A valise do professor

A valise do professor Hiromi Kawakami




Resenhas - A Valise do Professor


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Ladyce 08/06/2014

O professor como Hermes
Meu conhecimento da tradição literária japonesa é nula. Conheço alguns escritores contemporâneos, mas não o suficiente para poder colocar a obra de Hiromi Kawakami em contexto. Assim, minha leitura de A valise do professor é feita pelos padrões e associações ocidentais. A história de uma simplicidade cativante, contada de modo direto sem rebuscados, de fácil leitura, retrata a vida de duas pessoas solitárias, que se reconhecem, que mantêm um relacionamento morno, e que encontram, no final, uma maneira mais íntima de se relacionarem. Elas são: Tsukiko uma mulher de 38 anos, solteira, que passa muitas de suas noites em um bar, sozinha, bebendo e comendo, sem grandes amigos e o Professor, de quem ela havia sido aluna, que viúvo, também, leva uma vida semelhante, só. Encontram-se em um bar e aos poucos desenvolvem uma amizade, fortemente enraizada na alimentação e na bebida. Apesar dos mais de 30 anos de idade que os separam, Tsukiko e o professor desfrutam de uma relação satisfatória para ambos.

Este é um romance delicado de grande sensibilidade às diferentes exigências que cada um tem para se relacionar com o mundo. Por trás dessa simples história há algo que nos preenche, que nos fascina. Talvez seja porque corresponde ao que trazemos no seio da cultura ocidental: o arquétipo de Mercúrio ou Hermes como psicopompo, um ser que guia a nossa percepção sobre o mundo que nos cerca e media os nossos desejos inconscientes. Neste romance o professor exerce esse papel, o de guia, o papel de psicopompo, abrindo o caminho para que uma nova Tsukiko apareça e saia de seu casulo, que bata asas e viva a vida. E o ponto alto dessa instrução vem com introdução dela ao amor. O professor como um bom guia da alma, oferece novas oportunidades para que Tsukiko aprimore seus sentidos. Ele a acompanha e a ensina a transitar entre os extremos que a vida lhe apresenta. E oferece também uma passagem segura para o conhecimento de sua própria alma. Até mesmo na lida com o submundo ele a guia dos sonhos e pesadelos à aceitação da morte.

O título, que se refere à valise que o professor leva consigo a todos os lugares, corresponde ao arquétipo, pois trabalha com o símbolo da transição, o levar algo de um lugar ao outro. Não importa o conteúdo dessa valise, o que importa é que é o símbolo da viagem, da transição entre dois mundos esteja presente. Quando Tsukiko finalmente recebe a valise e a preserva, sabemos que ela entendeu e está pronta para assumir o papel do professor. Está, de agora em diante, incumbida em ser a facilitadora entre mundos, para quem dela necessite.
Marta Skoober 05/08/2014minha estante
Este é um romance delicado.
Esta é a frase para A valise do professor.


Ladyce 07/08/2014minha estante
Tem razão, Marta.


Eloiza Cirne 23/09/2015minha estante
Bela resenha, fez-me desejar ler o livro.


Patricia677 15/05/2022minha estante
Nossa, que resenha!
A sinopse me chamou a atenção


Patricia677 15/05/2022minha estante
?mas a sua resenha me trouxe a certeza que tenho que ler esse livro!


Ladyce 22/05/2022minha estante
Obrigada, Patrícia!


Matheus 14/11/2022minha estante
Muito interessante o arquétipo presente, não tinha me dado conta




Pri 09/03/2024

Escrita sublime
É um livro sublime, bonito, romântico sem ser piegas. A escrita oriental é diferente da nossa, sem muitos altos e baixos, sem fortes emoções, mas muito bonito.
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Toni 26/11/2018

