Nanda Lima 28/05/2014
Remember, remember the 5th of November
Paixão. Essa palavra define o que eu sinto por essa HQ clássica, que às vezes me deixa sem adjetivos para qualificá-la. Parece que nenhuma palavra pode descrever o quanto acho essa criação do Alan Moore genial, relevante e imortal. Você certamente já viu a icônica máscara do V por aí, seja nas manifestações ao redor do Brasil desde o ano passado ou como símbolo da famosa organização Anonymous. V é um personagem tão fantástico que conseguiu emergir das páginas dos quadrinhos e se tornar, mais do que um símbolo, uma ideia. Uma ideia para inúmeras pessoas. Uma ideia de liberdade, de anarquismo, de revolução política, de consciência, de maturidade intelectual. V se tornou na vida real o que o destino que Alan Moore lhe reservou nos quadrinhos. Eis um caso em que a vida imita a arte.
V é um homem que se preparou por muitos e muitos anos para a sua grande vingança contra os líderes do governo totalitário de uma Londres decadente e cheia de cidadãos amedrontados, manipulados e devastados pela guerra, pelas epidemias e pela violência. A corrupção impera e ninguém mais vive - apenas sobrevive. V foi uma vítima terrível de um campo de concentração onde se realizava experiências científicas com cobaias humanas. Mas a despeito de tudo, ele não só sobreviveu à essa atrocidade, mas se fortaleceu com ela. Alan Moore e David Lloyd utilizaram Guy Fawkes como inspiração para criar V, trasvesti-lo e V encarnou todos os seus ideais. Guy Fawkes foi um personagem histórico muito importante na história da Inglaterra.
V é um homem extremamente culto, inteligente, que está sempre a um passo dos outros e que quis, mais do que uma vingança pessoal, uma vingança do povo e para o povo. Ele não quis que os malfeitores pagassem pelo que haviam feito a ele, mas também a todos. Cada pessoa dessa Inglaterra futurística e decadente.
O traço de David Lloyd é muito marcante e o argumento de Alan Moore muito detalhista e culto. Referências a Shakespeare estão por toda a obra. Eis algumas das frases brilhantes com as quais V nos brinda ao longo da graphic novel:
"A anarquia ostenta duas faces. A de Destruidores e a de Criadores. Os Destruidores derrubam impérios, e com os destroços, os Criadores erguem Mundos Melhores."
"Por baixo dessa carne existe um ideal. e as ideias nunca morrem."
"Os artistas usam a mentira para revelar a verdade, enquanto os políticos usam a mentira para esconde-la."
"Um homem pode morrer, lutar, falhar, até mesmo ser esquecido, mas sua ideia pode modificar o mundo mesmo tendo passado 400 anos."
Essa HQ é para aqueles que se importam com o rumo que a sociedade moderna está tomando, com os acontecimentos estarrecedores que inundam nossos ouvidos e olhos diariamente. Como disse David Lloyd na introdução que escreveu para a HQ em 14 de janeiro de 1990, "em V de Vingança não há muitos personagens alegres e descontraídos; e é pra gente que não desliga na hora do noticiário". E como V repete várias e várias vezes, "remember, remember the 5th of November". Relembremos, então.
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