stsluciano 03/01/2013
Nada como um livro leve pra me “desintoxicar” da leitura de “No Meu Peito Não Cabem Pássaros”. E Gelo Negro é um livro perfeito para isso. Parte da série “O Jovem Sherlock Holmes”, aqui acompanhamos o futuro detetive me mais uma grande aventura.
Já peguei a série no terceiro volume, com o bonde andando, mas não há dificuldade alguma em se acompanhar a história, pois, apesar de sequenciais, os mistérios retratados em cada livro são independentes entre si. O que perdemos ao ler fora de ordem é “ o de sempre”: desenvolvimento de personagens e desconhecimento de alguns rostos amigos – e inimigos.
Pelo que pude entender, na série, Holmes é um garoto cujos pais estão trabalhando nas Índias Orientais, por isso vive com os tios. Tem um irmão, Mycroft, que mora em Londres e trabalha para o governo; e um tutor, Amyus Crowe, um americano grandalhão que o está iniciando nas artes que tornaram-no o detetive memorável nas aventuras originais, escritas por Sir Arthur Conan Doyle: observação, dedução e uma sagacidade incrível.
Em Gelo Negro, Holmes e seu tutor, Crowe, são convidados por Mycroft para almoçarem com ele em Londres. Chegando lá, encontram o irmão de Holmes trancado em uma sala com um homem morto. Não culpo a polícia por optarem pela lógica: dois homens em uma sala cuja única saída está trancada, um deles está morto e o outro tem uma faca nas mãos. Quem é o assassino?
Mas nem tudo é tão simples e Holmes e Crowe partem para investigarem o que está acontecendo, visando tirar Mycroft da cadeia, e descobrem uma rede de intrigas de proporções internacionais.
Para quem é fã do Holmes original, que tem Watson como companheiro de aventura, uma boa alternativa é fazer como eu fiz: ler sem dar tanta importância a quem Holmes virá a ser. Muitas pessoas podem achar oportunismo um autor pegar um personagem consagrado, desconstruí-lo e, baseado no impacto que ele tem na literatura, publicar uma série de aventuras suas. Por isso Agatha Christie matou Poirot. Confesso que não me agrada tanto, mas o resultado aqui é bom, e o livro tem tudo para agradar, principalmente os mais jovens – o tio aqui já tem vinte e seis.
Mas sempre existe um mas, e o daqui é o seguinte: fiquei muito interessado em saber se, em um livro futuro desta série, em algum momento, Holmes encontrará Watson. Já imaginaram isso? Seria cósmico!
Andrew Lane é um bom escritor, consegue construir boas cenas de ação e o mistério em relação à trama deste livro é complexo o suficiente: nem tão ingênua que vá irritar os mais velhos, nem complicada demais para os mais novos se perderem.
Além do que, ele construiu um Holmes possível: como um garoto que é, ele não é superpoderoso ou onisciente. O jovem Holmes ainda está desenvolvendo suas habilidades, tem medo, é cheio de dúvidas, deixa passar algumas coisas, e outros pequenos fatos que o colocam a anos-luz de distância do ser fodástico que virá a se tornar. E que bom que é assim, eu detestaria encontrar aqui um garoto do tipo “eu-sei-posso-e-faço-coloca-na-minha-conta-por-favor”.
Para quem quer começar a ler a série, recomendo que o faça do primeiro livro. É sempre melhor assim. Em minha jornada lendo “Gelo Negro” – que chega à Rússia, tão amada e fria, cheia de mistérios – encontrei menção a alguns personagens e fatos que certamente foram retratados nos dois livros anteriores, Nuvem da Morte e Parasita Vermelho. Isto não causa danos ao andamento deste livro em específico, mas o leitor se sente – ou melhor, eu me senti – menos cúmplice do que estava acontecendo. Vão pela ordem, então.
Resenha originalmente publicada aqui: http://www.pontolivro.com/2012/12/gelo-negro-o-jovem-sherlock-holmes.html