Léia Viana 20/09/2019
“O que eu quero é muito mais áspero e mais difícil: quero o terreno.”
Primeiros textos escritos por Clarice e publicados na imprensa e podemos notar como a sociedade mudou e como a mulher evoluiu de 1940 para cá. Não somente na maneira de se expressar, mas também em atitudes. Além disso, a subjetividade é de fato a marca de Clarice, acho que até esse presente momento, nunca li uma escritora tão subjetiva como ela.
“... o pior de mentir é que cria uma falsa verdade. (Não, não é tão óbvio como parece, não é truísmo; sei que estou dizendo uma coisa, e que apenas não sei dizê-la do modo certo, aliás o que me irrita é que tudo tem de ser “do modo certo”, imposição muito limitadora.) O que é mesmo que eu estava tentando pensar? Talvez isso: se a mentira fosse apenas a negação da verdade, então este seria um dos modos (negativos) de dizer a verdade. Mas o pior da mentira é que a mentira é “criadora.”
Este livro fala muito nas entrelinhas do ofício de escrever, de se comunicar para o outro, para o leitor. Adorei o texto “traduzir procurando não trair”, da importância que Clarice dá ao trabalho de tradução, de se manter fiel ao texto original, respeitando também o entendimento do leitor. Achei de uma dignidade tremenda.
“Quem, diz Virginia Woolf, “poderá calcular o calor e a violência de um coração de poeta quando preso no corpo de uma mulher?”
Gostei muito das entrevistas, achei Clarice puritana como repórter e também achei que ela deu um pouco de si nessas entrevistas, tinha Clarice nas respostas dos entrevistados. Achei bonita a definição de Deus que Alzira Vargas do Amaral Peixoto deu a Clarice.
Clarice é sempre uma leitura recomendada!