Vagabundo Original

Vagabundo Original Maksim Górki




Resenhas - Vagabundo Original


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jmrainho 03/11/2015

Vagabundo Original
Tradução e prefácio de Torrieri Guimarães

Alexei Maximovich Pechkov (Pseudônimo Máximo Gorki que usou para despistar as autoridades que o vigiavam), 1868-1936 / Escritor da escola naturalista. Teve infância pobre e diversas ocupações. Como alguns escritores russos clássicos, abordou o sofrimento do povo enquanto que na época proliferava os folhetins de fofocas e romances burgueses - que também tem o seu mérito. Quase com estilo jornalístico narrou a realidade da vida do povo russo, principalmente os pobres, prostitutas, desafortunados e intelectuais desprestigiados, entrando dentro do ambiente das vidas deles e deixando um relato precioso da sociedade esquecida da época. Foi perseguido politico e condenado a morte em 1905 por criticar o Czar, e escapou com a pressão de intelectuais internacionais. Ficou exilado um tempo nos EUA.

Os textos deste livro foram escritos antes e depois da revolução de 1917.
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TRECHOS (sempre fala das personagens)

INCÊNDIOS
Estás condenado a viver (essa frase é significativa pois Górki tentou o suicídio, que não deu certo e só perfurou seu pulmão, ocasionando uma tuberculose).
Quando não se tem fé nas próprias forças é preciso acreditar-se em alguma coisa estranha a nós. Pois o senhor julgou...
Até que ponto se pode um homem torturar e ate onde pode manter-se e resistir.
Vivo da graça de Cristo (mendicidade).
Tudo quanto se falava nestes dias torvos e abafadiços realçava com particular acuidade a pobreza e o tédio da vida de todos os dias

OS DESENRAIZADOS
O pessimismo é uma mentira, pois é o pessimismo a filosofia dos fracassados.
A felicidade é uma ilha deserta, habitada pelos seres de minha imaginação.
A felicidade está em o homem ter-se inventado bem a si mesmo e amar a sua invenção.
Já que eu sou um condenado a morte, tenho o direito de viver a meu modo.

VAGABUNDO ORIGINAL
Afirmo eu, portanto, que existem destinos, subdestinos e sortes...
- As sortes são o mesmo que anjos protetores, apenas com a diferença de ser Satanás quem as põe próximo dos homens.
- A alma é uma ave que Satanás procura prender
- Desde os seus primeiros dias foi a humanidade rodeada de forças misteriosas que não pode compreender e não sabe combater.
Estás semeando entre o povo o racional, o bom, o certo (versos de Nekrassov).

INVESTIGADORES
Por que eu tenho sorte? Certamente, eu tenho qualidades, sou piedoso, não sou um imbecil, sou modesto e sóbrio. Vejo, porém, muita gente melhor do que eu, à qual a sorte não favorece. Como podes permitir tu isto, Senhor?
O Diabo não tem existência real. O Diabo foi inventado pela nossa razão malvada; os homens é que o criaram, para terem justificativa à sua torpeza, e também no interesse de Deus, para não o ofenderem. Apenas existem Deus e o homem, nada mais!
Meditei e pensei. Vivas tu como viveres, meus pobre, tu apenas é que orientas a tua existência.
As nossas inquietudes não tem grande sentido; não tem até nenhum sentido, se olharmos om olhos de ver. Vivo sem Deus. Tenho piedade pelos homens, pois ele os abandonou, e considero a existência um tanto monótona...
Geralmente, um assassino é um ser irredutivelmente estúpido, um semi-homem, que não é capaz de compreendera importância de seu crime, ou um malfeitor cínico, raposa que caiu numa armadilha, ou então um miserável amargurado, desesperado, incitado pelo infortúnio.
O encontro com um homem não é obrigatoriamente uma ameça de perigo, porém entretanto temos que nos mostrar prudentes na escolha de nossas relações. jamais eu consentiria em conhecer um tubarão.
Apenas aquele que tem dores de dentes sente perfeitamente tais dores, e somente enquanto as sofre. Imediatamente esquece-se de quanto elas lhe custaram. Seria de grande utilidade que os dentes doessem pelo menos uma vez por mês, porém forçosamente no mesmo dia para toda a população do mundo. Em tais condições, talvez os homens aprendessem a se compreender.

UM ESCRITOR FRACASSADO
Com vinte anos, eu sentia-me de tal modo invadido pelo tédio da vida,que a minha alma estava seca; a indolente agitação das pessoas me deixava irritado demais e assustava-me mesmo; eu não entendia o sentido da existência, olhava para tudo perplexo.
Bebia, e quando bêbado, apostava que era capaz de partir nozes com a testa.

UM MONÁRQUICO
Não existe povo; apenas há o provo quando as pessoas se agrupam aos montões, e se grita a elas, e põe-se-lhes medo, e dá-se-lhes ordens Povo que se una por um mesmo interesse, não existe! O povo é areia, argila. E para que sirva à construção de um Estado, é preciso amassá-lo e cozinhá-lo ao fogo, por muito tempo,
Quanto menos justos existem, mais satisfeito está o Diabo.
O povo vive de sonhos, tem uma imperiosa necessidade de imaginação, para estar resignado à vida que leva, visto que esta existência lhe foi dada para os séculos dos séculos.
Para o povo, a única liberdade possível é a da imaginação. A existência para ele não é uma ventura, não o será jamais; sempre, hoje e amanhã, ela sempre há de ser somente expectativa, ventura. O povo necessita de heróis, santos.
O homem vive de sonhos, eu lhe afirmo. Precisa de muita imaginação para aceitar a existência de um bem, sem ódio,sem resistência., apenas como um material que a razão deve amoldar. Os homens, o povo sem sonhos, são cegos de nascença.
A verdade não é necessária aqui: o que se precisa é de sonho; não se pode edificar um Estado sobre uma verdade nua; um Estado assim não existe!

