Eve Fowl 15/02/2013Inesquecível!Existem alguns livros, que surgem de tempos em tempos e que, com os anos, são considerados grandes obras de seu genero. Foi isso que aconteceu com “O Senhor dos Anéis”, “Alice no País das Maravilhas” e vários outros. E tenho o pressentimento de que será exatamente isso que ocorrerá com os livros da série “As Crônicas das Trevas Antigas”.
Fui apresentada a esta série através de “Irmão Lobo” que conta o inicio das aventuras de Torak e no qual vamos conhecendo o nosso mundo de 6 mil anos atrás, na Idade da Pedra. Mas o quanto pode ser realmente considerado pré-história é um questionamento frequente durante toda a leitura. Neste universo recriado magistralmente por Michelle Paver, encontramos uma sociedade baseada não apenas na luta pela sobrevivência, mas também na comunhão dos homens com a natureza, sua principal fonte de alimentos, instrumentos e proteção.
A sociedade é baseada em clãs, cada qual com seu animal protetor. Torak pertence ao Clã do Lobo, mas seu pai o criou longe do convívio de outras pessoas, e assim, com a morte dele, o menino encontra-se sozinho na floresta, tendo que lutar contra um demônio que foi aprisionado dentro de um urso e com uma última missão dada por seu pai: encontrar a Montanha do Espirito e destruir o urso. Para ajudá-lo, ele contara com um filhote de lobo que se torna seu guia e irmão. Juntos, eles partem pela floresta em uma busca pela restauração do equilíbrio entre a natureza e os homens.
O estilo narrativo de Michelle te prende desde a primeira página. A autora arriscou-se ao iniciar a história com uma forte carga dramática, já levando o leitor a conhecer os perigos da pré-história. Numa sequência de tirar o fôlego somos apresentados tanto a trama principal do livro como aos personagens principais, e aos poucos, os mistérios vão sendo introduzidos. Mas o grande trunfo da autora não é nos apresentar uma grande cena no começo da história, mas sim, manter a qualidade narrativa e emocional com reviravoltas, mistérios e descobertas.
Achei realmente difícil parar de ler o livro e os momentos em que passava sem ler, ficava imaginando o que veria a seguir no próximo capitulo quais os novos perigos que Torak e Lobo deveriam enfrentar e em como ele conseguiria derrotar o urso demoníaco.
Se a narrativa é ótima, os personagens conseguem ser ainda melhores. São poucos personagens efetivamente apresentados na trama, mas todos eles possuem um papel a desenvolver até o final. Assim, temos constantemente uma sensação de surpresa e envolvimento com essas pessoas que parecem tão distantes de nós, mas que são controladas pelas mesmas emoções que hoje sentimos.
Torak é um garoto que está crescendo e descobrindo o mundo a sua volta e que de uma hora para outra deve enfrentar grandes perigos e compreender vários segredos sobre si mesmo. Com isso, temos um garoto amedrontado, mas com um grande senso de dever e coragem, que contra o seu desejo de fugir, segue em frente em sua busca pela salvação da Floresta e de todos que dela dependem. A estrutura utilizada para a criação do personagem segue a clássica definição da “Jornada do Herói”, que aqui ganha em beleza e dramaticidade.
Os elementos de fundo utilizados para dar cor são frutos de pesquisas e impressões de viagem da autora, que trouxe a tona uma época em que a diferença entre a vida e a morte era de apenas um passo, um lugar onde a magia agia constantemente e era governada por leis próprias, bem como toda a natureza e onde o homem era apenas mais um animal regido por essas mesmas leis e não o dominador das forças naturais.
Sei que estou tecendo muitos elogios ao livro, mas é porque ele merece. O encanto, o drama, os momentos de tensão e suspense, a própria história e os personagens parecem saltar aos olhos. Poucos livros atuais conseguiram me prender como este e gostaria de agradecer pessoalmente a autora por ter escrito mais 5 livros, pois assim, poderia continuar a viajar e a conhecer o mundo com Torak e Lobo.