Alcinéia_az 22/01/2016
Étienne de La Boétie, no Discurso sobre a Servidão Voluntária, mostra que na modernidade as coisas que possuímos acabam nos possuindo e só nos resta à ilusão da escolha.
“Acaba por ser natural tudo o que o homem obtém pela educação e pelo costume; mas da essência da sua natureza é o que lhe vem da mesma natureza pura e não alterada; assim, a primeira razão da servidão voluntária é o hábito: provam-no os cavalos sem rabo que no princípio mordem o freio e acabam depois por brincar com ele; e os mesmos que se rebelavam contra a sela acabam por aceitar a albarda e usam muito ufanos e vaidosos os arreios que os apertam.”
O autor aponta que a única forma de fugir dessa sujeição é pelo estudo e pelo saber, pois estudando bem as coisas passadas, podemos conhecer melhor o futuro e o presente, não se limitando a olhar só para o que têm adiante dos pés, olhamos também para trás e para frente.
Desta forma, ainda que a liberdade se perdesse por completo e desaparecesse para sempre do mundo, não deixaríamos de imaginá-la, de senti-la e saborear; a servidão, por muito bem disfarçada que aparecesse, nunca seria coisa boa. Tendo a consciência de que os livros e a doutrina, mais do que qualquer outra coisa, dão aos homens a capacidade de se conhecerem e de odiarem a tirania.