Podem me chamar de besta, mas um último parágrafo de incomparável beleza, profundamente melancólico e desconcertante, é capaz de salvar até a pior das experiências literárias. Ao menos comigo. Se o livro tiver sido uma boa leitura desde o início, então, como é o caso de ‘A valise do professor’, a gente embrulha com cuidado e guarda livro-e-leitura quentinhos no coração. Neste romance da escritora premiada com o Akutagawa (um dos mais prestigiosos prêmios literários no Japão), uma mulher de 38 anos, Tsukiko, encontra por acaso num bar seu antigo professor de japonês dos tempos do ensino médio, e noite após noite após noite, sem nunca marcar encontros, os dois conversam entre doses de saquê e uma ou outra cerveja.
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Seguindo a precisão ritualística das cerimônias japonesas (como a do chá), a prosa de Kawakami repete gestos e notas e sons e conversas em frases breves e cenas plenas de sentidos ocultos: em meio ao torvelinho de uma metrópole como Tóquio, um universo de sentimentos e percepções se move devagar e quase imperceptível na narrativa de Tsukiko que, como vocês devem suspeitar, acaba se apaixonando pelo professor. Apesar do mundo frenético que circunda as personagens de Kawakami, “A valise do professor” está cheio de momentos de respiros, saídas de escape e grandes vazios. Momentos em que a narradora e protagonista se vê “cercada de tantas criaturas vivas”, e a realidade atravessa os “muros de ar” que construímos ao nosso redor.
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Um romance de fachadas-neon, sons e sabores orientais, caminhadas por ruas tumultuadas à noite e personagens inadequadas com sérios problemas de relacionamentos. Exige, talvez, a título de “advertência”, um pouco de disposição anti-climática por parte do leitor: aqui, o grande fio condutor são os silêncios entre Tsukiko e o professor, tudo aquilo que não é dito enquanto cantam as cigarras e as flores de cerejeira se precipitam ao chão. Nestes tempos barulhentos, um livro que ensina a olhar o silêncio e perceber nele o que falta e o que sobeja nas relações com o outro vem bem a calhar. E eu sou besta, já disse.
Riga 27/01/2022minha estante
Chorei tanto com a última página. Acabei de terminar.


Débora 22/11/2022minha estante
E suas resenhas são sempre sensíveis e precisas...adoro!?




Bazynha 23/09/2022

Falta tompero
Um livro que conta sobre a relação de uma mulher de meia idade com seu professor da época da escola anos depois.

Aborda bem alguns temas, e alguns aspectos comportamentais do japoneses, mas eu esperava um pouco mais da protagonista. Parece que cabe mais à pessoa lírica tratar dos acontecimentos do que dos sentimentos e pensamentos. Fora isso, o livro é muito bom, a leitura é bem fácil e é uma ótima tradução.
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Marlo R. R. López 21/02/2023

'A valise do professor', de Hiromi Kawakami, é uma obra da literatura japonesa urbana na sua essência: um enredo aparentemente banal, um avançar monótono da narrativa que contempla temas como a dificuldade nas relações interpessoais, a solidão, o amor contido, a paixão por comida, a cidade como lugar de encontro e desencontro, e o desespero silencioso daqueles que não conseguem se expressar e encontrar seu lugar no mundo. Tudo isso temperado com belos cenários, silêncios profundos e heranças culturais de tradições milenares.

A protagonista da história é Tsukiko Omachi, uma mulher de meia-idade, de personalidade reservada, solteira, que tem o hábito de frequentar os bares da cidade à noite, degustando a culinária local e bebendo cerveja ou saquê enquanto descansa do trabalho e repõe as energias para o dia seguinte. É numa dessas incursões - no bar de um homem chamado Satoru, um de seus estabelecimentos preferidos - que ela se depara com um dos antigos professores da época da escola. Como não lembra de imediato o seu nome, ela o chama de Professor, muito embora ele se lembre do nome dela (o que é curioso, porque sabemos que normalmente se dá o contrário entre alunos e professores).

Assim tem início uma relação não-nomeada que vai deixando claro, aos poucos, o sentimento de solidão e desesperança que sufoca a ambos, embora ela e ele expressem esse sentimento de formas diferentes e em maior ou menor grau ao longo dos momentos em que estão juntos. É uma amizade curiosa e insuspeita com contornos difusos, que vai se transformando aos poucos em um tipo de relação mais nítida, mas não menos desencontrada.

