Lopes 25/06/2018
submundo notado
A figuração de uma maioria da sociedade quando notada em raros causos artísticos parece sempre descambar em motins risíveis de quem tende a padronizar a escrita, principalmente para uma marginalização da linguagem, pejorativamente falando. Eis que surge a preocupação do leitor de desviar das lacunas invisíveis, que não serve para chegar até a literatura, que por sua vez, não escolhe existir nas classes sociais, e sim o contrário, a literatura é maior do que projetos econômicos e culturais, é fronteira morta, a permissão da experiência de viver acabando com limites. João Antônio em “Leão-de-chácara”, vai esclarecer essa substância dita acima, sua percepção é nítida quando utiliza uma formalidade nas descrições e seus personagens quebram essa estrutura invadindo com seu cotidiano. Cada conto deste pequeno grande livro, exemplificam esferas em que o autor já está acostumado a tratar em seus escritos. Submissão a língua formal e informal, enredos subliminares e poesia urbana, são algumas dessas esferas. Cabe um esforço em retratar tais contos minuciosamente, pois eles escapam de nós, são datados pelas expressões já obsoletas, porém isso não tende a transformar a obra em estudo histórico, pelo contrário, o estudo literário envolve justamente essa temporalidade das expressões e como formalmente elas eram ou não, e colocadas como marginal hoje talvez seja passível de equívoco. João Antônio conseguiu esse feito, a ilusão das expressões cotidianas, que buscam compreender a dimensão de nossa língua e de nossas possibilidades literárias. Um livro com gosto de areia de asfalto, que logo aparecem personagens noturnos, diurnamente melancólicos, distraídos da sociabilidade, perigosos e fofoqueiros. Um espelho informal do acontecer urbano.