spoiler visualizarCaio194 04/10/2023
Uma boa história de ficção científica sobre utopias, meios e fins, e sonhos. Quando encontramos George Orr, ele é encaminhado a um psiquiatria e "oneirologista" para lidar com um uso problemático de estimulantes para evitar o sono. Orr teme dormir, porque têm "sonhos efetivos" que mudam a realidade à sua volta. O que inicialmente parece um delírio se mostra verdadeiro, e seu psiquiatra irá explorar esses sonhos para tentar moldar o mundo aos seus desejos. Haber, o psiquiatra, implanta sugestões para realizar mudanças grandes no mundo e resolver o que considera como os grandes problemas humanos - superpopulação, guerras incessantes, racismo. Mas as soluções que se apresentam nos sonhos de Orr sempre são problemáticas: para resolver a superpopulação, uma praga elimina 6 bilhões de pessoas; para resolver o racismo, todas as pessoas se tornam cinzas... parte resistência inconsciente do próprio Orr, e parte meditação sobre a relação entre fins e meios nas utopias e nas revoluções. Não poderia ser diferente, e representa claramente as ideias anarquistas de LeGuin: meios autoritários não podem levar a fins não-autoritários, assim como meios genocidas não podem levar a fins não-genocidas. O texto também tem uma excelente reflexão sobre o sonho privatizado (Haber parece não reconhecer o mundo a seu redor como algo além de sua potência individual) e o sonho coletivo: Orr, como os alienígenas que irão aparecer depois na história, sonha sempre o sonho do outro, o sonho com um outro.