Confesso que até o capítulo 3 eu não estava muito empolgado (o comportamento dos personagens estava me parecendo meio esquisito, inverossímil), mas depois da excursão para coletar cogumelos nas montanhas eu simplesmente não conseguia mais largar o livro. Há uma tensão entre os personagens principais que deixa o leitor fissurado, em suspense, ansioso para acompanhar cada passo da relação. Certos capítulos são de uma beleza extraordinária, que fazia tempos que eu não via em um livro - destaque para o capítulo das cerejeiras, da viagem à ilha e dos já mencionados cogumelos; este último é uma verdadeira aula de construção narrativa, um primor.

Fiquei a fim de ler outros livros da autora.
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@eleeoslivros 09/10/2021

é um bom livro, com um final ótimo e que nos faz refletir sobre questões como o amor, o estar junto.
achei o professor machista e arrogante!
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Diego Rodrigues 23/09/2022

Essa vai para os solitários
Nascida em Tóquio, em 1958, Hiromi Kawakami é uma escritora japonesa muito celebrada no Oriente e laureada com importantes premiações, entre elas o Akutagawa (1996) e o cobiçado Tanizaki (2001). Sua escrita, concisa, é marcada pelo tratamento sutil de temas como o cotidiano, as relações pessoais, a sexualidade e a solidão. Publicado originalmente em 2001 e trazido ao Brasil pela editora Estação Liberdade, "A Valise do Professor" é um romance curto e de fácil leitura que, tendo como pano de fundo a rica gastronomia japonesa, vai falar sobre "ser sozinho".

Tsukiko é uma mulher comum às portas da meia-idade. Solitária, passa os seus dias entre casa, trabalho e as raras idas ao bar de Satoru. Introvertida, está sempre mantendo os homens a uma distância segura e tocando a vida sem grandes emoções, esquiva do mundo. Até que, um dia, se encontra com um peculiar senhor que foi seu professor no ensino médio. No balcão do bar, ambos descobrem compartilhar do mesmo gosto culinário e essa será a porta de entrada para uma relação, que não é de amizade, mas também não exatamente amorosa, difícil de definir.

Entre saquês e petiscos (sério, esse livro dá fome), esses dois personagens solitários vão descobrindo afinidades e tendo uma aproximação de almas, acho que essa é a definição mais próxima que consigo chegar. Enigmática, a figura do professor guarda algumas excentricidades, como colecionar pilhas usadas, recitar poemas de forma aleatória e levar consigo sua misteriosa valise, aonde quer que vá. Já Tsukiko, que até agora acreditava estar levando uma vida feliz sozinha, começa a se questionar: "Afinal, como teria eu vivido até agora?" Prestes a completar 40 anos, se dá conta de que durante toda a sua vida construiu "muros de ar" em torno de si. Seria tarde demais para colocá-los abaixo?

Esse é aquele tipo de livro que pode ser lido como entretenimento, um passatempo gostosinho, ou, se lido no momento certo, pode realmente ajudar o leitor a resolver problemas internos. Medos, inseguranças, traumas e questões mal resolvidas, coisas que nos paralisam e que nos deixam, como último recurso, a construção de um sólido "muro de ar" ao redor. Somos humanos e estamos sujeito às intempéries da vida. Às vezes, um refúgio interno pode se mostrar necessário e até fazer bem, mas o problema é quando não encontramos mais a saída e ficamos presos, reféns de um redoma de sentimentos. A boa notícia é que essas barreiras podem ser quebradas, só precisamos entender um pouco melhor o seu mecanismo para encontrar o ponto de saída.

