Blog MDL 22/12/2016
Forrest Gump era o que as pessoas costumavam chamar de idiota. Todos pareciam pensar que a definição dada por um diagnóstico médico de que ele tinha um QI abaixo da média, queria dizer que ele estava fadado a ter uma existência simplória e sem significado. Entretanto, com o passar dos anos, foi ficando cada vez mais nítido que ele era alguém capaz de grandes coisas... Mas isso foi só no final do ensino médio, porque até então a única coisa que ele fazia era correr dos seus garotos que o perseguiam e o maltratavam. Ninguém diria que o seu talento para fugir associado ao seu tamanho maior do que o normal que iria colocá-lo na estrada, mas foi justamente isso o que aconteceu. Isso e alguns mal entendidos, é claro.
Quando ele estava no final da sua adolescência e sem nenhuma expectativa de que algo inesperado acontecesse, Forrest foi recrutado por um treinador de futebol americano do ensino médio que acreditava que ele tinha um imenso potencial de jogar. Ele não gostava de deixar as pessoas nervosas, por isso resolveu tentar mesmo assim. Estudando em uma escola para alunos considerados normais, ele não se provou muito inteligentes nas matérias escolares, apesar de ter conseguido a sua cota de estrelato em decorrência das suas habilidades em campo. Se ele não fosse tido como burro, poderia ter chegado a universidade logo de cara, mas não foi bem assim que tudo aconteceu... Ele foi a Universidade de Alabama, no entanto teve que se meter em uma tremenda confusão com Jenny, a garota dos seus sonhos, para que isso acontecesse. E se você pensa que as suas aventuras acabaram por aí, está errado pois esse foi apenas o início de toda a confusão.
Antes de começar a falar sobre o que encontrei em "Forrest Gump", devo alertá-los que não me recordo de um único detalhe do filme, isso porque, se assisti em algum momento da minha vida, eu sinceramente não lembro. E não é que eu não pretenda fazer isso, mas preferi focar as minhas atenções tão somente na história escrita por Winston Groom. E para tratar disso, é necessário ter em mente que o livro é narrado em primeira pessoa e por isso, temos apenas o vislumbre do que o Gump tem para nos dizer. Acredito que foi por isso que me apeguei tanto ao personagem. Ele que é um grandalhão um tanto quanto desastrado, têm características que são irresistíveis para mim, tais como, inocência, lealdade e generosidade.
É fácil apontar essa história como sendo irreal demais para ser crível para os leitores, afinal, temos uma porção de acontecimentos inusitados protagonizados por Forrest, mas em cada um deles é possível perceber o quanto o autor amplia as possibilidades de vermos essa personagem como algo mais que um bobo. Sendo um livro com uma superfície tão despretenciosa, é incrível a quantidade de informações que nós temos nele, principalmente do cenário geopolítico americano, ainda mais por ele percorrer importantes episódios da história que nos fornece uma visão crítica disso tudo.
A ida de Forrest para a guerra do Vietnã, por exemplo, pode ser categorizada como um verdadeiro divisor de águas em sua vida. Isso porque é lá que ele tem um choque de realidade que lhe mostra o quanto a vida pode ser especialmente dura e repleta de perdas. Sendo "Forrest Gump" uma típica jornada do herói, as suas lições não param por aí e no decorrer das páginas, ele vai sendo submetido as mais diversas provações. Por mais que a sua ingenuidade não permita que ele torne-se alguém rígido, é notável o seu crescimento e o desenvolvimento da sua personalidade conforme encara situações como salvar o presidente chinês, se tornar astronauta e jogar xadrez com um canibal nas selvas da Nova Guiné.
Mesmo em meio a essa profusão de acontecimentos, alguns personagens são recorrentes e cada um cativou meu coração de uma forma distinta - em especial o Sue e o Dan. No entanto, o leitor deve dar uma atenção especial aos relacionamentos que ele tem com duas mulheres: a Jenny e a sua mãe. A primeira porque é possível observar toda a sua jornada na tentativa de conquistá-la e como isso acaba sendo responsável por grande parte das desventuras que Forrest protagoniza e a segunda, porque, pelo menos na minha percepção, mostra com clareza como contra todas as expectativas alheias ele é capaz de sobreviver longe da sua mãe - sei que para muitas pessoas isso parecerá estranho, porém para mim mostrou a força do personagem em se autoafirmar como alguém capaz mesmo quando o mundo gritava que ele era idiota.
Ademais, confesso que ainda não posso afirmar com veemência que acredito no narrador, no entanto, tampouco posso dizer que considero os seus relatos apenas como um sonho de alguém que buscava escapar da realidade causticante que vivia, o que é possível exprimir com toda certeza é que com um livro extremamente rico, Winston Groom me conquistou de modo indubitável. Imagino que os fãs do premiado filme possam notar importantes diferenças entre um e outro, porém, devo alertá-los que seria um erro não conferir essa história por causa desse ponto. Sei que será uma redundância recomendar a leitura dessa obra depois de tudo o que falei, mas mesmo assim o farei porque preciso que vocês entendam que nada do que eu escreva aqui chegará aos pés do que vocês encontrarão no livro, sendo assim: leiam!
Comentários acerca da edição:
A Aleph lançou "Forrest Gump" em uma edição comemorativa de 30 anos. E ela está sensacional! Além de possuir encadernação em capa dura na cor branca com o título e o nome do autor em aplicações com alto e baixo relativo, eles disponibilizaram uma jacket que dá ao leitor duas opções de capa - em um lado nós temos a predominância da cor vermelha com a ilustração de um capacete de futebol americano e no outro, tem-se a cor azul com o desenho de uma raquete de pingue pongue (ambos têm um significado especial para a história). Outro detalhe bem bacana são as ilustrações do Rafael Coutinho espelhados pelo livro que dão um toque especial a leitura, principalmente por terem sido feitas em uma cartela de cores muito bonita com azul, rosa, branco e preto. A capa de guarda também tem tudo a ver com a história! Ademais, devo mencionar a excelente tradução do livro, pois ao invés de tentar adaptar o texto para uma linguagem formal (e por isso, não condizente com a realidade do personagem), o tradutor utilizou de vícios de linguagem e de erros ortográficos cotidianos para aproximar a tradução do livro com o original. E como se isso não bastasse, a editora ainda disponibilizou para os leitores um artigo que compara o livro e o filme escrito por uma acadêmica francesa. Ou seja, uma edição para se ter na estante para sempre.
site: http://www.mundodoslivros.com/2016/12/resenha-forrest-gump-por-winston-groom.html