Alma Infantil

Alma Infantil Francisca Julia




Resenhas - Alma Infantil


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O Garrancho 11/02/2023

Para não esquecer Francisca Júlia
Li outro dia, graças a uma inconfidência feita pelo nosso querido Ziraldo, que o poeta Carlos Drummond de Andrade tinha medo de ser esquecido, de que, com o passar do tempo, não fosse mais lido. Quase 36 anos após sua morte, no entanto, não creio que sua obra seja tão breve preterida.

Na era da hiperconectividade, quando gigantes da tecnologia colaboram, de certa forma, para a democratização do acesso à transmissão de saberes e de informações, muitos influenciadores digitais de conteúdo literário, na busca por engajamento, se dedicam a divulgar, em geral, os livros mais vendidos, os “hypados”. Entregam assim o famoso “mais do mesmo”.

Talvez, esse tempo um tanto danoso pautado pelos algoritmos oculte ou suplante obras e autores de outras décadas, de outros séculos.

Contra isso, não desisto de tentar – por meio das minhas redes sociais – dar lume novo a nomes da nossa literatura cujos textos, nestes nossos dias, encontrem poucos leitores.
Francisca Júlia (1871-1920) merece ser relembrada, assim como sua obra. Alinhada ao parnasianismo e também ao simbolismo, a poetisa alcançou reconhecimento de público e de crítica com “Mármores” (1895) e “Esfinges” (1903), chegando a ser elogiada por Olavo Bilac (1865-1918) e Vicente de Carvalho (1866-1924).

Muitos anos antes de Clarice Lispector participar do Congresso Internacional de Bruxaria, em Bogotá, na Colômbia, em 1908 Francisca causou um reboliço na imprensa quando deu uma palestra intitulada “A feitiçaria sob o ponto de vista científico”, em Itu, interior de São Paulo.

Desesperada por conta do falecimento do marido por tuberculose, seus poucos biógrafos asseguram que a escritora cometeu o suicídio durante o velório. Para ornar seu túmulo, Victor Brecheret, ícone do modernismo brasileiro, lhe fez uma escultura paga pelo então governador de São Paulo Washington Luís – a “Musa Impassível” (hoje parte do acervo da Pinacoteca de São Paulo). O mausoléu erguido em memória à escritora foi idealizado por Oswald de Andrade, que se fez presente no funeral.

E há tanto mais a dizer sobre Francisca Júlia, principalmente sobre sua obra. “Alma Infantil” foi lançada em 1912 e reúne poemas e cenas cômicas, tudo à moda parnasiana, rimadinhos, bem bonitinhos, destinados a leitores mirins e redigidos como paradidáticos, “versos para uso das escolas”.

Em “O Relógio”, ó que fofura de quadra: “Na intimidade de todo lar/ Se as alegrias são verdadeiras,/ As horas correm, voam ligeiras/ Para a ventura não demorar”.

Espero que logo, logo novos leitores possam descobrir o que de melhor nos escreveu a talentosa Francisca Júlia. Assim, seu legado será, com certeza, revivido.

site: https://www.youtube.com/@OGarrancho
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