Os Bruzundangas

Os Bruzundangas Lima Barreto




Resenhas - Os Bruzundangas


66 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5


Beatriz 20/01/2024

Excelente e pertinente
Com certeza entrou pros melhores livros e agora passo a amar Lima Barreto.

Após inventar um país, Brunzundanga, Lima Barreto tece uma crítica geral e bem humorada ao Brasil da República velha, q se parece demais com o Brasil atual.

"Pobre terra da Bruzundanga! Velha, na sua maior parte, como o planeta, td a sua missão tem sido criar a vida e a fecundidade para os outros, pois nunca os que nela nasceram, os que nela viveram, os que a amaram e sugaram-lhe o leite, tiveram sossego sobre o seu solo!"

Para mim esse livro é um daqueles q agradaria a gregos e troianos. Mas espero, q assim como o intuito do Lima Barreto ao escreve-lo, esse livro seja capaz de nos livrar dessas figuras tragicomicas q nos governam e nos subjugam.
Emerson Meira 21/01/2024minha estante
Parece bom e divertido ? Vai pra lista de leitura ?


Beatriz 21/01/2024minha estante
É excelente esse livro. Eu recomendo MT, pq é um livro e divertido e tranquilo pra ler, mas q traz uma carga foda de questões pra relacionar com a realidade.


Emerson Meira 21/01/2024minha estante
O famoso "tudo mudou e nada mudou" de nossa época ? Já tá na lista ?




alex 29/07/2022

Os bruzundugas, de Lima Barreto (1923)
Lima Barreto, excepcional, mostra, mais uma vez, que é um dos escritores mais indevidamente desprestigiados do país.

Trata-se de histórias contadas sobre um país fictício (Bruzunduga) nas quais o autor se esbalda em ironizar a sociedade brasileira do início do século XX.

Engraçado e triste, pois se nota como evoluímos menos do que gostaríamos enquanto nação.
Monique 29/07/2022minha estante
A escrita é difícil?


alex 31/07/2022minha estante
Monique, achei de boas, mas acho q essa percepção pode variar dependendo do leitor. De todo modo, é algo que dá para acostumar depois se algumas páginas.


Monique 31/07/2022minha estante
Faz muito sentido, cada um tem uma percepção. Nunca li nada do Lima Barreto, mas tenho vontade.




Krishnamurti 07/05/2021

A BRUZUNDANDA QUE SE ETERNIZA
ESCREVI ESTE TEXTO HOJE. 07/05/ 2021
Um sujeito atira a esposa do quarto andar de um prédio e leva 3 anos para ir a julgamento, em Salvador dois sujeitos (quase pretos), roubam carne em um supermercado, são flagrados e entregues no mesmo dia a traficantes que matam os dois e atiram os corpos no meio da rua, caixas eletrônicos são explodidos país afora, a criminalidade não conhece limites, segue incólume estabelecendo verdadeiros Estados paralelos.

As grandes cidades do país não passam de tristes cenários invertidos de nosso passado. Casa Grandes cercadas por favelas de todos os lados, que terminam reproduzindo infindáveis chacinas como a de ontem no Jacarezinho (Rio de Janeiro), que deixou um saldo de 25 pessoas mortas. O país vive hoje uma miséria generalizada a níveis nunca vistos com desemprego ou subemprego à larga, a espera que o cidadão seja “empreendedor”.

Enquanto isto, um ex-presidente da República que foi acusado de todo tipo de roubalheira, é preso, julgado, condenado e cumpre pena, para mais adiante, a mesma justiça (que tem vários desembargadores presos por corrupção), anular o julgamento (?). Em Brasília os excelentíssimos senhores senadores da república discutem acaloradamente sobre o sexo dos anjos no caso da CPI da Covid, pandemia que já matou 400.000 brasileiros. Tudo isto nos leva a enlaces entre ficção e a realidade.

Para quem não sabe, Os Bruzundangas são os habitantes de um país imaginário criado pelo escritor Lima Barreto em obra publicada em 1922. Naquela sociedade, “Tendo crescido imensamente o número de doutores, eles, seus pais, sogros etc. trataram de reservar o maior número de lugares do Estado para si.” “A primeira cousa que um político de lá pensa, quando se guinda às altas posições, é supor que é de carne e sangue diferente do resto da população. O valo de separação entre ele e a população que tem de dirigir faz-se cada vez mais profundo.” “Tratam, no poder, não de atender as necessidades da população, não de lhes resolver os problemas vitais, mas de enriquecer e firmar a situação dos seus descendentes e colaterais.”

