spoiler visualizarThuane 04/05/2014
O Exército Interior
O que um judeu faria se tivesse que ir para longe da sua fronteira, sem dinheiro e sem conhecer o território em que iria pisar? Para o Capitão, ele iria iniciar a construção de uma sociedade. Mayer, tinha consigo um pequeno exército (homenzinhos criados pela sua mente) que lhe dava a motivação de seguir os seus sonhos, embora a cultura insistia em reprimi-lo. Sim, encontrava dentro de si, uma força suficiente para explorar a terra, cultivá-la e adquirir companheiros animais que lhe garantiriam o sustento.
Ouvindo os seus soldados interiores, seguia um caminho diferente, que ia contra os costumes alheios. Criou sua própria cultura, suas próprias regras, uma nova bandeira, um novo hino, uma nova sociedade da utopia. O capitão era esquerdista como os jacobinos, queria uma justiça social. Trabalhadores proletários, unidos! Ele adorava os ensinamentos de Marx, Stalin...
O "cara" foi capaz de buscar viver o seu sonho, assim como Quixote, o Capitão fundiu o mundo real com o mundo das ideias. Materializou em construções que não foram bem sucedidas, devido às pessoas que invadiram o seu espaço. Isso fez com que Mayer abandonasse o lugar em que estava e fosse em busca da liberdade, preferiu se aliar a companheiros animais do que aos homens porque, no fundo, ele sabia que se convivesse com outro ser humano, um iria se sobrepor ao outro, iria ter uma classe dominante vivendo da exploração da outra. Influenciado por Marx, ele largou tudo e foi em busca da construção da "Nova Birobjan" (sociedade tão sonhada).
Na sua caminhada, ele sofreu, sentiu saudades e acabou voltando para os braços da sua esposa e para os abraços dos seus filhos. Resolveu dar uma vida confortável para eles. Se aliou ao sistema, montou uma sociedade de negócios, ganhou muito dinheiro, deixando de lado aquele exército interior que o movia para a construção de uma sociedade justa, onde "o que é seu é meu e o que é meu é seu". O brilho do seu olhar desaparecera, silenciosos, os homenzinhos da sua mente, olhavam para ele, em busca de uma reação.
No fim, os prazeres carnais o separou da vida conjugal., a empresa faliu e Mayer, acabou voltando ao início, sem renda, com os mesmos sonhos, só que agora velho e com seu exército fraco, quase livre, mas preso pelo sistema. Como Gessinger canta: "Quase livre, isso era pior do que a prisão".
O que me fez encantar pela história que Scliar escreveu, e pelo personagem principal, foi o desejo de entrar no mar. Sem pensar nas imposições ele se atirou, sem saber a que ilha chegar, com determinação ele deu fortes braçadas, nadou, acreditando que ia pisar em terra firme, correu riscos em busca dos seus sonhos. Ele não tinha interesse de chegar em um porto seguro, apenas num espaço em que poderia realizar os seus projetos. Desafiou os seus pais, os seus costumes, a cultura, a moral e foi, simplesmente foi tentar por em prática o seu objetivo. Os pais morreram preocupados e com certo desgosto, pelo filho não se tornar um rabino, não se alimentar da forma que eles achavam adequada, por não estudar os livros sagrados e nem dar atenção à escola.
Que loucura! Existe alguém que larga tudo, tudo o que é imposto pelo sistema, pelos seus pais, em busca da liberdade e da realização da construção de um mundo que considera melhor? Por mais que desejem, sabem da noção do sofrimento de ir contra o sistema, tem consciência do risco de se afogar e morrer na praia. Aqueles que preferem morrer vivendo a seu modo, são taxados como loucos. Talvez até se tornem. Mas, que loucura gostosa é imaginar isso. Ao ler o livro de Moacyr, eu viajei e vivi dentro de mim essa contradição.
Contextualizando o livro e as canções da banda Engenheiros do Hawaii eu vi que, o Capitão Mayer, poderia ser "otário por ter amor as causas perdidas", por sair sem fronteiras, sem bandeiras, por ter um exército dentro de si.
Por ser assim, ele descobriu que "nossos sonhos são os mesmos há muito tempo, mas, não há muito tempo a esperar", que a liberdade nesse sistema, aaahhh, "a liberdade é bem pior do que a prisão". O que vale é a percepção, "o que foi escrito a mão, sob a luz das velas , longe da multidão, será a memória dos dias que virão".
Vá! Vá em frente. Avante companheiros! "Sentido! Faça sentido"... Se quiser, integre ao exército interior que espera por você.
Att,
Thuane Diule.
site: http://thuanediule.blogspot.com.br/search?updated-min=2014-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2015-01-01T00:00:00-08:00&max-results=1