FIGURAS DE SÃO PETERSBURGO

O homem é apenas feliz se puder recordar-se de que não é homem por muito tempo e resignar-se por isso...
Declaro que é inútil acordar em nós, homens, a esperança de uma vida melhor, e que até mesmo é desumano e criminoso; é colocar as pessoas sobre brasa.
O homem simples, o que nós consideramos tolo, é exatamente o verdadeiro construtor da existência. A maior parte dos homens é tola...
Acordar esperanças que não podem ser realizadas nos homens, que via de regra não tem duração, é complicar-lhes o jogo.
O ser humano que sofre ultraje é terrível, quando se acha com direito de se vingar e tem liberdade de o fazer.

FÔLEGO PERDIDO

Lembram um cão de fila no final da existência; desde pequeno rosnou e ladrou honestamente, com uma incrível fé na santidade de seu trabalho, recebendo como recompensa somente pontapés. E de súbito descobre que nada tinha a guardar, que ninguém guarda coisa alguma. Por que gastou ele então a vida inteira na casinhola do dever, preso à corrente das obrigações? E o velho cão honrado sente-se ultrajado até à loucura.
A verdade é um juízo cheio de um sentimento de fé.

QUADRO DE COSTUMES

Seria melhor que fossemos habituado ao ateísmo, por Deus! Devemos viver com os nossos próprios meios, sem temor; temor já sofremos bastante. Agora, não devemos mais ter medo de ninguém, senão de nós mesmos. E você, camarada, o que anda procurando? Que deseja realmente?
Já que o famoso Darwin estabeleceu com solidez a necessidade da luta pela existência e nada apresentar contra a extinção dos fracos, isto é, dos homens que não são capazes de um trabalho útil, e considerando que mesmo, sem Darwin, isto já se conhecia na Antiguidade: conduziram-se os velhos para as matas e aí eram deixados a morrer de fome, ou então faziam com que subissem em árvores, que depois serem sacudidas, para que eles morressem ao cair - resulta que a ciência foi além de nossa melíflua moral.

MAMÃE KEMSKI

Sinto-me na estranha e penosa situação de uma mosca que topa contra uma vidraça: é como se ali nada existisse e, entretanto, existe um obstáculo impenetrável.

ASSASSINOS
Os jornais, sem sombra de dúvida, favorecem enormemente o desenvolvimento da criminalidade, ao pintarem os assassinos com vivas e fascinantes cores; tornam-se heróis, e fazem dos crimes façanhas. Demonstrando pelos criminosos um vivo interesse e pelas vítimas uma total indiferença, os jornais falam especialmente da habilidade dos assassinos, de sua astúcia, de sua audácia.
É bem possível que o cinema torne mais acentuado e até mais profundo o tédio de viver daqueles que, como tambores, são ocos e somente soam quando recebem o golpe do exterior.
Porém que o cirurgião Oppel tenha por três vezes ressuscitado mortos om massagens no coração, em cima de uma mesa de operação, nem se conhece nem se fala disso (provavelmente alusivo a época em que trabalhou em jornais no EUA e se deparou com o sensacionalismo das páginas policiais).
E talvez em parte seja por esse motivo que os heróis nossos, políticos ou de qualquer outra casta, são tão efêmeros e tão facilmente se esvaziam. E é pelo mesmo motivo também que, em nossa vontade de criarmos um herói, ainda que pequeno, tão frequentemente criamos uma grande besta.
O homem do qual não se fala deixa de existir. A mais hedionda das prisões é a prisão em céu aberto, a prisão sem muros nem janelas de grades, a Tebaida (do egípcio antigo, solidão profunda) sem Deus nem homens.
Afirme-se a um patife que ele é um homem honrado e ele fará por justificar essa opinião.
Quando é que os homens cessarão - e alguma vez cessarão? - de se matar uns aos outros, e de admirar os assassinos? Os crimes políticos estão se tornando tão frequentes como os crimes de direito comum.
Máxima de Nicola Nekrassov: semear oque é sábio, o que é bom, o que é eterno.

AS BARATAS
(último, maior e mais importante conto do livro . As aventuras do menino, depois jovem, rebelde, Platão com um criativo final, da morte do protagonista, na rua. O conto começa, Gorki, explica, com a visão de um homem morto na rua. Ele criou o conto a partir dessa visão)

Alguém - tenho impressão que foi Descartes - dizia que pensar é esforçarmo-nos em estabelecer uma ligação bem fundada entre os juízos verdadeiros. Outros declamaram que, a não ser o Demo, tido como pai da mentira, ninguém conhece o que vem a ser um juízo verdadeiro.
Comer, beber, amar, morrer! Quanto ao mais, cospe nisso.

... Bem entendido, é muito provável que o "homem que não é daqui", o homem que faleceu "de andar" não seja este do qual eu estive falando, que não tenha vivido, sentido, pensado deste modo. Mas tudo quanto existe é para ser contado. E é inteiramente inadmissível que um homem permaneça morto, de noite, próximo a uma pedra, à borda de uma poça de água, e que, por essa razão, não seja possível contar alguma coisa a seu respeito. (FIM)
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