Felipe Lima 18/06/2023O Início de uma LendaCinco anos após o meu primeiro contato com "Lobo Solitário", eu decidi revisitar os primeiros volumes para finalmente poder ler a obra integralmente, uma vez que agora eu tenho todos os volumes. O primeiro volume (O Caminho do Assassino) traz boas histórias sobre o ronin que vaga pelo Japão feudal alugando a sua espada e seu filho, apresentando mais conceitos da lenda da personagem titulo do que de Itto Ogami propriamente dito.
Enquanto eu lia o primeiro conto ("Alugo minha espada, alugo meu filho"), eu me peguei pensando porquê eu tinha gostado tanto deste manga quando eu li a primeira vez. A narrativa era lenta, recheada de clichês nos quais o personagem fazia poses depois de atacar seus oponentes que pareciam totalmente fora da realidade e até mesmo a minha percepção sobre a arte sofreu com essa revisita, pois ainda que Goseki Kojima tenha belos traços e um ótimo olho para retratar as paisagens nipônicas, é difícil não compará-lo (numa posição desfavorável) a arte de Vagabond.
Contudo, ao terminar de ler o primeiro conto (e especialmente depois de ler o segundo), eu me lembrei qual era a grande cartada da obra de Kazuo Koike: a cada aventura do herói há uma lição que reforça a mística envolta da lenda do Lobo. Mais interessante do que a adaptação dos princípios de Sun Tzu, é a forma como o autor o utiliza em suas narrativa: os ensinamentos sempre vem por meio de ações, nunca por falas explícitas. Estas por sinais também são bem pontuais, acentuando um traço característico em samurais e personagens fortes. Itto Ogami é um homem de ações e poucas palavras, as poucas que são proferidas por ele são muito mais para entender o mundo a sua volta do que para justificar ou anunciar suas ações e motivos.
Deste volume, os contos do "meio" ("Suiou-ryu Zanbatou", "À Espera da Chuva de Outono" e "Formação Hachimon Tonkou") foram o que eu menos gostei. Eles não são necessariamente ruins, mas me parecem muito mais um acúmulo de clichês do gênero que deve agradar a fãs do nicho. Os dois últimos ("Asas para os pássaros, Presas para as feras" e "O Caminho do Assassino") são de longe as melhores aventuras do compilado. O primeiro mostra uma trama redondinha, onde a situação em que a personagem se encontra se encaixa na ideia de um acontecimento que espalharia a fama de Ogami pelo país. E o segundo por mostrar um pouco mais sobre a origem da saga do Ronin assassino e o que o levou a "caminhar pelo meifumadou". Apesar disso, há diálogos e cenas incríveis nessas duas histórias que me fazem compreender a paixão que muitos nutrem pelo mundo dos samurais.