Ninguém tem muito amor pela própria terra. “O ideal de todo e qualquer natural da Bruzundanga é viver fora do país.” O líder nacional, conhecido como “mandachuva”, “É escolhido entre os advogados, mas não julguem que ele venha dos mais notáveis, dos mais ilustrados, não: ele surge e é indicado dentre os mais néscios e os mais medíocres. Quase sempre, é um leguleio da roça”. Escreve ainda Lima Barreto: “Os preponderantes e influentes têm todo o interesse em não fazer subir os inteligentes, os ilustrados, os que entendem de qualquer cousa; e tratam logo de colocar em destaque um medíocre razoável que tenha mais ambição de subsídios do que mesmo a vaidade do poder.”, e aquela república imaginária: “Pode ser definida a feição geral da sociedade da Bruzundanga com uma palavra – medíocre.”

Eis a nossa belíssima democracia, a nossa política safada, a nossa eficientíssima justiça, o nosso degredo moral que nos coloca na rabeira das nações do planeta! O pior é que ao longo do tempo, estamos nos tonando uns medíocres violentos... violentíssimos.
Madu 07/05/2021minha estante
Não conhecia esse livro e depois dessa resenha quero ler agora mesmo


Krishnamurti 07/05/2021minha estante
Leia. Você vai gostar. Abração.


Murilo.Garcia 04/03/2023minha estante
O livro é mais atual do se imagina.

E percebe-se que nao avançamos muito na política (se é que avançamos).





Luis 24/11/2012

Es tú, Brasil ?
Lima Barreto está na moda.
Escrevo sob o impacto da realização da primeira FLUPP, a Feira Literária das UPP`s, evento que aproveitou a iniciativa marcante da pacificação de boa parte dos morros e comunidades do Rio de Janeiro, para discutir e descobrir a literatura fora dos salões acadêmicos. E o que o nosso Lima tem a ver com isso ? Tudo, visto que em sua época, o escritor teve uma postura quase obsessiva em desnudar o mundo literário de seus rapapés e cerimônias e trazê-lo o mais perto possível da vida real, da poeira do asfalto, do povo, enfim. Não por acaso, o autor de Os Bruzindangas foi o patrono do evento.
A minha relação com a sua obra data de 1989, quando D. Umbelina, uma professora de Geografia, exótica e lendária, que lecionava no Pedro II da Tijuca, me presenteou, sem nenhuma razão aparente, com um volume de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”. Nos meus imberbes 14 anos, nunca tinha ouvido falar do livro, tão pouco de Lima Barreto. Só bem mais tarde, em 1992, resolvi me aventurar pelas páginas do escritor e, qual não foi a minha surpresa, descobrir um autor ímpar, com uma prosa de difícil de ser classificada e uma biografia marcada por intenso sofrimento. Um gênio incompreendido.
“Os Bruzundangas” é uma sátira mordaz ao Brasil de então e que, lamentavelmente, não difere tanto do atual. Discriminado por ser mulato, pobre e sem curso superior, Lima Barreto se vinga traçando um retrato cruel das elites em todas as suas vertentes : política, econômica e acadêmica. Talvez, a lente do ressentimento, embora legítima, não tenha feito tão bem à pena do escritor, já que o livro, embora fruto de um profundo senso de observação jornalística (atividade que Lima desempenhou com regularidade) não está no mesmo nível das obras de ficção que gravariam o seu nome na eternidade, como o já citado “Triste Fim” , “Clara dos Anjos” e “ Recordações do Escrivão Isaías Caminha”.
Ainda assim, a flecha certeira e envenenada que atinge em cheio a República Velha é uma prova irrefutável da atualidade de seu pensamento e inconformismo crônico. Não poderia deixar de destacar ainda o belo bônus da edição da Ática, Série Bom Livro (2011), que traz um ensaio espetacular de Carlos Faraco, especialista na vida e na obra do escritor.
Passados 90 anos de sua morte, Lima Barreto, finalmente, parece ter o destaque de que sempre mereceu.
Marta Skoober 07/12/2012minha estante
Como sempre suas resenhas são muito boas, Luis.


Luis 02/01/2014minha estante
Eu que agradeço a gentileza do seu comentário, Marta. Um abraço.




Larissa2526 14/08/2022

Os Bruzundangas
Lima Barreto, desculpa ter falado mal do livro nas primeiras 10 páginas, eu não sabia o que estava fazendo! Você é genial e eu imploro pelo seu perdão.

Esse livro>>>

Tudo bem, agora sério.
O estilo de escrita dele é satírico e irônico, então tem muitos xingamentos eruditos e expressões de descaso e depreciamentos incríveis. Alhos com bugalhos!!

