Memórias de Lázaro

Memórias de Lázaro Adonias Filho




Resenhas - Memórias de Lázaro


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Claire Scorzi 11/04/2021

Naturalismo Transfigurado
Neste romance de 1956, Adonias Filho cria com sua linguagem depurada uma narrativa recheada de símbolos. O Vale do Ouro, espaço primordial da ação, é lugar de miséria, brutalidade e paixões violentas, de seres humanos rebaixados a feras e onde a lei é feita pela comunidade, informalmente, que aquiesce ou protesta segundo ao que o grupo considera inofensivo ou então ameaçador para o vale. Há sentimento, porém desordenado; há amizade, porém seca e rude como a terra; há loucura e há mentiras - mas quem estará a dizer a verdade nesse universo inóspito?
Alexandre, o protagonista, tem algo do Luís da Silva de "Angústia" de Graciliano Ramos: mudando de ambiente, ainda assim é incapaz de abandonar o mundo brutal de onde veio; enxerga as diferenças, mas é como se virtudes como amor e perdão fossem insuficientes para transformar seu mundo interior e lhe trazer paz de espírito. Como sempre, as figuras de Adonias Filho estão marcadas para um destino desde o princípio, e nem fugas, nem outras pessoas, nem a descoberta de novos valores poderão alterar isso.
É na linguagem, na ideologia e nos tipos humanos vindos do Naturalismo que o autor busca sua matéria prima, contudo, é na prosa poética, pensada, muito pessoal, que alcança um patamar de beleza inesperado para os demais elementos de sua obra. A introdução à parte um do romance merece ser lido e relido em voz alta, caracterizando um dos mais sonoros e marcantes começos de livro:
"Infinita é a estrada com suas curvas, suas colinas e suas árvores. Não é uma estrada como outra qualquer, com pássaros e ladeada de grama, mas uma linha sinuosa no chão avermelhado e seco. Onde começa, ninguém sabe. Onde termina, ninguém sabe também. Tão íntima quanto os rudes objetos das habitações primitivas, para nós que a conhecemos desde crianças, existe quase como uma criatura humana. Insensível, acolhe-nos com desprezo, sem bondade. Ficássemos cegos e localizaríamos com facilidade todos os cactos que a tornam agressiva, perdêssemos o tato e diríamos sem esforço qual das suas pedras é a mais áspera..."
E continua, continua por mais parágrafos impressionantes, feitos com cinzel.
Aqui, também, o eco de tragédia grega que Carlos Heitor Cony viu em "Corpo vivo", pois aqui, com o protagonista Alexandre narrando a história, ouvimos a intervalos a sua súplica, o seu rogo, como um coro de Ésquilo, talvez:
"venham mais perto, e acompanhem com piedade..."
"Não me abandonem agora..."
"Escutem, eu peço..."
Alexandre fala conosco, pede nossos ouvidos e nossa atenção, nossa compaixão. Como um fatalista. Porque o que se conta é digno disso.
comentários(0)comente



Julyana. 22/02/2011

É um livro forte, uma narrativa surpreendente que incomoda e provoca a gente.
Cinco estrelinhas com louvor.
Fabiano.Barcellos 18/03/2018minha estante
Gostaria de saber o porque do título do livro é memórias de lázaro, se o personagem principal que narra a história é alexandre ?




Barbie 24/01/2010

Adorei!
Surpreendente o livro, o final principalmente, espetacular!
Fabiano.Barcellos 18/03/2018minha estante
Gostaria de saber o porque do título do livro é memórias de lázaro, se o personagem principal que narra a história é alexandre ?




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