Rodrigo 06/12/2020Eu ainda estou ponderando o quanto gostei desse livro. Então, não se enganem, essa resenha pode ser confusa e contraditória em alguns momentos.
Eu fui conquistado pelo livro logo no começo, eu amo qualquer livro que envolve a "colonização" de marte e todas as consequências para a Terra e para as pessoas envolvidas. É um tema muito interessante e autores, como Ray Bradbury e Philip K Dick, já criaram histórias incríveis desse tema. O livro é muito bem escrito (em grande parte dele) e é muito visível toda a influência da época, tudo o que a humanidade sonhava que ir a Lua traria um avanço tão grande para a humanidade e para a corrida espacial. E eu gosto bastante de toda essa pegada filosófica e contemplativa que o livro tem, característica bem comum aos livros de Scifi, de certa forma, mas nesse livro é muito inerente à sua proposta e à história do livro.
Só um parênteses antes de começar a falar sobre a história em si: a edição desse livro é impecável! Eu sou apaixonado pela Aleph e acredito que é a editora brasileira que mais se importa com cada história, cada aspecto do livro, cada linha, cada detalhe da publicação. A capa é incrível e representa muito o que o livro é, toda essa loucura psicodélica colorida e cheia de nuances do livro. Os extras são incríveis, descrevem e informam bastante sobre os detalhes do livro, alguns aspectos da história, a publicação e o autor. Única coisa que não faz sentido nenhum para mim é o código de barras na lombada, não sei se é o conceito mas tudo bem, apenas um detalhe.
Bom, o livro conta a história de Valentine Michael Smith que é um humano criado em Marte e que foi trazido à Terra. É possível dividir o livro em três partes: 1) o Mike aprendendo sobre a humanidade e descobrindo quem é, feliz por ser marciano e por ter a oportunidade de conhecer a Terra; 2) o Mike tentando entender de verdade a humanidade e o que ele estava fazendo ali, tentando se encaixar, conhecer o mundo; 3) o Mike pós grokar a plenitude de sua messionidade.
As primeiras partes do livro são incríveis! Os personagens são incríveis e muito bem desenvolvidos. Toda a trama política é muito bem escrita e desenvolvida também. Até que o Mike entende finalmente a humanidade e aí para mim começa a ser tão tedioso e parece que os personagens se perderam. A Jill do começo não é a mesma do final. Os únicos personagens que continuam a mesma coisa é o Mike e o Jubal. Das três partes que eu dividi o livro, as duas primeiras são sensacionais e eu li muito rápido, devorei a história e apaixonei pelos personagens. A terceira parte é incrivelmente tediosa e parece que os personagens se perderam. E não é que eu detestei a terceira parte, eu gostei bastante mas, de certa forma, não gostei da forma que as coisas se deram.
Tudo bem que essa terceira parte é realmente o que fez o livro se tornar um clássico da contracultura hippie e se tornou um símbolo tão grande para o Scifi e a literatura americana. E foi aí que comecei a ver diversas características do livro tais como: a inferioridade da mulher em toda a obra (principalmente quando uma das personagens fala: "nove entre dez casos de estupro, a culpa é da mulher", é mole?!) e a liberdade sexual que só valoriza o homem heterossexual. Bom, o livro é isso: um livro de sua época que representa tudo o que sua época defendia e procurava.
Fico imaginando como o livro seria se não tivessem deixado toda a questão marciana como plano de fundo. Talvez teria sido um dos meus livros favoritos.
Alguns destaques:
- É genial como Heinlein retratou os marcianos, figuras que estavam tão a frente da humanidade e do tempo e que, de certa forma, mostrou que a humanidade pode chegar a isso.
- A trama política é incrível.
- No começo, eu realmente achei que a Jill seria uma das melhores personagens femininas de Scifi. Me enganei. Heinlein cag*u no desenvolvimento dela.