Os capítulos também são bem pequenos, os maiores devem ter 4 ou 5 páginas, e cada um é um assunto diferente. Por exemplo, tem um capítulo especialmente para os mandachuvas da Bruzundanga, que no caso seriam os presidentes, e ele menciona que a única coisa que eles precisam saber é ler e escrever e não ter nenhuma opinião própria (palavras dele) e que aquilo, desde o início do governo em formato de república vinha sendo seguido de forma quase religiosa.

Há capítulos para falar o quanto a sociedade é medíocre e a nossa incapacidade de manter um teatro nacional e não apreciar as artes do próprio país. Lima Barreto, eu te venero, genial.

Posso contar o plot Twist??? A BRUZUNDANGA É O BRASIL!!! bummm, destruição, choro, gente em pânico.

Sim, L.B, 1922, plenos século XX fazendo críticas sociais, raciais e históricas, como é caso do capítulo dedicado a Anita Garibaldi e o capítulo para os secretários dos mandachuvas (nunca ri tanto em tão poucos parágrafos).

Assim, eu particularmente recomendo muito esse livro, não imaginava que seria tão bom, super transformador, me fez pensar em muitas coisas e refletir sobre muitas outras.
Roberta 14/08/2022minha estante
Gostei da sua resenha




João 18/01/2019

Os Bruzundangas - Lima Barreto.

Lamentavelmente, o Brasil ainda é um retrato cuspido e escarrado (ou melhor: esculpido em Carrara) da República de Bruzundanga.

"Os Bruzundangas" teria sido escrito por Lima Barreto nos idos de 1917, mas publicado postumamente em 1922.

O livro não se caracteriza propriamente como um romance de personagens, podendo ser identificado mais como um conjunto de crônicas ou sátiras. As crônicas são narradas por um viajante, que, após ter conhecido o curioso país "Bruzundanga”, passa a relatar as impressões que acerca dele formara.

Na medida em que a leitura evolui, o leitor brasileiro pode se surpreender com a familiaridade encontrada nos usos e nos costumes daquele povo exótico, os bruzundanguenses. É que deliberadamente a Bruzundanga de Lima Barreto constitui um retrato fiel do Brasil do início do século XX. E, podendo-se dizer mais, trata-se de uma alegoria representativa do Brasil de nosso tempo. Obviamente, guardadas as devidas proporções, desde que o livro fora escrito houve significativa evolução nas relações privadas, tornando-se obsoletos alguns usos e costumes descritos na obra. Contudo, ainda assim é possível identificar importantes continuidades daquelas práticas culturais no Brasil atual, especialmente no que toca à esfera governamental e suas relações administrativas.

A narrativa vai sendo desenvolvida a partir do ponto de vista do viajante, cujas impressões vão sendo organizadas em "notas" que compõem os capítulos do livro. Em tais "notas", o viajante descreve os "curiosos" e "interessantes" traços da vida pública e privada dos habitantes da Bruzundanga.

Assim é que os mais diversos setores da cultura bruzundanguese vão sendo descritos. É assim que o leitor vai tendo o prazer (ou desprazer) de conhecer "a sociedade", "a nobreza", "as eleições", "os heróis" e até a "Constituição" da República de Bruzundanga.

Nesses capítulos do livro, Lima Barreto lança mão da sátira, dotada de poderosa dose de ironia e sarcasmo, para denunciar as futilidades e os preconceitos que caracterizam as relações privadas das classes sociais dominantes. É desnudada a mesquinhez das elites brasileiras, bem como a excessiva afetação e a pobreza de espírito dos intelectuais da época. No aspecto cultural das letras e das artes, os bruzundanguenses (ou os brasileiros!) parecem então tomados pelo "complexo de vira-lata" (conforme cunharia mais tarde Nelson Rodrigues). Nesse sentido, Lima Barreto demonstra o quão ignorada era a originalidade dos artistas brasileiros, sempre desdenhados em sua potencialidade artística. Ao contrário, eram tidos por talentosos, sábios e eruditos os brasileiros copiadores da arte estrangeira, ainda mais se se expressassem por meio de uma linguagem hermética e incompreensível.

Em capítulo especial que inaugura a narrativa, intitulado "Os samoiedas", Lima Barreto destina sua crítica ácida aos poetas parnasianos que dominaram a cena literária brasileira no final do século XIX até aproximadamente 1922. "Os samoiedas", que na verdade constituem grupos étnicos que habitam ainda hoje a região da Sibéria, é a figura encontrada por Lima Barreto para representar, em alegoria, os poetas parnasianos, cujas obras são duramente criticadas pelo autor, face à sua linguagem obscura, hermética, excessivamente formalista e nada compreensível.

