Renato420 28/01/2016
Amor e liberdade.
A minha primeira experiência de leitura das obras do Milan Kundera foi “A Insustentável Leveza do Ser”. Extremamente agradável. Agora, a sensação se repete em “A Identidade”. Uma coisa que me fascinou foi a forma como os(as) personagens, os sentimentos, os lugares são descritos. Pausadamente, detalhadamente, sem ser algo cansativo nem prolixo. Além disso, as duas histórias possuem alguns pontos semelhantes.
“A Identidade” conta a história de Chantal e Jean-Marc. Ela (Chantal) está passando por um momento de “crise de identidade” que consiste na percepção de que os homens não a observam mais, não notam a sua presença como, um dia fizeram. Ela não deseja envolver-se com nenhum estranho, mas sentir que ainda pode despertar o desejo de desconhecidos, uma afirmação de que ainda possui o que ela acredita ser sua essência, sua identidade.
Nisso, ela começa a receber cartas anônimas de um admirador que afirma segui-la por todos os lados por considerá-la linda. Chantal sente seu ego rejuvenescer. Essa situação muda a forma como ela passa a proceder. Jean-Marc percebe essas alterações mas atribui a isso a questão de que ela está se acostumando com a idade (ela é mais velha que ele).
No decorrer da história, algo faz com que essa “crise de identidade” aumente, e Chantal passa por inúmeras reflexões sobre a sexualidade, sobre o amor, sobre a vida rotineira com Jean-Marc ou uma vida de aventuras sexuais com outros homens, que seria capaz de fazê-la reencontrar-se consigo mesma. Chantal vive a incerteza de que se todas essas coisas são reais. Ou não.
Em determinado momento ela diz “eu tenho duas caras”. E nós? Será que também não possuímos duas, três, quatro ou múltiplas caras? Pode ser que sim, mas a nossa identidade, como a de Chantal, é uma somente. Jean-Marc segue o caminho de “uma cara só”.
Usarei as palavras, para terminar, de um comentário do leitor Manuel Barroso sobre o livro: “O ser humano anseia permanentemente pela liberdade, pela realização do “eu”. No entanto, o amor é algo que conduz a um beco sem saída, a uma quimera que é uma espécie de liberdade a dois... A verdadeira natureza humana é a do sonho: do sonho libertador, da atração fatal da liberdade. É entre estes dois pólos (amor e liberdade) que vagueiam Chantal e Jean Marc... Qual dos dois triunfa? Talvez todos os triunfos sejam provisórios e a vida humana não seja mais que uma viagem hesitante e constante entre os dois”.