anaartnic 27/02/2023
Um romance anticomunista conceitual
Eu quis ler por conta da Leïla Slimani, que o cita em algumas de suas obras, o que me deixou um tanto curiosa. Adentrei na insustentável leveza do ser com alguma expectativas, de sentir esta leveza sobre mim, afinal, é uma obra aclamada.
Não se pode negar a profundidade filosófica da obra, que abrange desde os pré-socráticos até Nietzsche, analisando por uma via filosófica os fatos históricos que envolvem a trama e que, consequentemente, impactam a trajetória dos personagens.
Em meio a invasão russa à República Tcheca, quatro personagens são apresentados ao leitor, dentro de todos eles há uma busca pela leveza (ou pelo peso). As histórias deste quatro abordam aspectos de liberdade, amor, erotismo, escolhas e, claro, a leveza ou o peso de seu ser.
Eu vi neste livro uma reificação clara, principalmente do papel da mulher e da maneira que as atitudes de Tomas (um do protagonistas) são justificadas pela tal busca pelo seu ser. São questões bem problemáticas, que foram provavelmente inseridas de maneira intencional pelo autor, mas sem qualquer reflexão crítica a respeito, basicamente um "ele é o que é, e não há nada de errado nisso pois ele está buscando o seu ser".
A obra é nitidamente anticomunista e isso leva a pesadas críticas ao regime político vigente no contexto da obra, porém o autor extrapola um pouco, o capítulo que fala da morte do filho do Stalin é insuportável. E alguns detalhes sublimes como o filho que Tomas não quis mais conviver (ele considerou um fardo a menos), se reaproxima dele para pedir ajuda na posição ao regime, e o narrador se lembra: a mãe do menino era uma comunista ortodoxa, por isso ele quis se reaproximar do pai e também, por isso, Tomas não a suportava.
Não posso dizer que nada dessa obra se aproveite, o começo e as partes finais do livro possuem recortes muito válidos de um sentimento coletivo da época. A crítica ao kitsch é feita de forma didática, porém com uma arbitrariedade cega. Em alguns momentos, me pareceu um George Orwell que leu um pouco mais de filosofia existencialista.
Não é uma leitura óbvia, deve ser lida aos poucos e, claro, uma repassada no contexto histórico é essencial antes de ler. Recomendo, mas acho que esse livro não é pra mim.