Por todos esses aspectos, o título da obra faz justiça ao povo da República da Bruzundanga, porquanto um dos possíveis significados encontrados no dicionário para o termo "bruzundanga" é o de "uma linguagem confusa ou incompreensível". Ora, seja no campo das artes dos bruzundangas, seja no campo da política, pululam atitudes confusas e até incompreensíveis de tão inacreditáveis.

É bem verdade que é possível perceber nas sátiras lançadas por Lima Barreto um sentimento de exclusão social do autor (escritor e intelectual negro do início do século XX), ou mesmo um ressentimento nutrido em relação a determinadas pessoas ou instituições daquela época (exs: Academia Brasileira de Letras, o ilustre Barão do Rio Branco, etc.). Contudo, a meu sentir, tais sentimentos pessoais em nada comprometem o conjunto da obra e a sua vocação para a reflexão acerca da evolução cultural e do estágio civilizacional em que se encontra o Brasil.

Boas leituras!


Aurélio prof Literatura 10/05/2020minha estante
Excelente resenha. É interessante notar que o tempo passou, mas os problemas relatados por Lima Barreto no espetacular país Bruzundanga ainda permanecem no Brasil hodierno. Leitura imprescindível para entender como funciona a máquina da corrupção no país.




Davi 18/07/2020

Retrato tragicômico do que não podemos ser
Lima Barreto, aqui, registra suas visitas e obervações acerca da caricata Bruzundanga, lugar fictício e extremamente provinciano. As críticas e olhar ácido e sarcástico retratam uma terra onde impera burocracia mal utilizada, políticos ocupados com bobagens, povo inculto e despreparado, elite fútil, vazia, vaidosa. E permeando todas essas anomalias expoentes, inteligentes e artistas de valor, calados, postos à margem.

Claro, é um retrato cômico e trágico que pode ser considerado um futuro possível (mas não provável) se continuarmos com a síndrome do vira-lata, com a super-simplificação de que o problema do Brasil é nossa "gentilidade" ou "jeitinho brasileiro", como bem apontou Jessé Souza. Não podemos esquecer as palavras de Machado de Assis quando separa o Brasil real do Brasil oficial. É uma extrapolação, claro, mas, antes, um alerta do que devemos evitar. E isso, Lima Barreto também o faz. Com seu conhecimento enciclopédico (que ora cita filósofos gregos, ora cita Newton) e criativo nos propõe uma sociedade e modelo de Estado que devemos evitar. É um grito de alerta, com linguagem pré-moderna, do que devemos evitar, do que não somos e do que não seremos. Mas é preciso estar atento para não cairmos em tais armadilhas.

Livro extremamente relevante, clássico da literatura brasileira. Não se engane em achar que está lendo sobre o Brasil: estás lendo sobre Bruzundanga, sobre o recado de alerta. O Brasil real tem Jorge amado, Castro Alves, Lima Barreto, Belchior, César Lattes, Quintana, Leminski, Aleijadinho, Portinari, Suassuna, Veríssimo, Machado de Assis, Adélia Prado, Graciliano Ramos, Drummond, Cruz e Souza, Bertha Lutz, Carlos Chagas, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Milton Santos, Florestan Fernandes, Cora Coralina, Vital Brazil, Matias Aires, Tarsila do Amaral, Milton Nascimento, Villa-Lobos, Noel Rosa, Cartola, Pixinguinha, Aracy de Almeida, Chiquinha Gonzaga, Beth Carvalho, Maria Mouzinho, Vinícius de Moraes e mais algumas centenas.
Daniel.Malaquias 23/12/2020minha estante
Excelente crítica, porém não pude evitar de relacionar a República da Bruzundanga com o Brasil.




