Gustota 08/03/2017Romantismo acerca do militarismoEsse livro remeteu a mim aos recentes manifestantes nacionalistas e patriotas que surgiram nesse período de polarização política do Brasil, com uniformes militares e fala inflamada sobre valores. Feito porém, com uma mente intelectual mais elaborada.
É interessante que Yukio Mishima seja um homem culto e essa cultura acaba por dar ao seu relato de auto-análise certa aura de coerência. Entretanto, essa coerência não deixa de ser um tanto quanto ridícula. O autor é fascinado pelo militarismo, nacionalismo e extrema-direita não pelas suas ideias e ações práticas, mas por uma ideia romântica de virilidade e disciplina.
Esse livro é um longo relato exaltando a beleza de cultivar os músculos, a beleza dos uniformes militares, a pulsão quase erótica do suicídio dos kamikazes, a energia mental que exige uma missão militar. Curiosamente, Mishima em si nunca foi militar. Ele tinha um clube de extrema-direita nacionalista com estudantes universitários e os militares emprestavam as instalações militares para eles treinarem e às vezes até participar de alguns treinamentos sérios.
Percebi nesse livro também todos os indícios de pra onde Mishima iria: sua declaração de que gostaria de se matar, mas só o faria se tivesse um corpo perfeito; o desejo de morrer jovem e sem sinais de decadência física; sua ideia de unir ideias literárias românticas com artes marciais e artes marciais com ação militar. Tudo isso culminou no tragicômico atentado fracassado realizado por ele e seus estudantes e seu suicídio ritual.
O fascinante em Mishima, a despeito disso, é sua ideia clara de que a realidade em si é niilista e medíocre, não leva a lugar algum e não vem de lugar nenhum. É a partir das loucuras teatrais e ousadias individuais, de sujeitos agindo como atores que a vida se enche de simbolismo e sentido. Não gosto do romantismo militar nem dessa necessidade ridícula de autoafirmação de frágil masculinidade desse autor, mas a ideia de dar um sentido teatral à uma realidade niilista faz sentido pra mim..