Fabio Martins 07/08/2015
Os miseráveis
No ano de 2000 tive a oportunidade de assistir à peça O Fantasma da Ópera (The Phanton of The Opera, no original), em Londres. Fui ao teatro com poucas expectativas, pois tinha apenas 11 anos – e dizer a alguém dessa idade que vai assistir a uma ópera nem sempre soa de forma atraente. O resultado desse dia foi que eu tive uma das mais fantásticas experiências da minha vida. A música, o espetáculo, a história e o ambiente me fascinaram. Não é por acaso que a peça está atualmente em seu 25º ano em cartaz em Londres.
Pouco tempo depois que voltei de viagem, chegou ao Brasil o espetáculo Les Misérables (Os Miseráveis, em português), outra enorme produção mundial, baseado na obra clássica do francês Victor Hugo. Acabei não assistindo, mas esse nome ficou na minha cabeça por anos. No começo de 2012, vi em uma livraria uma edição especial do livro Os Miseráveis. Uma obra de mais de 1.400 páginas, com capa dura preta e roxa e páginas com bordas pretas. Não comprei devido ao elevado preço, mas novamente esse título me chamou atenção.
Quando descobri que no final deste ano será lançado um novo filme sobre a obra, finalmente tomei coragem e decidi encará-la. Publicado em 1862, a história se passa entre a batalha de Waterloo – travada pela França de Napoleão Bonaparte contra a Inglaterra, Prússia e Holanda –, em 1815, e os motins contra o governo que assolaram a França em 1832.
Por roubar um pão que queria dar aos seus sobrinhos famintos, o jovem Jean Valjean foi preso. E depois, por tentar fugir diversas vezes, ficou na cadeia por 19 anos. Diante de tantas injustiças e vida dura, Valjean torna-se uma pessoa má, fechada e descrente. Em sua saída da prisão, sofre com o preconceito e não consegue sequer um lugar para dormir, até ser aceito na casa do bispo Bienvenu, da cidade de Digne. Durante a madrugada rouba o os talheres de prata do bispo e foge, mas é preso novamente. Os policiais o levam até a casa de Bienvenu, mas o bispo diz que ele presenteou Jean Valjean com os talheres e ainda deu um castiçal para o ex-prisioneiro seguir sua jornada.
Começa então um choque de pensamentos na cabeça dele. Não via tanta bondade há anos e ainda seguia descrente com os seres humanos. Afinal, é possível ser uma pessoa boa, correta e que ajuda os outros? Ele não sabia. Nesse conflito, rouba uma moeda de uma criança, se arrepende e chora copiosamente.
Entra em cena na trama a jovem Fantine, que foi abandonada grávida por seu namorado. Após o nascimento da pequena Cosette, ela vai tentar a vida na cidade de Montreuil-Sur-Mer, mas no caminho deixa a filha recém-nascida com a família Thénardier. Montreuil-Sur-Mer prospera graças aos negócios do rico e benfeitor Pai Madeleine, que se torna prefeito da cidade e dá emprego a Fantine em sua fábrica de tecelagem. Porém, Fantine é demitida sem o consentimento de Pai Madeleine após fofocas das companheiras sobre ela ser mãe solteira.
Sem dinheiro para enviar aos Thénardier para os cuidados de Cosette, Fantine entra em desespero e vende seus cabelos, seus dentes e até mesmo seu corpo. Não demora muito e ela é presa por Javert, policial da cidade. Porém, é solta por Pai Madeleine, que passa a cuidar de sua saúde, já debilitada.
É neste momento que a história tem sua reviravolta. Pai Madeleine descobre que o fugitivo Jean Valjean foi preso e será julgado. Porém, ele é Jean Valjean. Com peso na consciência, decide de uma vez por todas revelar sua identidade e se entregar. Antes de ser preso, promete a Fantine – que está à beira da morte – que vai cuidar de Cosette.
Jean Valjean foge novamente da cadeia e vai buscar Cosette na casa dos Thénardier. A partir deste momento, ele dedica toda a sua vida pela felicidade da menina. Isso dura até o momento em que ela, já adolescente, conhece o jovem Marius e a história ganha uma nova trama e tem outra reviravolta...
Os Miseráveis é um livro fácil de ler. Victor Hugo passa a impressão de que pensou e analisou bastante cada palavra que inseriu no livro e isso o torna tão agradável de ler. Cada palavra é cirúrgica e bem colocada. Já a narrativa é bem clara e descritiva. É tão descritiva e detalhista, que em algumas situações até cansa o leitor, como quando a batalha de Waterloo é contada nos mínimos detalhes estratégicos somente para situar o ano em que a história se encontrava. Porém, isso não atrapalha ou diminui essa obra-prima.
Além de ser um ótimo romance, Os Miseráveis apresenta um alto teor político, social e religioso da França do século 18. Ao descrever a vida dos pobres, não os martiriza ou os transforma em vítimas. Coloca-os como parte de um contexto trágico e social. É uma obra monumental, no tamanho e na grandeza.
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