Dankar 30/09/2015O verão acabouEm resumo, este romance de Cony faz uso de uma casa de praia recém-construída que se enche constantemente de areia e sal para representar as ruínas de um relacionamento. Isso já seria o suficiente para render uma boa história, mas a coisa vai ainda além disso.
Poderia também ser um mero romance de costumes (como bem pontua Otto Maria Carpeaux no prefácio), estendendo-se sobre questões como o adultério, a hipocrisia e o egoísmo, e, de fato, tudo isso está presente no livro, mas apenas enquanto materialização em ação de uma série de questões metafísicas e, portanto, mais densas. Cony é um verdadeiro existencialista, nos moldes mais sartrianos possíveis. A matéria com que ele lapida esta pequena obra é o desespero, o desencanto, o desinteresse. É a matéria de um autor que entende que as grandes obras literárias são feitas a partir de temas universais, a partir da humanidade da própria humanidade.
Antes, o Verão é uma dessas grandes obras. Sua profundidade psicológica e seu lirismo cortante situam o romance entre os trabalhos de gente como Lúcio Cardoso, Cornélio Pena e Raduan Nassar, autores de verdadeiras tragédias, que constituem uma grande parte do que nossa literatura tem de melhor. Além disso, possui uma estrutura narrativa maravilhosa, com alterações precisas entre a primeira e a terceira pessoa e um uso extremamente inteligente do tempo verbal no presente. É uma pena que algo tão bom assim não seja muito reconhecido.