Livia Lucas 03/09/2020
Este livro do sociólogo e historiador Clóvis Moura é de extrema importância para entender o racismo como principal agente da origem do capitalismo brasileiro. E, segundo a concepção do autor, falar de luta de classes no cenário brasileiro sem antes falar de questões raciais é fazer uma análise imprecisa das relações sociais dentro do nosso contexto específico. O olhar de Moura para o Brasil é singular, ele em seu livro confirma isso quando nos diz que a transição que ocorreu do escravismo tardio (o qual ele denomina de 'a fase final do sistema escravista') para o trabalho assalariado desvalorizou a mão de obra do negro recém-liberto com as políticas de embranquecimento da população, principalmente a vinda dos imigrantes europeus que ocuparam os postos de trabalho existentes e tiveram oportunidades de mobilidade social, enquanto os negros ficaram na sobra da mão de obra. Caio Prado Jr., por exemplo, coloca que o estímulo à imigração europeia foi para suprir a falta de trabalhadores. Mas o questionamento que precisa ser feito é: que falta trabalhadores foi essa, se a população negra recém-liberta da escravidão estava desempregada? Portanto, podemos concluir que essa exclusão do negro brasileiro do mercado de trabalho é mais um projeto genocida que tenta exterminar a população de origem africana, sendo direta ou indiretamente. Através da violência policial ou tirando os recursos materiais necessários para sobrevivência.
Hoje, o negro ainda é colocado à marginalidade e nos subempregos. Os trabalhadores negros são preteridos em relação ao trabalhador branco. Há, sobretudo, a desigualdade racial que dita também aa relações econômicas. Muitos colegas, ao lado do marxismo, cometem um erro ao reduzir a luta racial, chamando-a de "identitarismo", o que não considero um argumento válido, ou sequer pode ser visto como um argumento. É importante dizer: leiam o marxismo negro.