Ângela Bittencourt Cardoso 18/12/2023
Capaz de possuir, renunciou às vantagens da posse; induzido a guardar consigo as rédeas do poder, preferiu a obediência para ser útil, e, embora muita vez bafejado pela fortuna, dela se desprendeu a benefício dos outros, sem atrelá-la aos anseios do coração... Exemplificou o bem puro, sossegou aflições e lavou chagas atrozes... Entrou em contacto com os seres mais infelizes da Terra. Iluminou caminhos obscuros, levantou caídos da estrada, curvou-se sobre o mal, socorrendo-lhe as vítimas, em nome da virtude... Paralisou os impulsos do crime, apagando as discórdias e dissipando as trevas... Mas a calúnia cobriu-o de pó e cinza, e a perversidade, investindo contra ele, rasgou-lhe a carne com o estilete da ingratidão.
Depois de muito tempo, ei-lo de volta ao sítio divino.
Não passava, porém, de miserável mendigo, a encharcar-se de lodo e sangue, amargura e desilusão.
- Ai de mim! ? soluçou junto ao vigilante da Grande Porta ? se de outras vezes, envergando veste nobre não consegui favorável resposta ao meu sonho, que será de mim, agora, coberto de barro vil?
O guarda afagou-o, enternecido, e conduziu-o à sondagem habitual.
Entretanto, oh! surpresa maravilhosa!...
A velha balança, movimentando o fiel com brandura, revelou-lhe a sublime leveza.