Hannah Green 30/05/2024
Parece que nada mudou desde então.
Primeiramente eu esperava que a relação entre a ocupação russa na república Tcheca e o romance dos personagens fosse ser mais metafórica. Não sei exatamente porque esperei isso, talvez o marketing do livro, não sei, mas eu esperava metáforas mais maciças, e apesar de denso e de ser constantemente vendido como sendo a simbiose perfeita do acontecimentos do mundo influenciado os acontecimentos da vida, essa influencia é prática e sólida demais para ser considerada poética. Não estou dizendo que é ruim, longe disso, realmente é um livro genial, e a poética por trás da dualidade de peso é Leveza, é certeira. A parte mais triste do livro foi perceber que todas as teorias empregadas sobre o cenário político, permanecem as mesmas, ler esse livro foi como abrir uma carta de uma cápsula de tempo e pensar "oxi, isso foi de 40 anos atrás ou de 2 dias?". O livro me encantou, me emocionou, e me revoltou de diversas maneiras, mas o que mais me chamou atenção foi a precisão da descrição de uma personagem feminina por um escritor homem, coisa bem difícil de acontecer na literatura, por diversos momentos eu esquecia estar lendo um autor masculino, e isso é sem palavras, significa que Kundera conseguiu escrever sua história por um ponto de vista universalmente compreensivo, sem se deixar contaminar pelo esperado de X ou Y, a preciosidade de sua escrita é realmente estarrecedora, e assim como Virginia Woolf, sua narração flui de um personagem ao outro sem que a gente sequer perceba ter acontecido a mudança de perspectiva, isso é de uma mestria sem tamanho.
Contudo, apesar de tudo isso, é um livro difícil de ler, me senti lendo O Morro dos Ventos Uivantes, que eu amei, mas a cada frase sentia minha alma sendo sugada, e senti que ela foi completamente arrancada de mim com o fechar do livro.