É um livro que eu recomendaria para todos? Não, pois tem suas peculiaridades. É um romance parado, de pouca ação. A maior parte se passa entre silêncios e muito de seu significado está no não dito. A narrativa é muito sutil e bonita, mas não acredito que irá funcionar para todo mundo. Kawakami tem todo um cuidado especial ao descrever sobre elementos da natureza, a passagem das estações e a cozinha japonesa. O livro também tem um leve toque de realismo mágico. Então, não vá esperando nenhum grande plot, apenas se deixe imergir. Quem sabe o livro não mova alguma engrenagem no seu subconsciente?

site: https://discolivro.blogspot.com/
@quixotandocomadani 23/09/2022minha estante
Mto legal a vibe da sua resenha! Falou a minha língua rs... Ahhh o que seria a vida sem esses encontros? Encontros de alma?


Diego Rodrigues 24/09/2022minha estante
Acho que vc iria gostar desse, Dani. Fez lembrar um pouco aquela LC do Murakami, mesma vibe..


Ana 29/05/2023minha estante
Concordo plenamente com a sua opinião, acho que é um livro que muitos não iriam gostar, por n motivos. Mas como é bonito mesmo sendo aparentemente um livro "simples" na narrativa né? ?


Diego Rodrigues 30/05/2023minha estante
Exatamente, Ana! É um livro muito sutil e que diz muito através de pequenas coisas. Super entendo quem não curtir, mas quem conseguir captar essa delicadeza vai perceber também a beleza que o livro traz..




Aline164 30/01/2013

Um amor, uma valise e cogumelos
Como lidar com um amor impossível? Lutando por ele mesmo assim? Desistindo? Se resignando? Se declarando? Ou simplesmente tentando esquecer?

Este livro da Hiromi Kawakami é um pouco sobre isso, sobre o amor "impossível" entre uma mulher de trinta e tantos anos com um ex-professor do colégio, trinta anos mais velho que ela, mas também sobre o extraordinário dentro do cotidiano, sobre cultura e culinária japonesa e relações humanas em grandes metrópoles, além de um toque de sensualidade.

O encontro entre Tsukiko e o "professor", como ela o chama, primeiro por não se lembrar de seu nome e, depois, talvez por costume, se dá em um bar, onde ambos entram e coincidentemente pedem os mesmos pratos. Ele se lembra da aluna displicente que ela foi e, embora ela não se lembre do nome do professor, aos poucos, se aproximam, passam a se encontrar vez ou outra no bar para comer e beber juntos. Ao longo do livro, há várias referências a pratos da culinária japonesa (alho-porro em salmoura, tiras de raiz de lótus cozidas, feijão-soja com atum, carne de porco com picles coreano, sopa de cogumelos, trutas, yakissoba, fondue de polvo, haliotes, mexilhões) e dois capítulos são dedicados à colheita de cogumelos em um bosque e à preparação de uma sopa com eles no local.

O convite para a colheita de cogumelos é feita por Satoru, o dono do bar onde Tsukiko e o professor frequentam, e os dois aceitam. Posteriormente, a eles se junta um primo de Satoru chamado Toru.

"Com nós quatro comendo, a sopa de cogumelos aparentemente volumosa acabou num piscar de olhos. A mistura de muitas espécies de cogumelos dava-lhe um sabor inigualável. Foi o professor quem se serviu desse adjetivo. No meio da conversa, ele disse de repente:
- Satoru, é um aroma inigualável."

No capítulo "Colheita de cogumelos - 2", há uma discussão meio engraçada sobre cogumelos venenosos e, nessa parte, também nos é revelado um episódio curioso sobre a ex-esposa do professor, que um dia encontrou e ingeriu "cogumelos do riso", que tem propriedades alucinógenas.

Depois de um tempo, Tsukiko se espanta ao perceber que o prazer de ter a companhia do professor havia se transformado em amor. E sofre por, aparentemente, não ser correspondida. Apesar disso, tenta a todo custo não criar expectativas. O lado racional muitas vezes demonstra estar no comando.

"Um relacionamento superficial. Decidi que seria assim. Sóbrio, longo, sem exigências. Por mais que tente me aproximar dele, ele não me dá chance. Parece existir entre nós um muro de ar. À primeira vista tão leve a ponto de não se poder segurá-lo e, quando contraído, acaba repelindo tudo. Um muro de ar."