Hebson 03/12/2009

Bem,achei o livro um pouco tedioso devido a linguagem usada pelo autor.Mas como em todo livro:você sempre aprende algo novo!Neste livro dá para comparar bem a velha Bruzundanga como o nosso atual Brasil!Por que será?!
comentários(0)comente



JIMWauters 04/02/2010

Bruzundangas?
Lima Berreto, com o seu estilo satírico e sarcástico retrata os descasso políticos e cotidianos de um país que muito se parece com O Brasil de hoje, de ontem e quem sabe até de sempre...
Vale a pena conferir.

comentários(0)comente



Thaís 03/11/2011

Uma boa sátira que foi e continuará sendo a analogia literária perfeita para representar o Brasil de ontem e, inclusive, o de hoje.
Em "Os Bruzundangas", Lima Barreto apresenta situações tão incomuns, tão exageradamente irônicas e engraçadas que é impossível não traçar um paralelo com "um país que conhecemos".
comentários(0)comente



Victor José 07/12/2012

Se hoje fosse publicado Os Bruzundangas, aposto que em muitos aspectos a obra não estaria fora de contexto. Mesmo depois de muito tempo, este livro de Lima Barreto (1881-1922) ainda carrega a mesma força no sentido de denúncia, mesmo que nele permeie um modo mais leve de relatar temas negativos, se comparado com outros trabalhos mais recentes e de conteúdo similar.

Publicado postumamente em 1923, Os Bruzundangas é um conjunto de crônicas sobre um país fictício, a República dos Estados Unidos da Bruzundanga. Esta nação hipotética contém basicamente os mesmos problemas encontrados no Brasil, e é nesse aspecto satírico que o autor se apega para condenar os problemas sociais, o que é uma característica muito presente em toda a obra de Lima Barreto. O termo ‘bruzundanga’ é um substantivo feminino que pode significar ‘burundanga’, que é o mesmo que ‘palavreado confuso’, ‘mistura de coisas imprestáveis’, ‘mixórdia’, ‘trapalhada’ ou ‘embrulhada’.

O livro é um diário de viagem de um brasileiro que morou por uns tempos naquele país e conheceu de perto os principais pormenores. Ao longo dos capítulos, Barreto discorre sobre vários assuntos, dentre eles, a Constituição, a indústria, o nepotismo, o favorecimento aos políticos, a má educação, o setor defasado da saúde, a imprensa, além dos costumes do povo e da cultura (música, teatro, literatura etc.)

A maneira como ele aborda os problemas ainda é estritamente válida, fácil de ser adaptada para a nossa realidade. Além disso, o livro não se torna cansativo como alguns clássicos do mesmo período, tem pouco mais de 150 páginas e é capaz de conquistar o leitor menos acostumado com o estilo da época.

Mesmo com todo o humor e elegância, é bastante clara a denúncia para qualquer um que lê-lo, a crítica é incisiva. Para exemplificar, segue abaixo um trecho do sexto capítulo, “O Ensino na Bruzundanga”:

"(...) Há casos tão escandalosos que, só em contá-los, metem dó.

Passando assim pelo que nós chamamos preparatórios, os futuros diretores da República dos Estados Unidos da Bruzundanga acabam os cursos mais ignorantes e presunçosos do que quando para lá entraram. São esses tais que berram: “Sou formado! Está falando com um homem formado!”

Ou senão quando alguém lhe diz:

- Fulano é inteligente, ilustrado...”, acode o homenzinho logo:

- É formado?

- Não.

-Ahn!"

Nesse sentido de romance social, o autor, que também publicou Triste Fim de Policarpo Quaresma (1915), é tido como o pioneiro no Brasil, e ao mesmo tempo como o crítico mais ferrenho da República Velha na esfera artística.

Segundo o próprio Lima Barreto, ele se enquadrava num segmento denominado ‘literatura militante’, e dizia que tinha como objetivo fazer comunicar umas almas com as outras para reforçar a solidariedade humana, tornando os homens capazes de se entenderem melhor. E é fácil notar essa mensagem em Os Bruzundangas, afinal, basta rememorar o retrato brasileiro daquele período e seus respectivos personagens e compará-los com os personagens da obra. São caricaturas explícitas.

Vale a pena lê-lo por muitos motivos, mas, repito, compará-lo com os dias atuais e enxergar uma série de semelhanças esdrúxulas é o aspecto mais irresistível. Parece praga, da boa e da ruim.

http://sopadecoisa.blogspot.com.br
comentários(0)comente



Felipe1503 17/03/2024

Fazia tempo que eu não lia um livro de crônicas tão boas
?A Constituição da Bruzundanga era sábia no que tocava às condições para elegibilidade do mandachuva, isto é, o presidente.
Estabelecia que devia unicamente saber ler e escrever; que nunca tivesse mostrado ou procurado mostrar que tinha alguma inteligência; que não tivesse vontade própria; que fosse, enfim, de uma mediocridade total.
Nessa parte a Constituição foi sempre obedecida?. (p. 67)
Muito diferente do Brasil atual, não é? ????
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



spoiler visualizar
comentários(0)comente



66 encontrados | exibindo 1 a 16
1 | 2 | 3 | 4 | 5


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR