PorEssasPáginas 25/05/2013
Resenha A Pousada Rose Harbor - Por Essas Páginas
Resenha original publicada no blog Por Essas Páginas: http://poressaspaginas.com/resenha-a-pousada-rose-harbor
Recebi A Pousada Rose Harbor em parceria com a Editora Novo Conceito há alguns meses, porém, devido à minha enorme pilha de livros para ler, ainda não tinha conseguido parar para lê-lo. Recentemente senti vontade de uma leitura um pouco mais leve, logo, resolvi me aventurar e me hospedar nessa pousada através das páginas. Porém, a experiência foi um pouco frustrante. Quer saber por quê?
Acho que o primeiro motivo que me fez querer ler esse livro quando li a sinopse foi o fato de Jo Marie Rose estar tentando superar a traumática experiência de perder um ente querido, no caso, o marido. De fato, Jo Marie foi a personagem que achei mais interessante no livro. Ela compra essa pousada em Cedar Cove (e o nome da cidade é importante, porque é uma referência a outra série da autora – vou falar disso mais tarde) e decide mudar radicalmente de vida e de ares após a morte do marido. Ainda em processo de luto e precisando ocupar a mente e fazer algo para se sentir viva, Jo Marie embarca nessa aventura e resolve se mudar e gerenciar a pousada – mesmo sem nenhuma experiência no negócio. Ela acredita que, por gostar de receber hóspedes, poderá se dar bem com a pousada.
Logo no início do livro há uma nota de Debbie Macomber dizendo que recebera muitos pedidos de fãs para continuar sua série de livros sobre Cedar Cove, então ela resolveu escrever esse livro, que acontece no mesmo lugar, porém direcionado a outras histórias, outros personagens. Ela diz também que os fãs irão se deliciar com a aparição de alguns personagens da sua outra série na trama. Ok, beleza, eu não li a série Cedar Cove, muito menos tinha lido alguma coisa da autora antes desse livro; digamos que eu era uma forasteira na cidade e acho que, após terminar o livro, continuo sendo.
O fato é que, devido a esse desejo de mostrar alguns personagens de sua outra série, Debbie Macomber não pensou muito nas pessoas que leriam o livro sem a leitura prévia da sua série. Não que haja problemas de entendimento do livro, não é disso que estou falando. O que quero dizer é que frequentemente durante a leitura de A Pousada Rose Harbor me deparei com alguns personagens completamente inúteis que foram jogados no livro em situações dispensáveis; como li a notinha da autora sobre a sua série anterior, logo percebi que essas aparições eram propositais apenas para agradar os fãs da outra série. O problema é que pessoas como eu que jamais leram sobre Cedar Cove antes ficam confusos com essas pessoas que não conhecemos e, ao mesmo tempo, irritados com essas cenas forçadas, que em geral não acrescentam nada à trama. Pelo menos foi assim que me senti.
Tirando esse detalhe, não há qualquer outra referência à série anterior que dificulte o entendimento da trama atual. Voltando à história, Jo Marie comprou essa pousada e seus dois primeiros hóspedes são pessoas, como ela, com grandes fardos de dor na vida. Josh é um homem solitário e amargo, que perdeu a mãe e o irmão anos antes, foi expulso de casa ainda adolescente pelo padrasto que sempre o detestou e, agora, retorna a Cedar Cove para acompanhar os últimos dias desse mesmo padrasto que odeia. Ele vem a pedido de uma vizinha, Michelle, uma moça que ele conheceu na adolescência e que agora cuida do seu padrasto Richard. Disposto a apenas cumprir uma obrigação e de quebra recuperar alguns objetos e lembranças da mãe, Josh retorna à cidade, mas encontra muito mais do que procurava.
Sinceramente, eu achei quase toda a história de Josh forçada. Primeiro, as brigas com o padrasto e as interações e descrições de Josh quanto aos seus sentimentos para com ele eram extremamente repetitivas. Nós somos assim na vida real, remoemos sentimentos e acontecimentos muitas vezes repetitivamente, porém no livro isso era apenas cansativo. É claro que temos também uma interação e um certo romance entre Josh e Michelle, e essa relação também me pareceu forçada e superficial. Primeiro, Josh descobriu-se logo de cara atraído por ela, apesar de na adolescência nem notá-la – porque ela era gordinha e desengonçada, mas na cabeça dele era por causa do irmão Dylan, pelo qual ele acreditava que Michelle estivesse apaixonada. Para mim ficou mais parecendo mesmo que Josh não reparava em Michelle porque ela era gordinha e magicamente seu sentimento de pena se transformou em amor quando descobriu que ela emagreceu e se tornou atraente – tão conveniente ela ter emagrecido! Foi muito rápido que Josh começou a gostar de Michelle, o que só piorou a coisa para mim na leitura. Josh é um personagem raso, mal construído, que não encanta; ele não me envolveu e, portanto, seu romance e sua história, inconsistentes na minha visão, não me tocaram. Em alguns momentos eu sentia que deveria me emocionar, porém não conseguia. Tudo em sua história dava a sensação estranha de ser distante e mecânico. Aqui, Debbie Macomber não conseguiu me tocar.
