Maria - Blog Pétalas de Liberdade 21/12/2013Como um livro tão pequeno pode ser tão grande? Esse livro é a prova de que não são necessárias muitas páginas para que uma história seja fascinante e empolgante. Com apenas 128 páginas, "Uma garrafa no Mar de Gaza" me encantou.
Provavelmente vocês devem conhecer alguma coisa sobre o conflito entre palestinos e israelenses; basicamente um disputa de território, uma guerra que parece nunca ter fim.
A história se passa no ano de 2003. Um homem-bomba se explodiu em um café próximo a casa de Tal Levine, uma adolescente israelense que mora em Jerusalém. Atentados não são novidade para quem vive naquela região, mas esse em especial marcou Tal. Procurando uma forma de desabafar, ela decide escrever.
"O terrorista se explodiu dentro do café Hillel. Seis corpos foram encontrado. Foi um atentado médio, ou seja, vão falar dele por dois dias, e mais um pouco nos suplementos dos jornais do fim semana." (página 12)
"Deve ser por isso que decidi escrever: para não assustar os outros com o que tenho dentro da cabeça, e para que não decretem impulsivamente que fiquei louca." (página 13)
Mas apenas escrever não é o bastante, Tal precisa saber como pensa e o que sente quem está do outro lado do conflito. Mesmo sendo arriscado, ela escreve uma carta, coloca numa garrafa e pede para que seu irmão (que trabalha no exército) jogue a garrafa no Mar de Gaza.
Tal gostaria que a carta fosse encontrada por uma garota que tivesse mais ou menos sua idade. Mas quem encontra a garrafa e responde Tal é um rapaz que usa o pseudônimo de Gazaman.
E é a partir daí que a história se desenvolve. Através das conversas dos dois, temos os dois lados da moeda: a visão de uma jovem israelense desejando a paz e a visão de Gazaman, um palestino que vive num local cheio de restrições impostas por Israel e que, a princípio, não acredita que as coisas possam melhorar.
Eu poderia ter lido o livro todo em apenas um ou dois dias, mas quis ler mais devagar. A história é tão bem escrita que foi impossível não sentir o clima de tensão dos habitantes daquela região e não temer que na próxima página um dos personagens estivesse no lugar errado e na hora errada, se é que me entendem.
Tive medo do que aconteceria no final, eu só conseguia ver duas possibilidades: a primeira seria um final feliz e pouco real, a segunda seria um final trágico e triste. Mas a autora me surpreendeu com um final quase que metafórico: é preciso ter esperança!
Enfim, "Uma garrafa no Mar de Gaza" é um livro lindo, que aborda os conflitos do Oriente Médio de uma forma muito direta e real. E comprova minha teoria de que numa guerra ambos os lados saem perdendo.
"Eles nem percebem mais que suas guerras ferem, cada vez mais violentamente, aquela que dizem amar, e que de certa forma estão destruindo." (página 15)
Algumas pessoas reclamam muito do Brasil, mas talvez elas não tenham ideia de como é a vida na Faixa de Gaza ou em Jerusalém, não saibam como é viver odiando e sendo odiado por uma pessoa simplesmente pelo fato de você ter nascido em outra religião. Reclamam de alguns programas da tv aberta brasileira, mas não sabem o que é ver notícias sobre atentados e mortes na tv, rádio e jornal como uma coisa rotineira.
Meu trecho preferido do livro:
"Eu ri, porque é bem engraçado ver um primeiro-ministro cantar, e desafinado ainda por cima, mas mamãe me disse que era falta de educação, que ele estava se esforçando e que não devíamos zombar das pessoas cheias de boa vontade" (página 35)
Em março esse livro foi adaptado para o cinema. Vocês podem saber um pouco mais sobre o filme aqui. Não vou colocar o trailer porque me pareceu que a história foi bastante mudada, foi tirado um pouco do protagonismo dos jovens personagens principais, mudaram drasticamente alguns personagens e, aparentemente, a família de Tal não é tão legal (impossível usar outra palavra para descrevê-la) no filme quanto é no livro.
Falando sobre a parte visual e gráfica do livro: gostei da capa com os autores que fizeram Tal e Gazaman no filme, o tom de azul usado me lembra a área onde a história se passa. O tamanho da letra e das margens é bom, as folhas são amareladas.
site:
http://petalasdeliberdade.blogspot.com.br/2013/12/resenha-literaria-livro-uma-garrafa-no.html