Além do professor, um dos únicos contatos de Tsukiko é um "pretendente" chamado Kojima, com quem ela havia saído nos tempos de colégio e volta a encontrar, mas, por vezes, quando está com ele, ela pensa no professor, por isso o relacionamento deles não evolui.

Além da história dos personagens principais, talvez solitários metropolitanos em busca de companhia e algum tipo de amor, está a beleza da narração do cotidiano. Kawakami conseguiu prender minha atenção, narrando de um jeito peculiar ações banais, como ir para um bar e pedir comida, percorrer uma feira livre, caminhar na rua observando a lua, aprecisar as cerejeiras em flor, conversar sobre amenidades. Isso para mim é arte: narrar as banalidade do dia a dia de um jeito muito interessante. Se eu pudesse escolher, escolheria ter um estilo de escrita assim.

A "valise" do título não é à toa. O professor realmente carrega uma valise para todo lugar que vai e ela também é lembrada no fim do livro.

Hiromi Kawakami nasceu em Tóquio em 1958 e ganhou vários prêmios literários, incluindo o Prêmio Tanizaki (um dos mais importantes do Japão) de 2001 por este livro.

http://www.panisetlibris.blogspot.com.br/2013/01/um-amor-uma-valise-e-cogumelos.html
Nanci 08/06/2014minha estante
Ótima resenha. Vou ler A valise do professor.


Matheus 14/11/2022minha estante
Uma história muito bonita! Terminei de ler e me peguei pensando em como o amor é simples...


Aline164 14/11/2022minha estante
Simmm, o amor é simples e sublime. :)




kiki.marino 18/08/2020

Em Tóquio...
"Em uma misteriosa dimensão temporal" diz Tsukiko, 38 anos sobre sua vida solitário em Tóquio, nem no passado ou o presente. Assim como o "Professor ", um senhor de 68 anos,viúvo. Os dois começam uma relação inusitada de amizade, que progride lentamente ,espelhando as estações da natureza,feita de casualidade,silêncios, passeios,desencontros, escrito de forma simples e encantadora, sem rompantes e emoções intensas,revelando as fragilidades,(in) compatibilidades,dúvidas.Sintomas de amor?
Que evoca muito a percepção da natureza ,do efêmero, das cerejeiras em flor, viver o presente sem medo,da renovação, do amor.
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Palmirinha 22/11/2021

O livro inteiro você fica aflito com a situação da protagonista. Ela se encontra em uma posição infantilizada e melancólica nos seus pensamentos.

A relação com o professor ao mesmo tempo que se mostra complicada, dada a dificuldade de comunicação, se mostra como um ponto de segurança e estabilidade para ela.

Pela leitura, acredito que a questão central do livro está em como ela cria essa dependência do professor. Na personificação na imagem homem idoso da segurança que os ensinamentos dele passam. Sem se permitir aprender a se virar por si mesma. (Motivo esse que gera tanta agonia na minha leitura, na medida em que vivo num contexto de ode a independência pessoal.)
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Mariel 21/09/2023

Não consegui me apegar
Acho que sou umas das poucas pessoas que não gostou do livro. Achei o professor sempre arrogante e pretensioso. A diferença de idade entre os dois também me pegou bastante e mesmo que a tsukiko já fosse uma mulher de certa idade, não conseguia parar de pensar no quão mais velho que ela ele era. Pra mim não funcionou?
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Fernanda.Ribeiro 04/04/2018

