otxjunior 18/07/2020Alerta Final, Lee ChildO prólogo e as últimas 150 páginas são sensacionais. Para estas, aliás, sugiro reservar um estoque mínimo de água e comida próximo de seu ambiente de leitura e espero que suas horas de sono estejam em dia, porque é impossível parar de ler até o fim. Dessas leituras de literalmente tirar o sono, ou pelo menos em seu ato final. Isso implica num começo e meio mais ou menos? Sim e Não. Explico. Estou na contramão nas opiniões de que os livros de Lee Child precisam de um editor mais rígido, acho que a descrição extrema e aparentemente falta de ação inicial são necessárias para o impacto do clímax, e na série Jack Reacher pode-se sempre esperar um final poderoso (e mirabolante). Nem sempre fácil de comprar, mas Child vende muito bem seu negócio. Dito isso, mudar o ponto de vista entre o protagonista e personagens secundários e antagonistas afeta o ritmo de Alerta Final.
Nesta terceira aventura da série, acompanhamos uma cadeia de eventos que leva nosso herói a investigar os segredos de um assassino maníaco de um background sombrio que reporta à Guerra do Vietnã. Tudo em muito pouco tempo, claro. Neste momento de quarentena, a semana de Reacher (e de sua parceira, com quem não há muita química, na minha opinião) é de entontecer, ainda com mudanças de fusos que é pra caber mais horas nela.
O vilão parece saído de uma história em quadrinhos, uma mistura de Duas Caras de Batman e Capitão Gancho! Apesar de caricato, arrepia e se estabelece como um antagonista à altura para Reacher. Também chama a atenção seu "quartel-general", e boa parte da ação do livro, ter lugar num escritório em um andar do World Trade Center (o romance foi publicado em 1999) e observar a gestão de acessos e controle de riscos pré-11 de Setembro.
Eu amo que o dilema maior, apesar de tudo, é o fato de Reacher ter recebido por herança uma casa e ele não ter a mínima ideia de como gerir esse bem. Ou qualquer outro, para todos os efeitos. Ele é um espírito livre, um viajante, vagabundo para seus inimigos. Seu estilo de vida proporciona momentos inesperados e bem-vindos à trama. Ao ser humanizado, por seus erros e preocupações com o futuro, seus feitos parecem ainda mais epopeicos. E é muito satisfatório ler o autor escrevê-lo, sem apologias, como O Cara. Por isso, principalmente, é que já espero ansioso o momento de retomar a série. Isso e para descobrir por quanto tempo Reacher consegue assentar num lugar com uma companheira. Não muito, imagino.