momento, checar, mas parece que essa coleção possui apenas dois volumes. O segundo chega no Marx e em outros pensadores. Aqui, trata-se apenas do primeiro volume.
Vale a pena pegar para ter um resumão básico e confiável, com a grife dos chamados "especialistas" (que não devem ser lidos sem sua dose de crítica), só que textos um pouco acadêmicos demais, explicações por vezes incompletas e falta de uma uniformidade no tratamento do texto, me fazem retirar uma estrela.