Muros de Ar
Não costumo ser muito hábil em criticar a escrita de um livro, de maneira geral não consigo fazer análises muito precisas do ponto de vista literário/textual, não sou muito expert nisso. O que posso dizer é que a escrita desse desse livro é bem simples, direta, sem muitas reviravoltas, cadenciada, minimalista. Tem que estar ciente que é um tipo de escrita um pouquinho diferente do que estamos acostumados no Ocidente. Eu costumo dizer que livros de autores japoneses (tem, óbvio, suas exceções) em geral são como cerimônias do chá: tem que ter paciência e entender que o ritmo é próprio da cultura do país.
Mas eu prefiro falar das coisas que o livro me trouxe, do que eu achei interessante. Trata-se da história de um encontro, que é um encontro cheio de desencontros, entre um velho professor e sua ex-aluna, que acabam partilhando um sentimento muito além de simples amizade. Tudo entre eles é sutil, ou velado, ou não dito. E foi isso que me marcou e me fez filosofar: a questão do isolamento, da solidão, dos "muros de ar" (como bem diz a personagem Tsukiko) que a gente coloca entre nós e as outras pessoas, que mesmo sendo de ar se tornam tão densos que a gente não consegue atravessar. Muros esses que construimos com tabus, convenções sociais, medos, inseguranças.
Foi legal tb pensar sobre esse Japão tão moderno e igualmente tão tradicional.
Curti bastante (mas me agoniei tb) acompanhar a relação entre os dois, em como ela se desenvolve, em como eles rumam para quebrar os muros e crescerem. E o final ... muito bonito, muito tocante, pelo menos pra mim.
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Ve Domingues 18/10/2022

Adorei esse livro. A autora escreve de um jeito simples, claro e objetivo, sem floreios, e eu simplesmente não conseguia parar de ler. É uma obra muito sensível sobre relacionamentos, solidão, diferença de gerações... Tudo muito tocante. Vale muito a leitura!
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vivi 13/02/2023

Friamente comovente
Confesso que esperava desse livro uma melancolia mais palpável em questão de sentimentos percebidos e sentidos junto aos personagens, mas o que a autora nos entrega é uma falta/frieza de sentimentos nos personagens. E digo isso não como crítica, porque a frieza sentimental desse casal é o que nos entrega o mundo submerso de sentimentos vívidos e límpidos que existem em seus corações. Claro que como Brasileira, é difícil entender por completo a narrativa emocional do povo japonês, porque eles são culturalmente diferentes de nós em tantos e tantos sentidos, mas é isso que tornou a leitura mais interessante pra mim.
Tiveram vários momentos que eu tive choques de realidade ao ver que a personagem principal, por exemplo, achava um absurdo e deselegante o atendente do bar que ela vai TODO DIA falar com ela "como se a conhecesse", porque isso, pra eles, era uma intimidade incomum. Pequenos detalhes como esse que fazem você perceber como eles se relacionam diferente de nós. O livro é bem delicado em sua narrativa e construção e eu gostei bastante de ter esse contato com ele!
Minha única crítica (que, na verdade, é mais uma preferência pessoal) é que a escrita dela é bem objetiva e direta ao ponto, e isso me incomodou, justamente por eu não ser lá muito fã desse estilo narrativo.
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Henrique Fendrich 05/02/2020

É a história de um romance lento, apesar da escrita bastante objetiva da autora. Há pouca movimentação na história, o que não significa que não haja muita coisa se passando "internamente" para a protagonista - assim como costumam ser os romances, afinal, cheios de pequenos acontecimentos que muitas vezes não saem da nossa cabeça.

No relacionamento desse professor, já idoso, com uma antiga aluna próxima à meia-idade, a ausência de grandes movimentos é, também, resultado dos excessivos formalismos e ritos a que a sociedade em que estava inseridos se submete. Os frequentes momentos da trama em que se passa bebendo ou comendo podem ser, também, subterfúgios dos personagens, que, não conseguindo expressar adequadamente seus afetos, partem para o mundo "material", um mundo a que eles estão mais acostumados e podem lidar sem constrangimentos.

É interessante observar ainda como aspectos da própria natureza parecem muito mais presentes para quem vive em uma metrópole japonesa do que para nós, cidadãos urbanos ocidentais. Vive-se a natureza de uma maneira mais intensa do outro lado do globo e no meio dessa pequena trama romântica também se pode vislumbrar vários aspectos dessa relação.

A narrativa em primeira pessoa de uma mulher, em tese, independente e acima dos relacionamentos convencionais me lembrou da Colette, mas eu precisaria conhecer mais para verificar se a comparação procede.
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