Summy 27/01/2014
Surpresa
Engraçado como uma história pode ser bombástica desde o começo... Antes de mais nada, nunca li nenhum romance que se passasse no espaço e pensei que a leitura não fluiria tão bem, devido a termos técnicos, como um romance comum. E me enganei.
Primeiro irei explicar que este é o primeiro volume da trilogia conhecida como Glow - Em Busca de um novo mundo da autora Amy Kathleen Ryan trazido para nós pela Editora Geração Jovem. Quando vi na capa "Mais fascinante trilogia que Jogos Vorazes", pensei "Nunca ouvi falar da autora até então, mas havia muitos comentários positivos de meios de comunicação internacionais. Vamos lá!".
Segundo, irei mencionar a parte física. O livro é lindo, tem detalhes com divisões das partes feitas de forma marcante, a capa contém relevo de glitter para dar o "brilho" estelar. A única coisa que me incomodou é o cheiro do papel, que tem cheiro de jornal e eu tenho gastura em mexer com jornal. Mas alguns amigos me chamam de louca e que não tem nada disso, então tudo bem.
A história de passa num futuro onde o planeta Terra deixou de existir e os humanos foram lançados em duas naves espaciais para encontrar um novo planeta para viver. O foco da história é na jovem Waverly que tem 15 anos, vive na nave Empyrean e já começa sentir a pressão da sociedade de sua nave para ter filhos. Ela tem um namorado chamado Kieran que tem tudo para ser bem sucedido na nave e deseja se casar com ela. Porém a nave vizinha, New Horizon, planeja um ataque aos tripulantes, que não conseguem entender o motivo.
Esse seria uma sinopse onde não há spoilers além do já divulgado em sinopses oficiais.
A partir daqui será possível entender alguns pontos que considerei mais importantes:
• O ataque não é algo sem sentido, já que os tripulantes da New Horizon não conseguiram reproduzir e sua população está envelhecendo sem descendentes. Detalhes dos motivos para isso não acontecer vale a surpresa na leitura.
• Apesar de sabermos que a Terra não existe, o motivo de deixar de existir não é mencionado claramente, mas subentende-se que a destruição do planeta ocorreu, como sempre, por culpa dos seres humanos em poluir, super aquecer, destruir os recursos naturais. Achei que valia a pena explorar um pouco mais os motivos, mas ainda teremos mais dois livros, quem sabe há mais informações.
• Os humanos da nave foram selecionados previamente, assim como acontece em diversos universos distópicos, onde se fazem sorteios, triagens, seleção por capacidade física, intelectual, habilidades naturais, entre outros. Por isso, não há milhões de pessoas em cada uma das naves e há a necessidade de reprodução a cada geração até a chegada no novo planeta.
• Há um ecossistema montado na nave, onde fica fácil tentar imaginar a dimensão física das naves, onde há sessões, andares, compartimentos, entre outros. Lugares para manter plantas, gerando alimentos, mini-florestas, para gerar oxigênio.
Explicando as partes que considerei mais importantes, posso dizer que, antes das 60 primeiras páginas já estava numa tensão gigantesca.
A história é dividida em blocos: alternando a visão de Waverly e a visão de Kieran.
Essa alternância é sempre motivo de angústia em qualquer livro, mas quando há ação e reação em todos os eventos parece se tornar mais difícil parar a leitura com blocos (Dan Brown é mestre nisso.)
A ação na história começa logo no início e eu passei a não saber quais são as pessoas confiáveis entre cada uma das naves. Há um momento em que ambas entram em contato e acontecem alguns eventos importantíssimos, onde cada um dos principais personagens, Waverly e Kieran, precisam tomar decisões que não só poderão mudar suas vidas, como também de todos os integrantes das naves, incluindo as crianças.
"- Às vezes, em nossas vidas, temos de enfrentar uma grande perda, cujo vazio se eleva e não nos deixa escolhas além de suportá-la. O que mais podemos fazer? Olhar para fora dos nossos portais vazios, para a imensidão do Universo, para os pontinhos das estrelas que parecem eternas, e nos sentirmos tão pequenos, tão sozinhos. Insignificantes. Como poderíamos fazer algo realmente importante em tão imenso cosmo?" pg. 166
"- Nós podemos sim! Acreditar que nossas vidas importam é a essência da fé. Não somos tão grandes, nem tão brilhantes, nem tão eternos quanto as estrelas, mas carregamos pela galáxia a mensagem de amor da humanidade. Somos os primeiros. Somos os criadores de mundos. O que nos nutre é a esperança. Como o junco tenro tremendo ao vento, haveremos de nos erguer até um novo Sol." pgs. 166-167
Levando em consideração que essas crianças não conheceram a Terra, apenas fotos e histórias, e nunca tiveram contato com pessoas da outra nave, tudo passa a mudar quando esse encontro acontece.
"- Gostaria que você me descrevesse a sensação do sol batendo no rosto. " pg. 206
O modelo de sociedade escolhido por cada nave é diferente, assim como seus valores e crenças.
"- A humanidade não haverá de regredir às trevas. A jornada é longa, a missão é difícil, alguns dizem que é até impossível, mas haveremos de prevalecer. Chegará um tempo em que as crianças se reunirão em torno do fogo e olharão para estrelas desconhecidas por nós. Elas haverão de pensar nos sacrifícios que fizemos. E nossos nomes estarão nas letras das cançoes que elas entoarão." pg. 167
Algumas questões como a decisão por casar, ter filhos cedo ou não, crer em Deus (nenhuma religião específica é mencionada), confiar nas decisões de adultos, lidar com mortes (sim, elas acontecem!), decidir o melhor para todos, não apenas o melhor para si são questões que aparecem em cada parágrafo.
"Condições difíceis não trazem à tona o melhor das pessoas." pg. 207
Em algumas horas você irá odiar alguns personagens, em outras irá amar. Até o final não foi possível descobrir quem realmente era confiável ou não.
A abordagem das relações entre pais e filhos, amigos, casais são complexas como em qualquer lugar seria, ainda mais quando se trata de adolescentes e crianças tentando entender como as coisas funcionam.
"Nessas ocasiões o pai sempre o fazia se sentir melhor. Ele sempre sabia o que seu pai diria: A verdade é poderosa, Kieran. Simplesmente conte a verdade da melhor forma que puder e as pessoas enxergarão o seu lado." pg. 192
"Meu pai sempre dizia que não existem ateus em trincheiras." pg. 305
Na reta final da história, muitas reviravoltas acontecem, deixando o leitor (EUZINHA) de queixo caído. Alguns eventos ocorridos me pegaram de surpresa e a sensação "Cadê o próximo livro, pelo amor de Deus?!" é muito forte.
"A continuação da vida originada na Terra dependia dessa missão, que não poderia falhar. Com certeza aquela era a vontade de Deus." pg. 306
Eu, particularmente, acredito que poucas coisas foram deixadas sem explicação, mas precisamos ver se nos próximos livros esses pontos serão esclarecidos ou não. Eu acredito que sim, já que as pontas soltas existentes são decorrentes de fatos iniciados e não concluídos.
Em vários momentos, quis largar o que tinha pra fazer só pra terminar a leitura. O ritmo é na melhor descrição pulsante, você se sente parte daquele universo: corre, come, sofre, dorme, sente junto com cada personagem.
Ótimo presente conhecer uma distopia espacial, da qual fiquei com medo de ser chata, técnica, e não aconteceu nada disso. Ela se tornou uma leitura agradável, cheia de surpresas e muita ação.