RôPeyres 28/09/2013
Livro + Filme
Imagine a seguinte situação: o interfone do seu prédio toca durante a madrugada. Quem é? A sua vizinha que esqueceu a chave pedindo para abrir o portão da entrada. Desagradável? Imagine que esta cena se repita constantemente. Pior ainda? Mas é assim que se inicia uma amizade entre o narrador de Bonequinha de Luxo e Holly, a personagem título.
Além de ser um clássico da literatura escrito por Truman Capote, é um clássico do cinema, estrelado pela Audrey Hepburn. Como nunca havia assistido, decidi começar pela obra que originou o filme e me surpreendi.
O narrador, cujo nome não sabemos, após alguns anos sem saber do paradeiro da sua antiga vizinha Holly Golightly, ouve falar sobre ela e resolve escrever sobre essa pessoa intrigante que conheceu.
Como não sabia muito bem qual era a trama central, me espantei ao descobrir que a Holly é uma prostituta de luxo – o que é tratado de uma forma muito sutil, inclusive no filme, além de não ser o tema central. Todo o enredo desta novela é sobre esta mulher complexa que Holly é, além da superfície por meio das impressões do narrador, um aspirante a escritor, durante o breve período em que conviveram.
Uma narrativa muito ágil, que prende completamente a atenção. A partir do momento em que se conhecem, Holly Golightly já encanta o narrador. Dona de uma personalidade singular, misturando um refinamento, necessário à sua profissão de acompanhante de grandes empresários, ao jeito de menina do interior que saiu de casa aos 14 anos. Além de muito bonita e encantadora, é dissimulada, sabendo exatamente o que pode revelar e evitando o que quer manter privado. São poucos os momentos em que ela se abre para o narrador, com quem cria uma amizade. Porém, o tempo todo o chama de Fred, nome do irmão dela que está na guerra, devido a alguma semelhança entre os dois.
Já a adaptação cinematográfica, muito bem feita, é uma versão romanceada do livro. As alterações foram pertinentes para facilitar o enredo, melhorando a compreensão. E também para criar um romance hollywoodiano digno de um blockbuster. E talvez a concretização de algo que era esperado ao longo do livro – sendo que alguns diálogos são exatamente iguais aos do original.
Inclusive uma das cenas mais engraçadas é uma na qual a Holly está aprendendo a falar português, no período em que teve um “amante” brasileiro, um diplomata nada caliente. Enquanto ouve uma fita com alguém falando com sotaque de Portugal, ela repete algumas palavras, formando frase estranhas. Na minha visão, Audrey captou a essência da Holly na forma como a interpretou.
Realmente me encantei pela narrativa de Capote. A edição que comprei da Cia das Letras, lançada em 2005, além da história Bonequinha de Luxo, contém mais três contos, completamente distintos entre si, mas que valem muito a pena ler. Uma escrita fluída e sensível – possivelmente resultado da sua experiência como jornalista – aguçou minha vontade de conhecer outras obras dele.
Mais do que recomendada está Bonequinha de Luxo, uma das minhas melhores leituras deste ano. Depois me contem a opinião de vocês sobre o livro e o filme! Até breve :)
Beijos!
site: www.mudandodeassunto.com