spoiler visualizarDaniel Moraes (Irmãos Livreiros) 04/09/2014
Um livro delicado
Quando visitei a Bienal do Livro SP 2014, em dia muito tumultuado, passei no stand da Editora Paralela e me apaixonei pela capa do livro que está linda, diga-se de passagem. A história então, é espetacular! A propósito, li este belíssimo livro em um único dia! (pasmem!!!)
O livro é narrado em primeira pessoa e conta a dramática história de Judith que desde pequenina foi doutrinada pelo pai a seguir os ensinamentos evangélicos e por sua vez, ela segue como foi lhe instituído, independente do local onde ela frequenta; mais precisamente, na escola onde estuda, onde o livro tem uma pegada muito forte em relação ao comportamento dela diante dos demais.
Apesar de toda esta crença e seguindo fielmente aos princípios ditados pelo pai, Judith leva sua criação e seu conceito para a escola, como toda criança que tem sua educação determinada pelo pai (pois perdera a mãe quando ainda era bebê). Também faz jus aos princípios que aprende na igreja e principalmente antes de dormir, quando seu pai lê trechos da bíblia para ela.
Mas todo esse conceito é forçado a ser deixado por um menino da mesma idade que ela, 10 anos, o Neil Lewis que a faz sofrer por ser diferente das demais garotas, por utilizar botas e calças de lã; sempre de pulôver e com um comportamento arredio e cauteloso; nunca discutia; sempre pacífica.
Logo no início da história, a autora Grace McCleen, relata um drama que para Judith será o possível fim de sua vida e com este pensamento ela começa a planejar situações para tentar se salvar, estando longe do atentado Neil Lewis. Entre algumas das tentativas, acredita que poderia fazer nevar, pois não teria aula e poderia se livrar de Neil. No dia seguinte, realmente neva sobre sua cidade impedindo de sair de sua casa para ir à escola. Para ela, foi um milagre e acredita que realmente ela tem poderes e faz nevar, conforme diz o próprio nome do livro " A Menina Que Fazia Nevar".
Um outro aspecto interessante que é mostrado com muito esmero no livro é que Judith coleta pequenos objetos, tais como botões, alfinetes, fios de lã, papeis variados, clips, entre outros objetos achados por ela no percurso que faz à escola e no retorno dela, onde em seu quarto, cria a gigante maquete da Terra Gloriosa, onde acredita que um dia irá para lá encontrar sua mãe, quando chegar o Armagedom. A descrição da construção dessa maquete em minha opinião, é o mais interessante e delicado ponto do livro, pois a autora descreve como uma menina de dez anos, porém, com pensamento adulto.
Apesar de ter uma pegada muito forte ligada ao evangelismo, acredito que este livro não é evangélico ou destinado à pessoas cristãs; é perceptível a veia do cristianismo relatado por McCleen, porém, para quem tem mente aberta, conseguirá absorver esta história dramática e delicada da pequena Judith que vive na fantasia de uma realidade sofrida.
Finalizo dizendo que "A Menina Que Fazia Nevar" é composto por uma delicadeza de uma menina em conflito com seus demônios, narrado de uma forma, nunca lido antes por mim. Em suma, Fascinante e encantador são as palavras que encontro para descrever sobre este livro.
site: http://irmaoslivreiros.blogspot.com.br/2014/09/a-menina-que-fazia-nevar.html