Afonso74 23/09/2011
Os Carbonários - Prêmio Jabuti 1981
Livro escrito por Alfredo Sirkis em torno de 10 anos após o início de seu exílio voluntário, decisão tomada quando tinha 21 anos após se convencer, um tanto tardiamente, que a organização da esquerda armada não os levaria a atingir o dito sonho de um Brasil mais justo. É justo que se diga que fugiu antes de ser morto ou preso.
É um relato pessoal sobre as angústias e sonhos de um jovem de 20 anos, sem deixar de ser informativo ao descrever a rotina, ou falta dela, de alguém que vive constantemente no limiar de ser preso, torturado e possivelmente morto.
Assim sendo, é notável a coragem do autor ao também expor os aspectos quixotescos daquela luta inglória nos anos seguintes à Anistia, uma vez que o ambiente político, e em especial entre as esquerdas, era de exaltar aqueles que resistiram à ditadura.
Definir essa obra não é fácil mas ambiciono chegar perto dizendo tratar-se de um thriller político de não ficção narrado em primeira pessoa. E que, além de excelentes passagens de ação, não deixa de ser denso ao expor os efeitos da ideologia comunista sobre o indivíduo e o falso purismo dos companheiros, que em qualquer deslize viam um traço "pequeno burguês" naquele que o cometeu.
E além de tudo o que foi descrito acima, o livro tem algumas passagens extremamente engraçadas.
No posfácio, escrito 28 anos depois do livro em si, Sirkis confessa se sentir perplexo quando um jovem lhe diz que gostaria de ter vivido aquela época para lutar contra a ditadura, e sua reação é de tentar minimizar a aura de heroísmo, tão cultivado pelo cinema nacional recentemente. Comportamento diametralmente oposto ao de muitos que participaram daquela resistência armada, como José Dirceu, Franklin Martins e outros que parecem viver para enaltecer seus feitos, políticos ou não, no passado.
Difícil imaginar um livro melhor sobre o período.