Então temos a história de Abby, a outra hóspede da pousada, que segundo ela mesma diz é uma mulher de seus 30 e poucos anos e madura, porém mais me pareceu uma adolescente dramática. Ela precisou retornar a Cedar Cove devido ao casamento do irmão. Muitos anos antes ela deixou a cidade após uma tragédia pessoal: sua amiga Angela faleceu em um acidente de carro e era Abby quem estava dirigindo. A moça se culpou desde então e, segundo ela, toda a cidade de Cedar Cove também. Por esse motivo ela relutou tanto em voltar. Porém, em seu retorno ela descobre que estava enganada e muitas pessoas sentiam sua falta. A história de Abby estava indo muito bem e me envolvendo até uma cena que deveria ser emocionante, porém se tornou tragicamente cômica: um acontecimento sobrenatural muito mal explicado que foi determinante, ao menos para mim, para que toda essa parte da história fosse por água abaixo. No final, eu também já estava pouco interessada no desfecho de Abby, assim como não me interessava mais por Josh – aliás, no final há uma cena dele que é puro clichê.
Devo dizer que as únicas partes que salvaram o livro para mim foram mesmo as de Jo Marie. É reconfortante acompanhar seu processo de amadurecimento quanto aos sentimentos de perda e luto. Enquanto a narrativa de Abby e Josh é realizada em terceira pessoa, as partes de Jo Marie são em primeira pessoa, o que de certa maneira aproxima mais o leitor da personagem, na minha opinião.
Aliás, apesar desse livro não ter me emocionado como deveria, ele despertou outra sensação: fome. A todo momento aparece comida no livro e, assim como Jo Marie, minha vontade foi de ir para a cozinha preparar doces. Portanto, se está de dieta, passe longe desse livro!
Quanto ao cuidado editorial com o título, gostei bastante de cada página ser decorada com rosas, o símbolo da pousada, bem como o papel e a fonte utilizados, que tornaram a leitura bastante confortável. A capa é bonitinha, nada excepcional, apenas condizente com a história.
Nesse livro, Cedar Cove é praticamente um personagem. A todo momento se fala da cidade, do que ela representa, dos seus locais e atrações, da vizinhança e de seus habitantes. O problema é que tudo parecia perfeito demais, todas as pessoas eram agradáveis e sorridentes em excesso, o que estranhamente me dava a impressão de que a cidade escondia algo podre. Mas não, parece que tudo realmente é muito bonito em Cedar Cove – o que é bem chato e monótono. As piores coisas que podem acontecer são um faz-tudo mau humorado – ao qual foi dado uma grande importância nos primeiros capítulos e depois ele praticamente desaparece do livro – e um homem misterioso e vigarista que aparece na pousada para pedir dinheiro a Jo Marie: no final, essa trama também foi completamente abandonada pela autora.
Talvez essas tramas não amarradas sejam apenas pontas soltas para os próximos livros. Sim, porque A Pousada Rose Harbor é uma série. Infelizmente eu só percebi isso quase no final. Por que tudo tem que ser série agora?! Enfim, há uma conexão no final que claramente nos mostra que haverá uma continuação, apesar de o livro ter um final satisfatório - satisfatório, eu disse, não um bom final. O próximo livro será lançado em agosto nos EUA e o título será Rose Harbor in Bloom. Com sinceridade, não estou ansiosa para lê-lo. Provavelmente ele seguirá a mesma linha do primeiro: pessoas com problemas pessoais vão se hospedar na pousada e curar suas feridas durante a estadia. É disso, afinal, que o livro se trata. Não foi uma premissa que me agradou quando finalmente ficou claro que o livro era sobre isso e, aliada à escrita superficial de Debbie Macomber, a história não foi capaz de me encantar ou muito menos emocionar. Entre ler o próximo livro e ler o e-book When First They Met, um sidestory sobre Jo Marie e seu falecido marido Paul, acho que fico com ler o e-book. Espero sinceramente que a Novo Conceito o lance por aqui, da mesma maneira que fez com o e-book Destrua-me, da série Estilhaça-me. Fiquei muito mais interessada nessa história à parte da série do que na série em si da pousada.